segunda-feira, 25 de abril de 2011

Alexandre, a história

Conheça a trajetória do conquistador e sua importância para a formação da cultura ocidental
Um homem que viveu há mais de 2.300 anos e ainda desperta grande interesse. Um personagem controverso, do qual há opiniões das mais diversas, desde aqueles que o consideram um herói até os que o qualificam como figura desumana. Um conquistador que construiu em pouco mais de uma década um dos maiores impérios da História da humanidade. Este é Alexandre, O Grande - filho do rei da Macedônia, Felipe II -, que ao assumir o trono de seu país iniciou uma campanha de expansão de seus limites territoriais nunca antes vista pelo homem.
Ele não chegou a completar 33 anos de idade, mas deixou um legado considerado de grande relevância para a formação do que hoje é conhecida como cultura ocidental. Alexandre - considerado um gênio militar à frente de seus exércitos - extendeu os domínios da Macedônia (à época, umas das sociedades que compunham a comunidade helenística, na Grécia antiga) desde o Mar Egeu, na Europa, até o norte da Índia (Ásia). Para chegar até lá, passou pelo Egito (África), Turquia, Afeganistão e Paquistão (Ásia).
Mas, afinal, qual é a real relevância da figura de Alexandre para a História da humanidade?
"Alexandre é um nome importante para a definição mesmo do que é o Ocidente. É ele que vai alargar os limites do que até então poderia ser reconhecido como sendo uma possível fronteira do que entendemos hoje por Ocidente, que era a Grécia clássica das cidades-estados, no Mediterrâneo Ocidental", afirma o professor José Otávio Nogueira Guimarães, do Departamento de História do Instituto de Ciências Humanas da UnB (Universidade de Brasília).
"Ele era realmente uma figura diferenciada, e creio que nenhum líder na História da humanidade tenha uma trajetória tão fulgurante e conseguido em tão pouco tempo realizar tanta coisa", diz, por seu lado, o professor de História Antiga José Luciano Cerqueira, coordenador do curso de graduação em História da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
Alexandre surge na História em um momento de crise da cultura helenística, com a decadência das chamadas cidades-estados da Grécia Antiga após a Guerra do Peloponeso, que envolveu as duas mais destacadas cidades de então: Atenas e Esparta.
"A época de Alexandre, que é o século IV a.C. - ele nasceu em 356 a.C., Felipe, o pai dele, assumiu o trono da Macedônia em 359 a.C.-, é marcante. Ele surge num momento em que o mundo grego está passando por uma crise muito grande. O modelo grego político por excelência era o da polis, ou cidade-estado. Mas uma guerra entre as duas principais polis gregas - que eram Atenas e Esparta, e essa foi a Guerra do Peloponeso, que durou 27 anos - desgastou o modelo ao extremo. Foi uma guerra que implicou em traições de parte a parte, saques... quase todos os valores gregos foram abandonados. Então, essa guerra desgastou tanto o modelo de cidade aristocrática, representado por Esparta, quanto o modelo de cidade democrática, representado por Atenas", explica Cerqueira.
Transição
Desta forma, Alexandre se insere em um momento de transição, e sua atuação será determinante para a formatação do período que vem a seguir de sua curta trajetória de líder que morre muito jovem.
"O que o Alexandre vai fazer com suas conquistas - que em um primeiro momento se estendem sobretudo em direção do Oriente - é colocar essa Grécia clássica em contato com um mundo até então desconhecido e que vai permitir justamente esse processo de alargamento da noção de Ocidente no sentido de que esse Ocidente vai ser vitorioso militarmente, pelo menos com Alexandre, nesse processo de expansão das fronteiras do mundo helênico. Então, acho que Alexandre é, em grande parte, um dos responsáveis pelo fato de que o legado cultural grego tenha permanecido e tenha se consolidado durante esse momento", analisa o professor José Guimarães.
A expansão promovida por Alexandre e seus exércitos em pouco mais de dez anos permitiu a propagação da cultura helenística para pontos jamais antes imaginados pelos homens de então. "Alexandre acelerou a helenização", diz Cerqueira.
Outra marca desse grande conquistador era sua característica visionária. Ele enxergava mais longe e via oportunidades e perpectivas em lugares que, posteriormente, viriam a ser comprovados como estratégicos.
É o caso das chamadas Alexandrias - estima-se que teriam sido fundadas 32 cidades com este nome - que, mesmo depois da morte de Alexandre, viriam a demonstrar grande vigor e tornar-se pólos culturais e econômicos de importância considerável.
O principal exemplo foi a Alexandria erguida no Egito, ao largo do delta do rio Nilo. A cidade experimentou tal prosperidade que foi considerada uma das mais importantes da Antigüidade, com sua biblioteca, museu e o próprio Farol de Alexandria, uma das sete maravilhas da humanidade. Alguns estudiosos dizem que a cidade teria tido uma população de mais de 1 milhão de pessoas.
"O olho dele (Alexandre) para escolher cidades é um dos aspectos importantes para a civilização ocidental. Essas várias Alexandrias seriam grandes centros de difusão do pensamento grego, helênico", indica o professor Cerqueira.
Credita-se, também, a Alexandre a construção dos alicerces do que seria, posteriormente e por centenas de anos, o protótipo de modelo político hegemônico na humanidade. Primeiro, com o Império Romano, que sucedeu o seu império algumas centenas de anos após sua morte. A seguir, o modelo de compreensão entre os povos, que acabou sendo marco da atuação de Alexandre em relação a seus conquistados e que viria a se refletir na cultura cristã, surgida pouco mais de 300 anos depois.
"Vai ser uma coisa importante, porque esse é um momento em que a ordem das cidades-estados, que era extremamente rígida, institucional - quer dizer, se você nascesse cidadão você tinha direito a ter uma dignidade, a ser um animal racional, a participar do mundo político -, vai ser rompida. Passa-se a dizer em tom de igualdade: `você pode ser homem, mulher, escravo, desde que tenha contato com o ecúmeno, com a totalidade´. Isso está preparando o cristianismo: `somos todos irmãos desde que nascemos´. Isso é revolucionário para a época", avalia José Guimarães. "A inserção do homem no mundo se dá agora pela sua individualidade, porque ele é um particular na história, e não porque ele faz parte de uma casta, de uma rede."
"Os gregos eram extremamente auto-referentes. Eles achavam que grego era uma coisa e bárbaro era outra. E todo mundo que não fosse grego era bárbaro. Portanto, seria inferior. Alexandre já tinha uma posição diferente. Ao longo da campanha dele, que vai realizar contra o Império Persa, vai deixando transparecer cada vez mais - até afirmar isso claramente nos seus últimos anos de vida - que para ele não há distinção entre bárbaros e não-bárbaros. A distinção é entre os homens bons e maus. Esse vai ser um traço de Alexandre", acrescenta Cerqueira. "Eu acho que o que tem de interessante em Alexandre, que vai preparar o terreno para uma posterior civilização como a romana, é justamente esse processo de absorção e sincretismo, que é uma das características principais do chamado período helenístico histórico, no qual se dá a ação de Alexandre, de absorção de cultura, elementos artísticos, religiosos e até mesmo sócio-políticos", conclui.
Combatente tenaz
Parte da tradição historiográfica construída sobre a figura de Alexandre a partir do século XIX valoriza muito as habilidades militares do personagem. Ele é reconhecido como um grande líder e até mesmo estudiosos da área de Administração citam suas estratégias de logísticas como exemplares para o sucesso de sua campanha militar.
Para se ter uma idéia, ao invadirem a cidade de Tiro - uma ilha contígua à costa do Mediterrâneo que possuía um importante porto a serviço dos persas -, Alexandre e suas tropas promoveram um cerco de sete meses no qual construíram uma passagem entre o continente e a ilha para viabilizar o transporte de suas máquinas de guerra e das tropas.
"Alexandre se destaca mais por ver mais longe e agir com muita rapidez. Ele sempre combateu com um número de tropas muito inferior que os inimigos. Mas se movia com muita rapidez, aparecia onde não se esperava, desnorteava, surpreendia os inimigos nas suas movimentações", lembra Cerqueira.
Aventureiro
O que chama também a atenção da pessoas na personalidade de Alexandre é o seu espírito conquistador e aventureiro. Ele percorreu mais de 6.500 quilômetros com suas tropas, atingindo localidades jamais antes vistas por seus pares helênicos.
"Ele faz uma viagem de sete anos que parece mais expedição científica do que propriamente uma campanha militar. Alexandre chegou a correr riscos de vida várias vezes em combate, mas não havia nada assim tão importante em jogo. Ele pretendia continuar, e, se o tivesse feito, teria penetrado em território chinês. Mas seus soldados se revoltaram, terminaram não aguentando mais, e, no norte da Índia, na região que seria hoje o Paquistão, no rio Hindus, ele iniciou, a contragosto, a viagem de volta. Aí volta para a Babilônia (coração do antigo Império Persa conquistado por ele, onde hoje localiza-se o Iraque), onde vai viver muito pouco tempo. Dizem que tinha planos para conquistar a Arábia, para conquistar Roma, Cartago... ninguém sabe certamente quais eram os planos dele. Mas, aí, morreu com 33 anos incompletos", indica Cerqueira. "Foi tão longe com apenas 33 anos quanto ninguém antes tinha ido."
Figura controversa
Se por um lado as características de liderança, genialidade militar, reconhecimento de outras culturas e capacidade de mobilização são marcas valorizadas na figura de Alexandre, outros traços de sua personalidade e algumas de suas atitudes deixaram manchas em sua reputação.
Não é necessário ir muito longe para notar essas perspectivas negativas em relação à personalidade do conquistador. Uma canção de Zé Ramalho muito popular, Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor, composta sobre poema de Otacílio Batista, cita em determinado trecho: "Alexandre, figura desumana, fundador da famosa Alexandria...". Também em algumas localidades por onde Alexandre passou na Ásia e Oriente Médio, é mantida a tradição de que o conquistador seria o próprio diabo.
Esses predicados negativos foram adquiridos diante de atitudes violentas e radicais. Um exemplo foi a destruição da cidade de Persépolis, na Pérsia, decidida por vingança contra uma invasão persa à Grécia 150 anos antes, ou então o extermínio da população masculina de Tebas (Grécia) após uma guarnição militar macedônica ter sido dizimada. As mulheres e crianças sobreviventes deste ataque foram vendidas no mercado de escravos.
"Alexandre é uma das figuras mais polêmicas do universo historiográfico do século XIX para cá. Foram construídas várias personagens diferentes em torno dos testemunhos que chegaram até nós. Em torno de Alexandre, há todo um ciclo lendário", explica o professor José Guimarães.
"Ao lado do gesto bárbaro de quem mandou incendiar Persépolis, ele mandou prestar grandes homenagens ao rei (Dario, da Pérsia, grande oponente de Alexandre em sua busca pela conquista da Pérsia, que veio a ser assassinado por seus próprios aliados) e assumir o trono persa. Depois disso, iria se casar com uma das filhas de Dario e fez questão que o assassino fosse encontrado, punido e executado", pondera, por sua parte, Cerqueira.
Sexualidade
O filme Alexandre, do diretor Oliver Stone, chegou aos cinemas provocando grande polêmica, principalmente em razão de como é tratada a sexualidade de Alexandre, O Grande. Na superprodução, o conquistador mantém um relacionamento muito íntimo com seu grande amigo de infância, Hefestion, além de serem sugeridas outras experiências homosexuais, tanto de Alexandre quanto de companheiros seus.
Mas o que há de verdade nessa abordagem sobre a eventual homossexualidade do personagem?
"O que eu acho importante lembrar é que existe uma historicidade dessas fronteiras. O que é o que a gente chama hoje de másculo, não no sentido biológico, mas no sentido cultural, mudou. E na cultura grega clássica, havia um grande espaço para práticas homossexuais, que faziam parte do processo de iniciação guerreira de jovens. Jovens se iniciavam tendo relações sexuais com outros jovens soldados, jovens oblitas, ou jovens cavalheiros, o que era visto como algo completamente separado da vida conjugal e sexual que eles tinham nos seus casamentos. Não era algo que entrava em conflito ou em contraste com isso. Na cultura helênica, em geral, existiam certas práticas homossexuais, sobretudo pelo sexo masculino, que eram aceitas socialmente e institucionalmente. O cristianismo, bem mais tarde, é que vai moralizar um pouco e tentar excluir isso", lembra José Guimarães.
Em busca do mito
Indícios históricos apontam um grande fascínio de Alexandre pelos mitos gregos, sendo Aquiles, o grande herói grego da Guerra de Tróia, um de seus modelos. Seria Alexandre tão vidrado na possibilidade de tornar-se um mito e ter seu nome lembrado por toda a história, assim como seu ídolo Aquiles que trocou uma vida pacata e longeva pela morte na juventude mas tendo seu nome gravado para a eternidade na História dos homens? A História parece dizer que sim.
A poderosa figura de Alexandre III pertence ao reduzido grupo de homens que definiram o curso da história humana. Seu gênio militar se impôs sobre o império persa e assentou as bases da frutífera civilização helenística. Alexandre nasceu em 356 a.C. no palácio de Pella, Macedônia.
Filho do rei Filipe II, cedo se destacou como um rapaz inteligente e intrépido.
Quando o príncipe tinha 13 anos, seu pai incumbiu um dos homens mais sábios de sua época, Aristóteles, de educá-lo.
Alexandre aprendeu as mais variadas disciplinas: retórica, política, ciências físicas e naturais, medicina e geografia, ao mesmo tempo em que se interessava pela história grega e pela obra de autores como Eurípides e Píndaro.
Também se distinguiu nas artes marciais e na doma de cavalos, de tal forma que em poucas horas dominou o Bucéfalo, que viria a ser sua inseparável montaria.
Alexandre, o Grande
Na arte da guerra recebeu lições do pai, militar experiente e corajoso, que lhe transmitiu conhecimentos de estratégia e lhe inculcou dotes de comando. O enérgico e bravo jovem teve oportunidade de demonstrar seu valor aos 18 anos, quando, no comando de um esquadrão de cavalaria, venceu o batalhão sagrado de Tebas na batalha de Queronéia (338).
Depois do assassinato de seu pai em 336 a.C., Alexandre subiu ao trono da Macedônia e se dispôs a iniciar a expansão territorial do reino. Para tão árdua empreitada contou com poderoso e organizado exército, dividido em infantaria, cuja principal arma era a zarissa (lança de grande comprimento) e cavalaria, que constituía a base do ataque.
Imediatamente depois de subir ao trono, Alexandre enfrentou uma sublevação de várias cidades gregas e as incursões realizadas no norte de seu reino pelos trácios e ilírios, aos quais logo dominou. Em contrapartida, na Grécia, a cidade de Tebas opôs grande resistência, o que o obrigou a um violento ataque no qual morreram milhares de tebanos.
Pacificada a Grécia, o jovem rei elaborou seu mais ambicioso projeto: a conquista do império persa, a mais assombrosa campanha da antigüidade. Em 334 cruzou o Helesponto, e já na Ásia avançou até o rio Granico, onde enfrentou os persas pela primeira vez e alcançou importante vitória. Em Sardes, de posse de seu tesouro, Alexandre construi um templo a Zeus, no antigo palácio real do rei Creso. Zeus, o Deus padroeiro da Macedônia, encontra-se no reverso de quase toda cunhagem de prata, entronizado, segundo a famosa estátua de Fídias em Olímpia. O verso traz Hércules com seu capuz de máscara de leão. À medida que as fontes de fabricação marchavam para leste, o Zeus, esculpido por operários não gregos, trona-se crescentemente vago e o Hércules cada vez mais parecido com Alexandre. Prosseguiu triunfante em sua jornada, arrebatando cidades aos persas, até chegar a Górdia, onde cortou com a espada o "nó górdio", o que, segundo a lenda, lhe assegurava o domínio da Ásia.
Ante o irresistível avanço de Alexandre, o rei dos persas, Dario III, foi a seu encontro. Na batalha de Isso (333) consumou-se a derrota dos persas e começou o ocaso do grande império. Em seguida, o rei macedônio empreendeu a conquista da Síria (332) e entrou no Egito.
O sonho de Alexandre, de unir a cultura oriental à ocidental, começou a concretizar-se. O rei da Macedônia iniciou um processo pessoal de orientalização ao tomar contato com a civilização egípcia. Respeitou os antigos cultos aos deuses egípcios e até se apresentou no santuário do oásis de Siwa, onde foi reconhecido como filho de Amon e sucessor dos faraós. Em 332 fundou Alexandria, cidade que viria a converter-se num dos grandes focos culturais da antigüidade.
Depois de submeter a Mesopotâmia, Alexandre enfrentou novamente Dario na batalha de Gaugamela (331), cujo resultado determinou a queda definitiva da Pérsia em poder dos macedônios. Morto Dario (330), Alexandre o Grande foi proclamado rei da Ásia e sucessor da dinastia persa. Seu processo de orientalização se acentuou com o uso do selo de Dario, da tiara persa e do cerimonial teocrático da corte oriental. Além disso, no ano 328 contraiu matrimônio com Roxana, filha do sátrapa da Bactriana, com quem teve um filho de nome Alexandre IV. A tendência à fusão das duas culturas gerou desconfianças entre seus oficiais macedônios e gregos, que temiam um excessivo afastamento dos ideais helênicos por parte de seu monarca.
Nada impediu Alexandre de continuar seu projeto imperialista em direção ao Oriente. Em 327 dirigiu suas tropas para a longínqua Índia, país mítico para os gregos, no qual fundou colônias militares e cidades, entre as quais Nicéia e Bucéfala, esta erigida em memória de seu cavalo, às margens do rio Hidaspe. Ao chegar ao rio Bias, suas tropas, cansadas de tão dura empreitada, se negaram a continuar. Alexandre decidiu regressar à Pérsia, viagem penosa no qual foi ferido mortalmente e acometido de febres desconhecidas, que nenhum de seus médicos soube curar. Alexandre o Grande morreu na Babilônia, a 13 de junho de 323 a.C., com a idade de 33 anos. O império que com tanto esforço edificou, e que produziu a harmoniosa união do Oriente e do Ocidente, começou a desmoronar, já que só um homem com suas qualidades poderia governar território tão amplo e complexo, mescla de povos e culturas muito diferentes. Depois de sua morte prematura, a influência da civilização grega no Oriente e a orientalização do mundo grego alcançaram sua mais alta expressão no que se conhece sob o nome de Helenismo, fenômeno cultural, político e religioso que se prolongou até os tempos de Roma.

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