segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

História do Japão

História do Japão

 
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História do Japão
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A história do Japão (日本の歴史 ou 日本史 Nihon no rekishi / Nihonshi?) é a sequência de eventos ocorridos no arquipélago japonês, com o surgimento de fatos únicos influenciados pela sua natureza geográfica enquanto nação insular, assim como por eventos inculcados por influência do império Chinês que definiram a sua linguagem, a sua escrita e também a sua cultura política. Por outro lado, o Japão foi ainda influenciado pelo Ocidente, convertendo-se numa nação industrial. Assim, exerceu significante esfera de influência e expansão territorial na região do pacífico, contudo, após a Segunda Guerra Mundial estacou, mantendo-se uma nação industrial com laços relativos à tradição cultural do país.
Após a última idade do gelo, por volta de 12.000 AEC, o rico ecossistema do arquipélago japonês promoveu o desenvolvimento humano. O aparecimento das primeiras pessoas no Japão data do Paleolítico à cerca de 35.000 anos.[1] Entre 11.000 e 500 AEC estes povos desenvolveram um tipo de cerâmica designada de Jomon, sendo esta considerada a mais antiga do mundo. Posteriormente surgiu uma cultura conhecida como período Yayoi onde eram desenvolvidas ferramentas de metal, assim como o cultivo do arroz. Neste período existiram várias tribos, contudo o período mais predominante foi o Yamato.[2] Séculos depois, os governantes deste período reforçaram a posição do país, começando a disseminar-se por todo o arquipélago sob um sistema centralizado, debruçando-se sobre as inúmeras tribos existentes e alegando a sua ascendência divina. Entretanto, o governo central havia começado a assimilar os costumes próprios da Coreia e da China. Esta rápida imposição de tradições estrangeiras havia produzido uma certa tensão na sociedade japonesa e, no ano 794 a corte imperial fundou uma nova capital, Heian-kyō (actual Kyoto), dando origem a uma cultura completamente aperfeiçoada da aristocracia. Contudo, o sistema centralizado havia sido um fracasso nas províncias e iniciou-se um processo de privatização de terras, dando origem a um colapso na administração pública e a um rompimento na ordem pública. A aristocracia necessitava então da ajuda de guerreiros para proteger a suas propriedades, dando origem à classe samurai.
Em 1192 Minamoto no Yoritomo foi nomeado shogun (ditador militar) do Japão, pelo imperador, marcando o início do regime feudal shogunato (ou bakufu) do Kamakura, uma instituição militar permanente que governaria durante quase setecentos anos. A corte vê assim o seu poder transferir-se para os samurais sob tal regime militar. A eclosão da Guerra de Ōnin em 1467 provocou uma série de guerras que se estenderam por todo o Japão, um período que culminou em 1573, quando Oda Nobunaga começara com a unificação do país, que não havia terminado, devido a uma traição feita por um dos seus principais generais. Toyotomi Hideyoshi conseguiu vingar a morte do imperador, completando a unificação em 1590.[3] Com a sua morte, o país ficou novamente dividido em dois lados, os que apoiavam o seu filho Toyotomi Hideyori e os apoiavam um dos principais daimyo, Tokugawa Ieyasu. As duas vertentes enfrentaram-se então durante a Batalha de Sekigahara, da qual leyasu saiu vencedor, sendo oficialmente nomeado shōgun em 1603, instaurando-se o Shogunato Tokugawa, também conhecido como período Edo. O período Tokugawa foi caracterizado como pacífico, uma vez imposta uma nova política de relações internacionais designada de Sakoku, para evitar o contacto com o exterior. Este isolamento teve o seu término em 1853, quando Matthew Calbraith Perry forçou o Japão a abrir portas e assinar uma série de tratados com as grandes potências estrangeiras (tratados desiguais), causando desconforto entre alguns samurais que apoiavam o imperador a favor da retoma do seu papel na política.[4]
O último xogum de Tokugawa renunciou o cargo em 1868, dando início à era Meiji, em homenagem ao imperador Meiji que havia assumido o poder político. Iniciou-se então a modernização do país com evacuação do sistema feudal e dos samurais, a capital foi transferida para Tóquio. Iniciou-se um forte processo de ocidentalização e o Japão emergiu sobre o mundo, enquanto primeiro país asiático industrializado. O Japão encontrava-se num processo de expansionismo territorial sobre as nações vizinhas, originando conflitos com o Império Russo e o Império Chinês. Com a morte do imperador Meiji, o país havia-se convertido numa nação moderna, industrializada, com um governo central, assim como uma super potência na Ásia, rivalizando com o ocidente. Isto reflectiu-se numa explosão social devido ao crescimento económico e populacional, começando a conquistar terreno sobre o extremismo político, sendo que em 1930 a expansão militar acelerou e o país confrontou a China pela segunda vez. Após a eclosão da guerra na Europa, o Japão aproveitou-se da situação para ocupar outras áreas territoriais da Ásia. Durante o ano de 1941, as relações diplomáticas entre o Japão e os Estados Unidos complicaram-se quando o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt tinha interrompido o fornecimento de petróleo para o Japão e congelado todos os créditos japoneses nos Estados Unidos. A 7 de dezembro de 1941 o Japão ataca Pearl Harbor, levando o país para a Segunda Grande Guerra enquanto parte de um dos contendores da guerra, as "potências do Eixo". Apesar de uma série de vitórias iniciais, o Japão veio a sofrer derrotas frente aos aliados em batalhas como é exemplo a Batalha de Midway, alterando consequentemente os papéis na Guerra do Pacífico. Depois dos violentos Bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, o Japão apresentou a sua incondicional rendição. Isto impulsionou a ocupação das forças estadunidenses, as quais desmantelaram o exercito, libertaram as zonas ocupadas, o poder político do Imperador foi suprimido e o primeiro-ministro elegido pelo parlamento.
Em 1952 o Japão havia recuperado a sua soberania após a assinatura do Tratado de San Francisco, crescendo economicamente com a ajuda da comunidade internacional. Politicamente, o Partido Liberal Democrata do Japão, de tendência conservacionista, governou quase ininterruptamente no pós-guerra. Com o início da era Heisei, o Japão sofreu uma crise económica nos anos de 1990, enfrentando um declínio da taxa de natalidade e um rápido envelhecimento da população. Em princípios do século XXI, o Japão começa a reformar as práticas que regem a reforma da sociedade pós-guerra, assim como o governo e a economia, acrescentando uma significante mudança política em 2009 com a ascensão ao poder do Partido Democrático do Japão, mas esse poder voltando nas mãos do Partido Liberal Democrata no fim de 2012.
 

Índice

Periodização
 
A história do Japão divide-se em períodos importantes relativamente à produção artística assim como a relevantes acontecimentos políticos. A classificação geralmente varia dependendo dos critérios do autor, contudo muitos dos períodos podem ser subdivididos. A seguir é destacada uma classificação desenvolvida pelo arquiólogo Charles T. Keally.
Períodos históricos na arqueologia japonesa
Pré-historiaPaleolítico50/35.000 - 13/9.500 a. P.
Jomon13/9.500 - 2.500 a. P.
Yayoi500 AEC - 300
Kofun300 - 710
Antiga[5] (古代 Kodai?)Nara710 - 794
Heian794 - 1185
Medieval[5] (中世 Chūsei?)Kamakura1185 - 1392
Muromachi1392 - 1573
Início da era moderna ou pré-moderna[5] (近世 Kinsei?)Azuchi-Momoyama1573 - 1600
Edo1600 - 1868
Moderna[5] (近代 / 現代 Kindai / Gendai?)Meiji1868 - 1912
Taishō1912 - 1926
Shōwa1926 - 1989
Heisei1989 - presente

Eras do Japão

Segundo o imperador reinante, os nengō (年号?) (nome do ano da era japonesa) possuem uma outra divisão periódica na sua história. O sistema de classificação por eras (ou períodos), fundamenta-se no nome do respectivo imperador, ou seja, pelo ano correspondente ao seu mandato. Um exemplo, o ano 1948 corresponde ao ano Shōwa 23. Atualmente é utilizado tanto o calendário Gregoriano como o sistema de nengō,[6] embora este sistema seja raramente empregue pela literatura ocidental.

História

Pesquisas arqueológicas indicam que o Japão já era ocupado por seres humanos primitivos entre 35 e 100 mil anos atrás, durante o período paleolítico. Por volta de 8000 anos atrás foram fabricadas no Japão as cerâmicas consideradas as mais antigas do mundo. Acredita-se que esses primeiros povos foram os ancestrais dos japoneses e dos ainus. A partir de 300 AEC começa o período Yayoi, que é marcado pelas tecnologias de cultivo de arroz e irrigação, trazido por migrantes da Coreia, China e outras partes da Ásia. O Japão esteve conectado ao continente asiático, o que facilitou a migração para o arquipélago japonês.
Com o fim da última era glacial, surgiu a cultura Jomon por volta de 11 000 AEC, caracterizada por um estilo de vida semi-sedentário, com a subsistência baseada em coleta e caça.

Período paleolítico japonês

Japão durante a última glaciação (20.000 anos atrás). As zonas de cor laranja caracterizam a terra sobre o nível do mar as zonas em branco, as áreas com gelo permanentemente.
 
Por definição, o período paleolítico do Japão tinha terminado com o aparecimento das primeiras técnicas de cerâmica durante o final do último período glacial, entre 13 000 e 10 000 anos a.P.. A data aproximada do início do período paleolítico é motivo de alguma controvérsia, embora seja geralmente aceite que este período se defina entre 50/35 000 e 13/9 500 a.P.
O paleolítico superior, documentado aquando realizada a escavação no local de Iwajuku em 1949, e que veio a permitir várias conclusões a partir da década de 1960, é geralmente dividido pelas seguintes fases e tradições:
TradiçõesFasesDatas
Ferramentas de seixo talhadoFase Ia35.000 - 27.000 a.P.
Fase Ib27.000 - 23.000 a.P.
Fase Ic23.000 - 21.000 a.P.
Ferramentas talhadasFase IIa21.000 - 16.000 a.P.
Fase IIb16.000 - 13.000 a.P.
Trabalho microlíticoFase III13.000 - 12.000 a.P.
Ponta bifacial de projecteisFase IV12.500 - 11.000 a.P.
Início do Período Jomon13.000 - 9.500 a.P.
Existem poucas evidências que comprovem o estilo de vida das pessoas que viviam no Japão durante este período, assim como quanto à presença de seres humanos antes de 35 000 a.P., que continua a ser controversa. A transição entre este período e o período seguinte foi gradual, não tendo sido encontradas evidências de uma clara ruptura ou diferenciação entre as duas culturas.
Sabe-se que os primeiros habitantes eram caçadores-coletores vindos do continente. Embora trabalhassem a pedra, desconheciam a tecnologia cerâmica e não tinham práticas agrícolas que indicassem sedentarização.[7]

[editar] Período Jomon

A transição do paleolítico para o período Jomon (縄文時代 Jōmon-jidai?) tem início com a introdução da tecnologia cerâmica na região, a par de culturas agrícolas ainda incipientes. Durante os primeiros 10 mil anos deste período, surgido aproximadamente entre 11 000 e 500 AEC. a sobrevivência dos habitantes dependia principalmente da caça, pesca e colecta.[8]
O nome do período provém do tipo de cerâmica desenvolvida, que significa "marca de corda", um cunho distinto deixado pelas cordas na argila ainda crua, que se formavam a partir de tiras de barro cozido a baixas temperaturas. De acordo com a sua datação, a cerâmica deste período é a mais antiga cerâmica conhecida do mundo.[9]
Em arqueologia, este período é dividido em seis sub-períodos do seguinte modo:
Sub-períodosDatas[10]
Jomon incipiente14 000 - 7 500 AEC
Jomon inicial7 500 - 4 000 AEC
Jomon médio3 000 - 2 000 AEC
Velho Jomon2 000 - 1 000 AEC
Jomon final1 000 - 300 AEC

Período Yayoi

A cultura do período Yayoi (弥生時代 Yayoi jidai?) caracteriza-se por ter sido a fase de implementação de métodos de cultivo de arroz e do trabalho em metal, apesar de em arqueologia ser classificado segundo a identificação de determinados artefactos, especialmente de diversos estilos de cerâmica. Considera-se que esta época está definida desde 300 AEC até 500 EC, dividindo-se, por sua vez em três sub-períodos:[11]

Os membros pertencentes à cultura Yayoi tinham características físicas distintas dos povos de Jomon, o que está na origem de três hipóteses quanto à origem dos Yayoi. Uma afirma que os povos do período Yayoi eram descendentes dos Jomon, tendo no entanto sofrido alterações fisiológicas devido a alterações na dieta e estilo de vida. Outra teoria afirma que eram imigrantes do continente (Coreia). A terceira hipótese sustenta que os povos de Yayoi eram descendentes do cruzamento entre os Jomon e os imigrante provenientes do continente.[12]
As aplicações da tecnologia metalúrgica diversificaram-se, sendo comum o fabrico de ferramentas agrícolas, espadas de bronze, armas de ferro e espelhos para o uso em rituais religiosos. Com a divisão do trabalho surgiu também uma profunda estratificação da sociedade, fazendo com se estabelecessem classes dominantes e respectivos feudatários, dando origem à divisão territorial em caciques.[12]
Durante o final deste período existia já um número muito significativo de caciques, sendo um dos mais importantes Yamatai-koku, o qual estabeleceu bases para a nação emergente do período seguinte. As Crónicas de Wei descrevem a existência desse território, uma nação conhecida na China como Wa (primeiro registo escrito do nome do Japão), e liderada por uma mulher chamada Himeko, provavelmente a Imperatriz-consorte Jingo.[11]

Período Kofun

O Daisenryō-Kofun em Osaka, é o maior túmulo deste tipo e a sua construção data do século V AC.
O período Kofun (período Kofun (古墳時代 Kofun jidai?), adquiriu o mesmo nome de kofun (古墳? lit. «túmulo antigo"), mamoas funerárias onde os membros da classe aristocrática eram enterrados juntamente com as suas armas, armaduras e escudos de bronze.[13] A área destes túmulos varia de tamanho, chegando a dimensões semelhantes às pirâmides do Egito, por forma a refletir a magnitude de poder dos governantes.[12]
Durante este período, o Japão teve um contacto significativo com a China e, sobretudo, com a Coreia.[14] Em 400, a infantaria do exército acudiu em socorro o reino de Baekje,[15] no sudeste da península da Coreia,[14] tendo contudo sofrido uma significativa derrota nas mãos da cavalaria do reino de Koguryo proveniente do norte da península.[15]
O período Kofun marca o fim da pré-história. Uma vez que não existem registos japoneses, a história deste período depende de fontes externas (inicialmente de documentos coreanos e posteriormente de chineses), assim como dos manuscritos do início do período Nara, por volta do século XVII. Apesar de não existir registos de origem chinesa que mencionem o Japão entre os anos 266 e 413, as escrituras coreanas do século IV proporcionam uma vasta informação das actividades do reino de Wa na península coreana. Além disso, os registos chineses do século V demonstram uma relação muito próxima entre a China e o emergente governo Yamato (localizado na atual província de Nara). Entre 413 e 502, os Cinco Reis de Wa, nome que menciona os cinco monarcas do Japão, envia continuamente emissários ao território chinês.[14]
O período Kofun data entre 250/300 e 538/552, iniciado com a construção do primeiro Kofun, e finalizado pela data em que se considera que o budismo foi introduzido no Japão. No entanto, vários historiadores e arqueólogos, como Charles T. Keally, prorrogam o prazo até 710, de forma a que os períodos Asuka e Hakuhō sejam considerados sub-períodos do Kofun.[14]
Segundo Keally, a cronologia do período Kofun seria a seguinte:
CronologiaDatas
Inicio KofunFinais do século III - século IV
Kofun médioFinais do século IV - século V
Kofun tardíoAsuka (552-646)Hakuhō (646-710)século VI - século VII
O governo da corte de Yamato focou-se num Kimi (? «rei»), contudo a partir do século V o mandatário era chamado Tennō (天皇? «imperador»). O termo Tennō (天皇? «imperador»), o qual é empregue atualmente, foi utilizado a partir do mandato do Imperador Tenmu.[14]


 

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