Período Meiji
Com a queda do shogunato, o imperador foi erigido enquanto símbolo de unidade nacional e deu início a uma série de reformas significativamente radicais, sendo que a primeira consistiu na promulgação da Carta de juramento (五箇条の御誓文 Gokajō no Goseimon?) de 1868, que teve como objetivo de elevar a mural e obter apoio financeiro para o novo governo.[131]
Guerra Boshin
Embora Yoshinobu tivesse aceitado as reivindicações dos seguidores do imperador, a 18 de janeiro de 1868, declarou que não aceitaria os termos da restauração imperial. A 24 de janeiro, decidiu lançar um ataque em Kyoto, contra os exércitos de Satsuma e Chōshū, enquanto que em Edo, este se encontrava sob pressão e ataques da parte dos rebeldes contra o shogunato. Os samurais que permaneciam leais ao governo shogun acabaram por se revoltarem na guerra civil conhecida como Guerra Boshin (戊辰戦争 Boshin sensō?).
A 27 de janeiro do mesmo ano, teve lugar a batalha de Toba-Fushimi (鳥羽・伏見の戦い Toba-Fushimi no Tatakai?), em que as forças pró-imperiais do Chōshū, Satsuma e de Tosa liderada por Komatsu Akihito, conseguiram vencer o exército do shogunato. O principal motivo que motivou a derrota encontrasse no facto de várias facções que apoiavam o shogunato mudaram de posição, atendendo ao apoio oficial do imperador sobre Satsuma e Chōshū [132] e à sofisticada artilharia que possuíam como canhões Armstrong, fuzis e algumas metralhadoras Gatling, enquanto que as tropas do governo shogun estavam equipados apenas com katanas samurai.
Yoshinobu foi forçado a aposentar-se de Edo, enquanto que as tropas imperiais dirigidas por Saigō Takamori se aproximavam lentamente da cidade conseguindo inclusivamente ocupá-la em maio.[133] A resistência do shogunato em Edo cedeu rapidamente após a batalha de Ueno a 4 de julho, quando as forças imperiais tomaram a cidade nesse mesmo mês e Yoshinobu foi condenado à prisão domiciliar no templo Kan'ei-ji. Após vários anos de ter sido despojado da sua terra, o shogun Tokugawa foi finalmente libertado.[134][135] A 3 de setembro, depois de alterado o nome de Edo para Tóquio, o imperador Meiji transferiu a capital de Kioto para Tóquio apoderando-se do castelo Edo enquanto novo palácio imperial.[134] Porém, alguns partidos mostraram-se relutantes em se transigirem a tal mudança, como foi exemplo a coligação Ōuetsu Reppan Dōmei.[136] No entanto, a baixa sofisticação das tropas da aliança determinou o progressivo avanço do exército imperial que saiu vitorioso. Em outubro de 1868, deu-se a batalha de Aizu, fazendo com que parte do exército do shogunato abandonasse o confronto por mar em direção a Hokkaido. Após um mês de cerco, a 6 de novembro, Aizu rendeu-se.
Ao chegar à ilha de Hokkaido, Enomoto reorganizou o exército e estabeleceu um governo independente, proclamando a República de Ezo (蝦夷共和国 Ezo Kyōwakoku?) em 25 de dezembro de 1868 uma vez eleito presidente. Enomoto havia tentado, sem sucesso, obter reconhecimento internacional, contudo nem mesmo a aprovação do novo governo imperial japonês em ceder Hokkaido ao shogunato Tokugawa foi capaz de lograr.[137] As forças navais japonesas chegaram a Hokkaido em março de 1869 com cerca de 7 mil homens das tropas imperiais que abeiraram sobre a ilha, na batalha naval da Miyako Bay. Estes foram tomando paulatinamente várias posições estratégicas e destruíram as defesas da República de Ezo durante a batalha de Hakodate. A 17 de março de 1869, depois de perder inúmeros homens e quase todos os seus navios, Ezo aceitou a rendição.[138]
Com o fim da guerra Boshin, o governo imperial passou a controlar todo o Japão, sem que qualquer força rival interna se contrapusesse. Com a guerra garantida, foram abolidos privilégios da classe samurai. Os nacionalistas, que inicialmente apoiavam o imperador assim como a filosofia de sonnō jōi sentir-se fortemente traídos sobre tal derrogação.[139]
Governo Meiji
O novo governo assegurou às potências estrangeiras que os tratados assinados durante o shogunato Tokugawa seriam atendidos pelas leis internacionais. A capital havia sido transferida de Kyoto para Edo, a qual foi renomeada de Tokio, e o sistema feudal foi abolido em 1871, dando origem ao sistema de perfeituras, para além de ter sido legalizada a propriedade de terras. O novo governo enfatizou também a prática do xintoísmo, a religião que teve apoio estatal.[131]
Apesar de vários protestos, os líderes do governo continuaram com uma forte modernização do país: foram colocados cabos telegráficos nas principais cidades, construídos vias-férreas, estaleiros, fábricas de munição e plantas têxteis.[131] Todas estas medidas de modernização conduziram Japão a se tornar no primeiro país industrializado da Ásia.[140] Com a preocupação sobre a segurança nacional, inumeros esforços para amodernar o exército foram desenvolvidos, ou seja, realizaram-se estudos sobre os sistemas de armas estrangeiras; foram contratados conselheiros de outros países para o exército; os cadetes foram enviados para países da Europa e Estados Unidos; foi estabelecido um exército permanente com uma grande quantidade de reservas; e o serviço militar tornou-se obrigatório.[131]
Rebelião Satsuma
Saigō Takamori, um dos líderes mais antigos do governo Meiji, lutava contra a corrupção política no país. Após várias altercações com o governo, renunciou do cargo e aposentou-se ao domínio Satsuma. Fundou academias onde todos os estudantes adquiriam formação e treinos de guerra práticos. Esta notícia anunciada por Saigō em Tóquio foram encaradas com grande inquietação por parte da sociedade.
Em 12 de setembro de 1877, Saigō reuniu-se com os seus proprietários de terras Kirino Toshiaki e Shinohara Kunimoto e anunciou uma investida em marcha até Tóquio para conversações com o governo Meiji. A 14 de fevereiro, as tropas de Saigō chegaram a Kumamoto, onde atacaram o castelo da própria província. A 19 de fevereiro sucederam-se os primeiros disparos por parte dos defensores, no momento em que as unidades de Satsuma tentavam forçar a entrada no castelo.[141] Em 22 de fevereiro, a armada principal de Satsuma acercou e atacou a fortaleza. Uma batalha que se prolongou durante a noite até que as forças imperiais acabadas de chegar se retiraram. Não conseguindo apossar-se do castelo mesmo depois de infrutíferos ataques, o exército de Satsuma escavou um fosso em volta da fortaleza e posteriormente incendiaram-na. Durante o cerco, muitos dos ex-samurais desertaram para o lado de Saigō. Enquanto isso, a 9 de março, Saigō, Kirino e Shinohara foram despojados dos seus cargos e títulos políticos de Tóquio.
Sob o comando do general Kuroda Kiyotaka e com a ajuda de Yamakawa Hiroshi, o principal contingente do exército imperial chegou a Kumamoto para auxílio dos ocupantes do castelo em 12 de abril de 1877. Isto resultou numa supremacia numérica por parte dos defensores, em oposição à significante desvantagem a que as tropas de Satsuma se condicionaram, forçando-os a fugir. Depois de uma constante perseguição, Saigō e os restantes samurais foram impingidos a regressar a Kagoshima, dando origem ao confronto final, a Batalha de Shiroyama. As tropas do exército imperial japonês, comandadas pelo general Yamagata Aritomo, e os fuzileiros navais, comandados pelo almirante Kawamura Sumiyoshi excederam as forças de Saigō com evidente superioridade numérica de sessenta soldados para um. O exército imperial precisou de sete dias para finalizar a construção e desenvolvimento dos sistemas de barragens e muros que serviram de obstáculo para impedirem que as tropas de Satsuma escapassem. Cinco navios de guerra uniram-se ao poder da artilharia de Yamagata enfrentando o posicionamento dos rebeldes e reduzindo o seu número. Após Saigō rejeitar uma carta de solicitação à própria rendição, a 24 de setembro de 1877 Yamagata ordenou um ataque directo contra o exército de Saigō. Durante seis horas consecutivas, apenas quarenta rebeldes se encontravam com vida, entre os quais Saigō já perto da morte. Os seus seguidores argumentaram que um deles, Beppu Shinsuke,[142] se encarregou ao papel de kaishakunin, ajudando Saigō a cometer seppuku antes de ser capturado.[143] Depois da morte de Saigō, Beppu e o último samurai ergueram as suas espadas e dirigiram-se pela costa abaixo, até serem abatido pelos disparos das metralhadoras Gatling. Depois de todas estas mortes, a rebelião deu-se por terminada.
Criação de um governo representativo
A maior conquista institucional após a rebelião de Satsuma, teve lugar quando intenções de criar um governo representativo por parte dos cidadãos que haviam sido relegados do governo se insurgiu.[144] Uma das principais figuras deste movimento foi Itagaki Taisuke, importantes líder da Província de Tosa. Em 1875, este fundou o partido político Aikokusha, que, em 1878, viria a pressionar fortemente o governo do país. Em 1881, Itagaki formou o Jiyūtō (自由党 Partido Liberal?) o qual possuía alguns dos principais ideais da política francesa. No ano seguinte Ōkuma Shigenobu fundou o Rikken Kaishintō (立憲改進党 Partido Constitucional Progressista?) que revogou pelo estabelecimento de um sistema constitucional democrático tal como o sistema inglês. Em resposta, os membros do governo formaram nesse mesmo ano, em 1882, o Rikken Teiseitō (立憲帝政党 Partido Constitucional do Regime Imperial?). Após o surgimento destes partidos, muitos outros movimentos emergiram, alguns até de uma forma violenta. Finalmente, em 1889 a Constituição do Império do Japão, também conhecida como (Constituição Meiji), contemplou uma dieta imperial composta pela Câmara dos Deputados eleitos popularmente, acompanhada pela Câmara dos Pares esta que possuía um número de representantes extremamente baixo, composta pela nobreza num sistema designado de kazoku.[144] As primeiras eleições foram realizadas em 1890, ao serem eleitos 300 membros da Câmara dos Representantes do Japão.[144]
Expansionismo
Guerra Sino-Japonesa
Durante o século XIX, a península da Coreia era uma forte atracção à qual o Japão não foi indiferente, considerando a sua posição geográfica que poderia eventualmente proporcionar um ponto estratégico para a defesa do arquipélago japonês. Um breve conflito com a Coreia havia sido resolvido temporariamente após assinado o Tratado de Kanghwa em 1876, através do qual os japoneses passaram a ter acesso aos portos da Coreia. Em 1894, foi precipitada uma crise política quando um líder coreano pró Japonês foi morto em Xangai. A situação piorou quando o exército chinês abateu a rebelião Tonghak no próprio solo coreano, apesar de que na Convenção Tianjin, tanto a China como o Japão havia consentido a retirada dos seus respectivos exércitos da península coreana, afastando o apoio aos diversos partidos contendores do país. O Japão respondeu rapidamente à invasão chinesa, saindo vitorioso naquela que é conhecida como a Primeira Guerra Sino-Japonesa, que terminou em 1895, aquando realizado o chamado cessar-fogo.[145]
O conflito terminou com a assinatura do Tratado de Shimonoseki, pela qual foi reconhecida a independência da Coreia, deixando de ser, portanto, considerada enquanto estado tributário. Com isto, foram exigidos 200 milhões de taéis de indemnização à Coreia; o comércio aos japoneses pelo rio Yangtze foi consentido, o direito dos investidores japoneses em negociar com a China havia sido permitido; tal como aceite a tomada de relações de Taiwan, das ilhas Pescadores e da península de Liaodong com o Japão. Contudo, pela oposição da Rússia, Alemanha e França, Liaodong foi replicada.[145]
Guerra Russo-Japonesa
As ambições imperiais tanto da Rússia, que estava interessada em manter o controle da China, como do Japão, que ambicionava o controle da Coreia, levou a que ambos os países se defrontassem em 1904.
Em 1902, o Reino Unido assinou, juntamente com o Japão, a Aliança Anglo-Japonesa através da qual os britânicos reconheceram os interesses japoneses pela Coreia. Contudo ambos se comprometeram em manter-se neutros sobre o caso de uma possível guerra com a Rússia, "a menos que outra potência se aliasse a estes, se assim possível encararem um papel mais ativo." Esta aliança presumiu uma evidente ameaça para os russos que procuraram um método mais conciliador do que haviam anteriormente empregue, prometendo inclusivamente o retiro das tropas em 1903.[145]
Depois do Japão interpor uma queixa devido ao incumprimento russo sobre a retirada das suas tropas, a Rússia propôs dividir paralelamente a Coreia, considerando o controle do sul por parte do Japão, sendo que a zona norte se encontrava independente. Porém a Rússia assegurou que Manchúria estaria fora da esfera de influência japonesa.[145]
A guerra eclodiu em 8 de fevereiro de 1904, quando a Marinha Imperial Japonesa lançou um ataque surpresa à frota russa ancorada em Port Arthur. Após um série de vitórias japonesas tanto em terra como navais, (Batalha de Tsushima em maio de 1905), foi levada a cabo uma conferência de paz com os Estados Unidos enquanto mediador, onde a Rússia reconheceu a primazia dos interesses japoneses sobre a Coreia e Manchúria. Foram então cedidas ao Japão a locação de Dalian, os seus territórios adjacentes e a ferrovia, assim como a parte sul da ilha Sacalina, proporcionando direitos de pesca no mar de Ojotsk e no mar de Bering, depois de ambos os lados finalmente concordarem em evacuar a Manchúria.[145]
Esta guerra marcou o reconhecimento do Japão como potência imperialista pelas diversas nações da Europa, enquanto a derrota russa, por sua vez, patenteou a fraqueza do regime czarista e iniciou a sua queda concretizada na Revolução de 1917. Teve então início uma nova fase de expansão continental do Japão e em 1910, a Coreia foi anexada ao Império Japonês.[145]
Período Taishō
O período Meiji terminou com a morte do imperador em 1912 e com a subsequente ascensão ao trono do imperador Taishō. O novo imperador tinha vários problemas de saúde, homem débil tanto física como mentalmente, pelo que durante o seu mandato, este manteve-se longe de questões políticas. As decisões do governo recaíram sobre a Dieta e o seu secretariado. Consequência da sua deficiência, o seu filho Hirohito foi nomeado "Príncipe Regente", em 1921.
Primeira Guerra Mundial
Procurando fortalecer a sua esfera de influência na Ásia e suas participações territoriais no Pacífico, o Japão aproveitou-se da condição da Alemanha que se encontrava bastante ocupada com o cenário europeu, e em agosto de 1914 declarou guerra às Potências Centrais, junto com os seus aliados. A marinha japonesa, actuando praticamente independente do governo civil, ocupou as colónias alemãs da Micronésia, a província de Shandong na China e as ilhas Marianas, Ilhas Carolinas e ilhas Marshall, no Oceano Pacífico. Enquanto os seus aliados estavam concentrados na guerra, o Japão tentou consolidar a sua posição perante a China fazendo com que esta assinasse as «vinte e uma exigências» (対華二十一ヵ条要求 Taika Nijyūichikkajō Yōkyū?) impostas, que incluía a não concessão das ilhas ou costas a terceiros.[146]
Em 1917, os Estados Unidos entraram na guerra como aliados dos japoneses, apesar dos atritos causados pela situação na China assim como pela competição por adquirir influência no Pacífico. Num esforço de evitar a tensão existente, foi assinado em novembro do mesmo ano, o Acordo Lansing-Ishii (石井・ランシング協定 Ishii-Ranshingu Kyōtei?).
Recebendo o reconhecimento oficial como um dos "cinco grandes" países da nova ordem internacional, em 1919 o Japão encontrava-se ao lado das maiores potências militares e industriais do mundo durante a conferência de paz de Versalhes, Foi-lhe concedido um lugar permanente na Sociedade das Nações, com a transferência dos direitos tidos anteriormente pela Alemanha sobre Shandong. Finalmente num Mandato da Sociedade das Nações decidiu-se que as ilhas do Pacífico ao norte do Equador, outrora ocupado pela Alemanha estariam agora sob comando japonês (Mandato do Sul do Pacífico).[146]
Democracia
Desde a criação de um novo sistema político, com a Constituição Meiji, apenas membros da elite aristocrática possuíam acesso aos elevados cargos políticos, ao conselho de ministros, à Câmara dos Pares ou a conselheiros do imperador. Contudo, entre 1918 e 1932, a situação política do país alterou-se. Apesar dos partidos políticos serem liderados pela elite, os políticos viram-se obrigados a trabalhar em coordenação com a corte, a burocracia e os militares, causa da consciência agora mais democrática das massas que se começaram a unir, sobretudo estudantes que se tornaram politicamente mais ativos. Em consequência, os partidos desempenharam um papel de liderança sobre a política nacional.[147] Outra importante alteração teve lugar em 1925, quando se estabeleceu o sufrágio universal para os homens que aumentou a base eleitoral em mais de 12 milhões de pessoas.[147]
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