A literatura racionalista cristã está presente na milenar Biblioteca de Alexandria, cidade mais importante da República Árabe do Egito depois da capital, Cairo, desde sua reinauguração, em 2002.
A presença do Racionalismo Cristão na nova Biblioteca de Alexandria foi por ela entendida, na pessoa do seu diretor, como "um importante símbolo da cooperação internacional, com vista ao enriquecimento da Biblioteca".
A Biblioteca de Alexandria, fundada por Ptolomeu I, Sóter, no século III a.C., integrava o Museu (à letra, Santuário das Musas) e a grande biblioteca (assim denominada para distingui-la da pequena biblioteca de Serápis, que lhe ficou anexa), mais tarde ampliada por Ptolomeu III, e deve o valor, o prestígio e o esplendor alcançados, principalmente, aos dois primeiros Ptolomeus.
O complexo – museu e biblioteca – formava uma espécie de universidade, a primeira do mundo, e constituía a maior maravilha da bela Alexandria.
A Biblioteca de Alexandria foi o cérebro e a glória – o primeiro verdadeiro instituto de investigação da história do mundo – da mais importante cidade do planeta. A Biblioteca foi propositadamente destruída, quase na totalidade, no século V da nossa era, quando do assassinato de Hepátia, no ano 415, depois de um período de extraordinário vigor cultural e científico.
O que resta dessa biblioteca lendária é quase nada: uma cave subterrânea do Scrapeu (uma sua sucursal mais popular), o anexo da biblioteca, um antigo templo, posteriormente consagrado à sabedoria, e umas prateleiras bolorentas, talvez os únicos restos materiais (físicos).
Do conteúdo cultural e científico da gloriosa biblioteca não resta um único manuscrito. Em alguns casos apenas se conhecem os aliciantes títulos das obras então destruídas. Na sua maioria, não se conhecem os títulos das obras nem os autores. Sabe-se que, das 123 peças de teatro, de Sófocles, existentes na biblioteca só sete sobreviveram. Uma delas é o Rei Édipo. Igual destruição sofreram as obras de Ésquilo e Eurípedes.
A destruição da Biblioteca foi um crime inqualificável, uma perda incalculável e irreparável para a humanidade, foi como se a civilização inteira tivesse efetuado a sua autodestruição. Com ela extinguiu-se para sempre grande parte dos nossos laços com o passado, com a cultura elaborada, com as descobertas, as idéias fermentadas e as paixões vividas.
Demétrio de Falero (350-238 a.C.), filósofo e amigo de Ptolomeu I, visitou Alexandria em 295 a.C.. Influenciou, possivelmente, o projeto da biblioteca empreendido pelo rei, que não negligenciou os temas do espírito.
Os organizadores da grande biblioteca vasculharam todas as culturas e línguas do mundo. Foram enviadas delegações ao estrangeiro para comprar bibliotecas.
Calímaco (294-224 a.C.), gramático, e Apolônio de Rodes (295-215 a.C.), gramático e poeta épico, terão sido colaboradores iniciais na fundação da biblioteca e organização do fundo documental.
O Museu dispunha de salas de aula, instrumentos astronômicos, dez grandes laboratórios de investigação, cada um deles dedicado a um ramo diferente, fontes e colunatas, jardins botânicos, um jardim zoológico, salas de refeições onde, nos momentos de lazer, se fazia a discussão crítica das idéias.
O Museu dividia-se em departamentos especializados de matemática, astronomia, medicina (que incluía biologia) e literatura, mas não de filosofia. Torna-se, a partir de Ptolomeu II, um centro acadêmico de investigação de ponta.
Mantida pela generosidade dos reis, ali vivem sábios que encontram, no Museu, adequadas condições de trabalho e salário. Parece que nunca houve uma verdadeira biblioteca, no sentido habitual do termo, que não deixa de crescer. Continha 200 mil volumes, 400 mil, quando da morte de Ptolomeu II, que comprou um grande número de livros, especialmente de Aristóteles, e 700 mil, no tempo de César.
Os sábios da Biblioteca estudaram o cosmos. Cosmos com o significado de ordem universal, ordem que implica uma profunda ligação entre todas as coisas e exprime a admiração pelo modo intrincado e sutil como tudo se encontra ligado no universo.
Em torno da Biblioteca viveu uma comunidade de sábios e investigadores de matemática, física, literatura, medicina, astronomia, geografia, filosofia, biologia e engenharia. Ela foi o local onde a humanidade reuniu, pela primeira vez, séria e sistematicamente o conhecimento do mundo.
Naquela instituição onde a ciência e a sabedoria humana atingiram a maioridade de então, floresceu a genialidade que o Homem, na época, consentia e tinha disponível. Foi aqui que, no século III, a lei dos judeus, a Tora, foi, pela primeira vez, traduzida por 70 sábios que conheciam igualmente bem o hebraico e o grego. Era a Bíblia dos Setenta, como ficou conhecida.
O Antigo Testamento chegou até nós, diretamente da tradução grega feita na Biblioteca. Também aqui se desenvolveu a edição crítica. O grande tesouro da Biblioteca foram a inteligência, as atividades cultural e inteletual dos seus agentes, e uma excepcionalmente valorosa e valiosa coleção de manuscritos.
Carl Sagan, que temos vindo a acompanhar, considera ter sido Alexandria – na sua Biblioteca – o local onde os homens iniciaram, num sentido já nítido, a aventura inteletual que nos levou à costa do espaço.
A Biblioteca de Alexandria não se limitou a acumular conhecimentos adquiridos. Foi sempre encorajada a fazer – e nela fomentada – investigação científica.
Ponto de encontro de sábios que renasce das cinzas
Passaram pela Biblioteca de Alexandria muitos eruditos, filósofos e sábios, em torno dos quais se coligaram as primeiras gramáticas, os primeiros léxicos de palavras raras, se fundaram e fundamentaram os alicerces de muitas ciências.
A destruição proposital da Biblioteca de Alexandria foi um crime contra a humanidade, como se a civilização tivesse sido destruída às mãos de um poder sem amor e, portanto, sem moderação, sem ponderação e sem justiça.
As diversas versões, históricas ou não, sobre a destruição e incêndio do recheio da Biblioteca de Alexandria desfocam, variam e dispersam por diferentes personagens históricas o protagonismo na consumação do crime, mas não apagam a opressão e o medo de se poder aprender que foram suporte do ato. Entre outros nomes, são citados os de Júlio César (100 - 44 a.C.), Marco Antonio (83 - 30 a.C.), Cleópatra VII (69 - 30 a.C.), raínha do Egito, os imperadores romanos Aureliano (215 - 275) e Teodósio I (347 - 395), e o califa Omar I (581 - 644).
Certo é que Hepátia (370 - 415), a última grande figura da Biblioteca de Alexandria, foi brutalmente assassinada e queimada por fanáticos.
Hepátia, natural de Alexandria, desenvolveu uma extraordinária atividade, muito diversificada, distinguindo-se na matemática, na astronomia e na física, sendo ainda responsável pela escola de filosofia neoplatônica.
Não obstante, vivíamos uma época em que as mulheres tinham poucas oportunidades e eram tratadas como objetos. Hepátia moveu-se livremente sem se deixar inferiorizar em domínios tradicionalmente exclusivos dos homens.
Alexandria do tempo de Hepátia, já há muito sob o domínio romano, era uma cidade longe do seu esplendor. Vivia-se sob grande pressão. A escravidão tinha retirado à civilização a grande vitalidade que a caracterizava.
Hepátia foi vitima de poderosas forças sociais. Apesar do grande perigo que corria, continuou a ensinar e a publicar, até que, no ano de 415, a caminho do seu trabalho, foi atacada por um grupo de fanáticos. Os agressores arrastaram-na para fora do carro, arrancaram-lhe as roupas e, com conchas de abalone, separaram-lhe a carne dos ossos. Seus restos mortais foram queimados e seus trabalhos, destruídos.
Tudo o que restava da Biblioteca de Alexandria foi destruído e incendiado a seguir à morte de Hepátia. Do conteúdo científico da gloriosa Biblioteca não resta um único manuscrito. A glória da Biblioteca passou a ser, desde então, apenas uma recordação.
Com a destruição da Biblioteca, o vigor da ciência só é retomado, praticamente, a partir da Revolução Científica do século XVII.
Na Alexandria de hoje desapareceram praticamente os vestígios da antiga Alexandria. Há as marcas de uma cidade da civilização industrial.
A nova Biblioteca de Alexandria foi inaugurada a 16 de outubro de 2002, com o patrocínio do governo egípcio e da Unesco.
O teto do edifício tem a forma de um disco solar reclinado, com 160 metros de diâmetro, que parece estar pronto a iluminar o planeta.
A Biblioteca inclui, nomeadamente, quatro bibliotecas especializadas, vários laboratórios e faz parte de um conjunto arquitetônico onde existem um planetário, dois museus e uma sala de congressos e exposições.
A presença do Racionalismo Cristão na nova Biblioteca de Alexandria foi por ela entendida, na pessoa do seu diretor, como "um importante símbolo da cooperação internacional, com vista ao enriquecimento da Biblioteca".
A presença do Racionalismo Cristão na nova Biblioteca de Alexandria é um testemunho de amor e um novo farol, agora de Luz Astral Puríssima, uma continuadamente nova mensagem de universalidade e universalismo, de espiritualidade e de inteletualidade dirigida a toda a humanidade, para a sua evolução espiritual, simbolicamente entregue à instituição herdeira de um marco inolvidável da História do Homem neste planeta como seu mundo-escola.
Ponto de referência do conhecimento humano
Pela Biblioteca de Alexandria passaram homens como:
Eratóstenes, diretor da grande Biblioteca, era astrônomo, historiador, geógrafo, filósofo, poeta, crítico teatral e matemático. Determinou o perímetro da circunferência da Terra, descobrindo, assim, ser este um planeta pequeno. Trata-se de um cálculo notável pela sua pequeníssima percentagem de erro, embora efetuado há 2.200 anos. Traçou um mapa da Terra e defendeu que se podia atingir a Índia, navegando para Oeste, a partir de Espanha.
Entre os bibliotecários de Alexandria podemos citar Zenódoto de Éfeso, Apolômio de Rodes, Aristófenes de Bizâncio e Aristarco de Samatrácia.
Hiparco, astrônomo que fez o mapa das constelações e determinou o brilho das estrelas. Para ele as estrelas nascem, deslocando-se lentamente ao longo dos séculos, e acabam por morrer. Foi o primeiro a elaborar um catálogo indicativo da posição e magnitude das estrelas, de modo a poder-se detetar as mudanças.
Euclides, o brilhante sistematizador da geometria. Redigiu um tratado de geometria – Elementos – no qual, ainda hoje, aprendemos, passados 24 séculos. Esse trabalho contribui para despertar o interesse científico, nomeadamente, de Kepler, Newton e Einstein. Euclides terá tido oportunidade de dizer ao seu rei que se debatia com um problema matemático: "Não existe qualquer caminho real para a geometria".
Dionísio de Trácia, que definiu as diferentes partes do discurso. Fez pelo estudo da linguagem o que Euclides fez pelo da geometria.
Herófilo, fisiólogo, identificou, com segurança, o cérebro, em vez do coração, como o órgão por onde a inteligência se exprime.
Galeno, cujos estudos acerca da medicina e da anatomia dominaram a ciência, até ao Renascimento, sendo o seu nome inesquecível.
Herón de Alexandria, inventor das engrenagens de rodas dentadas, dos motores a vapor e autor de Autômata, o primeiro livro sobre autômatos.
Apolônio de Perga, o matemático que estabeleceu as formas das seções cónicas – elipse, parábola e hipérbole –, as formas, tal como agora sabemos, das órbitas dos planetas, cometas e estrelas. Dezessete séculos depois, os escritos de Apolônio sobre as seções cónicas foram usados por Kepler para compreender o movimento dos planetas.
Arquimedes, o maior génio da mecânica até à época de Leonardo da Vinci.
Ptolomeu, astrônomo e geógrafo que compilou muito do que hoje faz parte da pseudociência, a astrologia. O seu universo, centrado na Terra, dominou durante 1500 anos. Verificamos, pois, que a capacidade inteletual não evita erros graves.
Entre esses grandes homens não se pode esquecer uma grande mulher, Hepátia, matemática e astrônoma, a última luz da Biblioteca de Alexandria, cujo martírio até à morte está associado à destruição da Biblioteca, sete séculos depois da sua fundação.
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