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sábado, 12 de janeiro de 2013

Império Bizantino

Império Bizantino

 
Βασιλεία Ῥωμαίων
Vasilía Roméon
Imperium Romanum

Império Romano do Oriente
Império
Vexilloid of the Roman Empire.svg395 – 1453
FlagBrasão
Bandeira da Dinastia PaleólogosEmblema Imperial da dinastia Paleólogos
Localização de Império Bizantino
Império Bizantino (roxo) após as conquistas de Justiniano (verde).
ContinenteEurafrásia
RegiãoMediterrâneo
CapitalConstantinopla
41° {{{latm}}}' N 29° {{{longm}}}' E
Língua oficialLatim
Grego
ReligiãoReligião na Roma Antiga (até 391), Igreja Ortodoxa tolerada após a Édito de Milão
GovernoAutocracia
Imperador
• 395 – 408Arcádio
• 1449 – 1453Constantino XI
LegislaturaSenado Bizantino
Período históricoIdade Média
11 de maio de 395Fundação de Constantinopla
1054Grande Cisma do Oriente
1204Queda de Constantinopla pela Quarta Cruzada
1261Reconquista de Constantinopla
29 de maio de 1453Queda dos Muros de Constantinopla
População
• 565 est.26 000 000
• 780 est.7 000 000
• 1025 est.12 000 000
• 1143 est.10 000 000
• 1282 est.5 000 000
MoedaSolidus
Moedas bizantinas
Precedido por
Sucedido por
Vexilloid of the Roman Empire.svgImpério Romano
Império de TrebizondaBlank.png
Despotado da MoreiaBlank.png
Ducado de NaxosArmoiries Naxos.svg
Signoria de NegroponteBlank.png
Reino do ChipreArmoiries Chypre.svg
Ducado de AtenasBlank.png
Império OtomanoOttoman flag.svg
República de VenezaFlag of Most Serene Republic of Venice.svg
Marquesado de BodonitsaBlank.png
Ducado de AtenasBlank.png
Império LatinoBlason Empire Latin de Constantinople.svg
Reino de TessalónicaCoat of arms of Kingdom of Thessalonica.png
Principado de AcaiaArmoiries Achaïe.svg
Ducado de FilipópolisBlank.png
Reino Arménio da CilíciaArmoiries Héthoumides.svg
Império de NiceiaBlank.png
Reino da SicíliaFlag of the Kingdom of Sicily.svg
Reino LombardoBlank.png
¹ Veja população do Império Bizantino para gráficos mais detalhados.
O Império Bizantino (ou Bizâncio) foi o Império Romano do Oriente durante a Antiguidade Tardia e a Idade Média, centrado na sua capital, Constantinopla. Conhecido simplesmente como Império Romano (em grego: Βασιλεία Ῥωμαίων; transl.: Basileia Rhōmaiōn) ou Romania (Ῥωμανία, Rhōmanía).[1] por seus habitantes e vizinhos, o império foi a continuação direta do antigo Estado Romano.[2] É hoje distinguido da Roma Antiga na medida em que o império era orientado pela cultura grega, caracterizado por uma igreja cristã do Estado, e predominância da língua grega em contraste o latim.[3][4]
Como a distinção entre o Império Romano e o Império Bizantino é em grande parte uma convenção moderna, não é possível atribuir uma data de separação, embora um ponto importante é a transferência, em 324, pelo imperador Constantino I da capital da Nicomédia (na Anatólia) para Bizâncio no Bósforo, que tornou-se Constantinopla, "Cidade de Constantino" (alternativamente "Nova Roma").[5] O Império Romano foi finalmente dividido em 395, após a morte do imperador Teodósio I (379-395), sendo então esta data muito importante para o Império Bizantino, vista que tornou-se completamente separado do Ocidente.[6]
O império existiu por mais de mil anos, a partir do século IV até 1453. Durante a maior parte de sua existência, manteve-se como a mais poderosa força militar, econômica e cultural da Europa, apesar de contratempos e perdas territoriais, especialmente durante as guerras contra persas e árabes. O império recuperou-se durante a dinastia macedônica, crescendo novamente, acabando por tornar-se um poder proeminente no Mediterrâneo Oriental no século X, rivalizando com o Califado Fatímida.
Após 1071, contudo, muito da Ásia Menor, o coração do império, foi perdido para os turcos seljúcidas. A restauração Comnena recuperou parte do território perdido e restabeleceu a dominância do império no século XII, no entanto após a morte de Andrônico I Comneno e o fim da dinastia Comnena no final do século XII o império entrou em declínio novamente. O império recebeu um golpe fatal em 1204 no contexto da Quarta Cruzada, quando foi dissolvido e dividido em reinos latinos e gregos concorrentes.
Apesar da eventual reconquista de Constantinopla e do restabelecimento do império em 1261, sob os imperadores paleólogos, Bizâncio manteve-se diante de diversos estados vizinhos rivais por mais 200 anos. Contudo, este período foi o período mais culturalmente produtivo do império.[2]
Sucessivas guerras civis no século XIV minaram ainda mais a força do já enfraquecido império, e mais dos territórios restantes foram perdidos nas Guerras bizantino-otomanas, que culminaram na Queda de Constantinopla e na conquista dos territórios remanescentes pelo Império Otomano no século XV.

Identidade

Emblema do Império Bizantino, com a águia bicéfala
O Império Bizantino pode ser definido como um império formado por várias nações da Eurásia que emergiu como império cristão e terminou seus mais de mil anos de história em 1453 como um Estado grego ortodoxo: o império se tornou nação.
Nos séculos que seguiram às conquistas árabes e lombardas do século VII, esta natureza inter-cultural permaneceu ainda nos Bálcãs e Ásia Menor, onde residia uma poderosa e superior população grega. Sua religião, língua e cultura, eram essencialmente gregas, e não romanas, no entanto, para os bizantinos a palavra "grego" significava, de maneira injuriosa, "pagão". O nacionalismo se refletia na literatura, particularmente nas canções e em poemas como o Akritias, em que as populações fronteiriças (de combatentes chamados akritai) se orgulhavam de defender seu país contra os invasores.
A dissolução do estado bizantino no século XV não desfez imediatamente a sociedade bizantina. Durante a ocupação otomana, os gregos continuaram identificando-se como romanos e helenos, identificação que sobreviveu até princípios do século XX e que ainda persiste na Grécia moderna.

Nomenclatura

A designação do império como "bizantino" começou na Europa Ocidental em 1557, quando o historiador alemão Hieronymus Wolf publicou sua obra Corpus Historiæ Byzantinæ, uma coleção de fontes bizantinas. "Bizantino" em si vem de "Bizâncio" (uma cidade grega, fundada por colonos de Mégara em 667 a.C.), o nome da cidade de Constantinopla antes de se tornar a capital de Constantino I. Este antigo nome da cidade raramente seria utilizado a partir deste ponto, exceto no contexto poético ou histórico. A publicação, em 1668, de Bizantino du Louvre (Corpus Scriptorum Historiæ Byzantinæ), e em 1680 de História Bizantina de Du Cange popularizou o uso de Bizantino em autores franceses, como Montesquieu.[7]
O império era conhecido pelos habitantes como "Império Romano", ou Império dos Romanos (Latim: Imperium Romanum, Imperium Romanorum, grego: Βασιλεία τῶν Ῥωμαίων, Basileía tôn Rhōmaíōn, Αρχη τῶν Ῥωμαίων, Arche tôn Rhōmaíōn), "Romania"[nt 1] (Latim: Romania, Grego: Ῥωμανία, Rhōmanía, foi popular no império[8]), a "República Romana" (Latim: Res Publica Romana, Grego: Πολιτεία τῶν Ῥωμαίων, Politeίa tôn Rhōmaíōn),[9] "Graikía" (Grego: Γραικία),[10] e também como "Rhōmaís" (Ῥωμαΐς).[11]
Os bizantinos identificavam a si mesmos como romanos, e continuaram usando o termo quando converteu-se em sinônimo de helenos. Preferiram chamar a si mesmos, em grego, romioi (significa povo grego cristão com cidadania romana). Um substituto comum do termo "heleno" (que tinha conotações pagãs) tanto como o de romioi, foi o termo graekos (grego). Este termo foi usado frequentemente pelos bizantinos (tanto como romioi) para sua auto-identificação étnica.
Embora o império tenha tido um caráter multiétnico durante a maior parte de sua história[12][13] e preservasse as tradições romano-helenísticas,[14] era geralmente conhecido para a maioria dos seus contemporâneos ocidentais e do norte como o "Império dos Gregos"[nt 2] devido ao crescente predomínio do elemento grego.[3][15][16][17][18][19][20][21][22] O uso do termo "Império dos Gregos" (Latim: Imperium Graecorum) no Ocidente para se referir ao Império Romano do Oriente também implicava uma rejeição da afirmação do império de ser descendente do Império Romano.[nt 3] A reivindicação do Império Romano do Oriente à herança romana tinha sido impugnada ativamente no Ocidente, no momento da imperatriz Irene de Atenas devido à coroação de Carlos Magno como imperador do Sacro Império no ano 800, pelo Papa Leão III, que, precisando de ajuda contra inimigos em Roma, viu o trono do Império Romano como vago (falta de um ocupante do sexo masculino).[24][25][26][27][28][29] Sempre o Papa ou os governantes do Ocidente utilizaram o nome romano para referirem-se aos imperadores do oriente, no entanto preferiram o termo Imperator Romaniæ, em vez de Imperator Romanorum, um título que os ocidentais mantiveram aplicado apenas para Carlos Magno e seus sucessores.[30]
Essa distinção não existiu no mundo persa, islâmico e eslavo, onde o império foi visto como uma continuação do Império Romano. No mundo islâmico, foi conhecido principalmente como روم (Rûm "Roma").[31][32]

História

Divisão do Império Romano

Constantino , mosaico em Hagia Sofia
Diocleciano, em 293, criou um novo sistema administrativo, a Tetrarquia.[33] Tal sistema associava o imperador a um co-imperador, ou augusto.[34] Cada Augusto, então, adotou um jovem colega dando a ele o título de césar, para compartilhar seu governo e, eventualmente, para suceder o sócio sênior.[35] Após a abdicação de Diocleciano e Maximiano, no entanto a tetrarquia entrou em colapso, e Constantino, substituiu-a com o princípio dinástico de sucessão hereditária.[36]
Constantino mudou a sede do império e introduziu importantes alterações em sua constituição civil e religiosa.[37] Fundou, em 330, Constantinopla, como segunda Roma no local de Bizâncio, que estava bem posicionada nas rotas comerciais que passavam pelo Báltico e Mediterrâneo, ligando Oriente e Ocidente. Baseou-se nas reformas administrativas introduzidas por Diocleciano.[33] Estabilizou a moeda (o soldo de ouro que introduziu tornando-se uma moeda altamente valorizada e estável),[38] e fez alterações na estrutura do exército.[39] Sob Constantino, o império tinha recuperado muito de sua força militar e viveu um período de estabilidade e prosperidade.
Sob Constantino o cristianismo não se tornou a religião oficial do Estado, mas gozava da preferência imperial, porque o imperador o apoiou com privilégios generosos.[35] Constantino estabeleceu o princípio de que os imperadores não devem resolver questões de doutrina, mas devem convocar concílios eclesiásticos gerais para esse efeito. O Sínodo de Arles foi convocado por Constantino, e o Primeiro Concílio de Niceia apresentou sua reivindicação para ser a cabeça da Igreja.[40]
O estado do império em 395 pode ser descrito em termos do resultado do trabalho de Constantino. O princípio dinástico foi estabelecido tão firmemente que o imperador que morreu naquele ano, Teodósio I, deixou o cargo imperial em conjunto para seus filhos: Arcádio no Oriente e Flávio Honório no Ocidente. Teodósio foi o último imperador a governar o Império Romano único.[41][6]
O Batismo de Constantino, por Rafael Sanzio, 1520–1524, Vaticano, Palácio Apostólico. Eusébio de Cesareia recorda que, como foi comum entre os cristãos convertidos deste período, Constantino teve um batismo tardio, próximo de sua morte.[42]
O Império do Oriente foi poupado das dificuldades enfrentadas pelo Ocidente nos séculos III e IV, em parte devido a uma cultura mais urbana e mais recursos financeiros[43] que lhe permitiu aplacar invasões com tributos e o pagamento de mercenários estrangeiros. Teodósio II fortaleceu as muralhas de Constantinopla, construindo o Muro de Teodósio (408-413),[44] deixando a cidade imune a maioria dos ataques; os muros não foram violados até 1204. A fim de afastar os hunos, Teodósio prestou-lhes tributos (159 kg de ouro).[45]
Seu sucessor Marciano, se recusou a continuar a pagar essa quantia exorbitante[46] Por essa altura, no entanto, Átila já havia desviado sua atenção para o Império Romano do Ocidente. Após sua morte em 453, seu império desmoronou e Constantinopla iniciou um relacionamento rentável com os hunos restantes, que acabaram lutando como mercenários do exército bizantino.[47][48] Após a queda de Átila, o Império do Oriente viveu um período de paz, enquanto o Império Romano do Ocidente continuou sua lenta agonia. (Seu fim é geralmente datado em 476, quando o general germânico Odoacro depôs o imperador titular do ocidente Rômulo Augusto[49].)
Para recuperar a Itália, o imperador Zenão I só poderia negociar com os ostrogodos, que se instalaram na Mésia. Ele enviou o rei gótico Teodorico para a Itália como magister militum per Italiam (Comandante-em-chefe da Itália), a fim de depor Odoacro. Teodorico, em 493, assassinou Odoacro durante um banquete, tornando-se então, o governante da Itália.[50] Assim, apelando a Teodorico para conquistar a Itália, Zenão livrou o império oriental de um subordinado indisciplinado e manteve uma forma nominal de supremacia de suas terras.[41]
Em 491, Anastácio I, um oficial civil de origem romana, tornou-se imperador, mas foi só em 498 que as forças do novo imperador efetivamente tomaram medidas contra a resistência isauriana.[41] Anastácio revelou-se um reformador enérgico e um administrador capaz. Aperfeiçoou o sistema de cunhagem de Constantino, pelo estabelecimento definitivo do peso do Follis, a moeda utilizada na maioria das transações diárias.[51] Ele também reformou o sistema tributário e permanentemente aboliu o imposto Chrysargyron. O Tesouro do Estado continha a enorme quantia de 145.150 kg de ouro quando Anastácio morreu em 518.[52]

Reconquista das províncias ocidentais

Justiniano I em um dos famosos mosaicos da Basílica de São Vital, Ravena
Justiniano I, que assumiu o trono em 547, administrou um período de recuperação dos antigos territórios. Justiniano, filho de um camponês da Ilíria, já pode ter exercido um controle efetivo, durante o reinado de seu tio Justino I (518-527).[53] Em 532, na tentativa de garantir a sua fronteira oriental, Justiniano assinou um tratado de paz com Cosroes I da Pérsia, concordando em pagar um tributo anual aos sassânidas. No mesmo ano, Justiniano sobreviveu a uma revolta em Constantinopla (a Revolta de Nika), que terminou com a morte de cerca de 30.000 e 35.000 manifestantes.[54] Esta vitória consolidou o poder de Justiniano.[55] O Papa Agapito I foi enviado a Constantinopla pelo rei ostrogodo Teodato, mas falhou em sua missão de assinar uma paz com Justiniano. No entanto, ele conseguiu denunciar o patriarca monofisista Ântimo I de Constantinopla, apesar do apoio da imperatriz Teodora.
As conquistas ocidentais começaram em 533, com Justiniano enviando seu general Belisário para recuperar a antiga província da África Proconsular dos vândalos, que tinha estado no controle deles desde 429 com sua capital em Cartago.[56] Seu sucesso veio com uma facilidade surpreendente, mas apenas em 548 as tribos locais foram subjugadas.[55] Na Itália dos ostrogodos, a morte de Teodorico, o Grande, seu sobrinho e herdeiro Atalarico, e sua filha Amalasunta havia deixado seu assassino Teodato no trono, apesar de sua autoridade enfraquecida. Em 535, uma pequena expedição bizantina na Sicília foi cumprida com fácil sucesso, mas os godos logo endureceram a sua resistência e a vitória não veio até 540, quando Belisário capturou Ravena, após o cerco de sucesso de Nápoles e Roma.[33]
Os ostrogodos unidos sob o comando do rei Totila capturaram Roma em 17 de dezembro de 546. Justiniano, mais tarde, chamou Belisário de volta para Constantinopla no início de 549 de Ravena.[57] A chegada do eunuco armênio Narses na Itália (final de 551) com um exército de cerca de 35.000 homens marcou outra mudança na sorte gótica. Totila foi derrotado na Batalha de Busta Gallorum e seu sucessor, Teia, foi derrotado na Batalha de Mons Lactarius (outubro de 552). Apesar da resistência contínua a partir de algumas guarnições góticas e duas invasões subsequentes pelos francos e alamanos, a guerra na península Itálica estava no fim.[58] Em 551, Atanagildo, um nobre visigodo da Hispânia procurou a ajuda de Justiniano em uma rebelião contra o rei, e o imperador enviou uma força sob Libério, um comandante militar de sucesso. O império bizantino manteve uma pequena fatia do litoral da Espanha até o reinado de Heráclio.[59]
No Leste, as Guerras romano-persas prosseguiram até 561, quando Justiniano e emissários de Cosroes chegaram a um acordo sobre uma paz de 50 anos. Em meados dos anos 550s, Justiniano teve vitórias na maioria dos teatros de operação, com a notável exceção dos Bálcãs, que foram submetidos a repetidas incursões dos eslavos. Em 559, o império enfrentou uma grande invasão dos kutrigurs e sclaveni. Justiniano chamou Belisário de seu retiro e ele derrotou os novos hunos. O reforço das frotas do Danúbio causou a retirada dos kutrigurs e eles concordaram em um tratado que permitiu a passagem segura para o outro lado do Danúbio.
Basílica de Santa Sofia, reconstruída sob supervisão pessoal de Justiniano I
Em 529, uma comissão de dez homens, presidida por João da Capadócia revistou o código legal romano e criou o novo Codex Justiniano, uma versão condensada dos textos legais anteriores. Em 534, o Codex Justiniano foi atualizado e reorganizado no sistema de direito utilizado para o resto da era bizantina.[60] Essas reformas legais, junto com muitas outras mudanças se tornaram conhecidas como o Corpus Juris Civilis. O Corpus Juris Civilis era dividido em quatro partes: Código de Justiniano – coletânea de toda a legislação romana revisada; Digesto – conjunto de pareceres dos magistrados romanos; Institutas – livro para estudantes de Direito; Novelas – novas leis elaboradas por Justiniano.
Durante o século VI, a cultura grecorromana tradicional ainda era influente no Império do Oriente com destacados representantes como o filósofo João Filopono. No entanto, a filosofia cristã e a cultura eram dominantes e começara a substituir a antiga cultura. Hinos escritos por Romano, o Melodista marcaram o desenvolvimento da Divina Liturgia, enquanto arquitetos e construtores trabalharam para completar a nova igreja de Santa Sofia, Hagia Sophia, que foi projetada para substituir a antiga igreja destruída durante a Revolta de Nika. A Hagia Sophia permanece hoje como um dos principais monumentos da arquitetura bizantina.[41]
Durante os séculos VI e VII, o império foi atingido por uma série de epidemias, que foram bastante devastadoras a população e contribuíram para o declínio econômico significativo e um enfraquecimento do império.[61][62][63]
Império Bizantino em 600
Após Justiniano morrer em 565, seu sucessor, Justino II se recusou a pagar o grande tributo para os persas. Enquanto isso, os lombardos invadiram a península Itálica; até o final do século, apenas um terço da Itália estava nas mãos dos bizantinos. O sucessor de Justino II, Tibério II, escolhendo entre seus inimigos, atribuiu subsídios aos ávaros ao tomar uma ação militar contra os persas. Embora o general de Tibério II, Maurício, tenha liderado uma campanha eficaz na fronteira oriental, os subsídios não conseguiram conter os ávaros. Eles capturaram nos Bálcãs a fortaleza de Sirmium em 582, enquanto os eslavos começaram a fazer incursões sobre o Danúbio. Maurício, que sucedeu Teodósio, interveio em uma guerra civil persa colocando o legítimo Cosroes II de volta ao trono e casou sua filha com ele. O tratado de Maurício com seu genro trouxe um novo status territorial para o leste, alargando as fronteiras a uma extensão nunca antes alcançada pelo império em sua história além de ser muito barato defender as fronteiras durante esta nova paz perpétua – milhões de soldos foram economizados pela remissão de tributo aos persas. Após esta vitória sob a fronteira oriental, Maurício era livre para se concentrar nos Bálcãs e por 602 após uma série de campanhas bem sucedidas ele empurrou os ávaros e eslavos de volta sobre o Danúbio.[41]

As fronteiras encolhendo

Dinastia Heracliana

Depois do assassinato de Maurício I por Focas, Cosroes II usou o pretexto para reconquistar a província romana da Mesopotâmia.[64] Focas, um impopular governante invariavelmente descrito em fontes bizantinas como um "tirano", foi alvo de uma parcela do senado. Ele acabou sendo deposto em 610 por Heráclio, que rumou para Constantinopla de Cartago com um ícone posto na proa de seu navio.[65] Depois da ascensão de Heráclio, o avanço sassânida entrou profundamente na Ásia Menor, também ocupando Damasco e Jerusalém e removendo Vera Cruz para Ctesifonte.[66] A contra-ofensiva de Heráclio assumiu caráter de uma guerra santa, e uma imagem acheiropoieta de Cristo foi realizada como um padrão militar.[67][68] (Do mesmo modo, quando Constantinopla foi salva de um cerco dos ávaros em 626, a vitória foi atribuída ao ícone da Virgem, que fora levado em procissão pelo patriarca Sérgio sobre os muros da cidade).[69] A força principal sassânida foi destruída em Nínive em 627 e em 629 Heráclio restaurou a Vera Cruz de Jerusalém, em uma cerimônia majestosa.[70][71][72] A guerra tinha esgotado tanto o império bizantino como o império sassânida, e deixou-os extremamente vulneráveis às forças árabes mulçumanas, que surgiram nos anos seguintes.[73] Os romanos sofreram uma esmagadora derrota dos árabes na Batalha de Jarmuque, em 636, e Ctesifonte caiu em 634.[74]
Império Bizantino no ano 650
A partir de 649, os árabes começaram a fazer ataques navais contra o império chegando a controlar Chipre. Os árabes, já firmemente controlando a Síria e o Levante, enviaram frequentes incursões às profundezas da Anatólia, e entre 674 e 678 fizeram um cerco a Constantinopla. A frota árabe foi firmemente repelida através do uso do fogo grego, e uma trégua de trinta anos, foi assinada entre o império bizantino e o califado omíada.[75] As incursões da Anatólia permaneceram inabaladas, e acelerou o fim da cultura urbana clássica, com os habitantes de muitas cidades, quer refortificando áreas muito menores no interior das muralhas da cidade velha, ou se mudando totalmente as fortalezas próximas.[76] Constantinopla caiu consideravelmente em tamanho, de 500.000 habitantes a apenas 40.000-70.000, como a cidade perdeu o embarque livre de grãos em 618 após a derrota do Egito para os persas (a província foi recuperada em 629, mas foi perdida para os invasores árabes em 642).[77] O vazio deixado pelo desaparecimento das velhas instituições cívicas semi-autônomas foi preenchido pelo sistema de themas, o que implicou a divisão da Anatólia em "províncias" ocupadas por exércitos distintos, que assumiram a autoridade civil e responderam diretamente ao governo imperial. Este sistema pode ter tido suas raízes em determinadas medidas pontuais adotadas por Heráclio, mas ao longo do século VII se transformaram em um sistema totalmente novo de governo imperial.[78][79]
Uso do fogo grego, de acordo com um manuscrito bizantino
A retirada de um grande número de tropas dos Bálcãs para combater os persas e os árabes no Oriente abriu as portas para a expansão gradual dos povos eslavos do sul para a península e, como na Anatólia, muitas cidades caíram para pequenos povoados fortificados.[80] Na década de 670, os búlgaros foram empurrados do sul do Danúbio com a chegada dos cazares, e em 680 forças bizantinas que tinham sido enviadas para dispersar esses novos assentamentos foram derrotadas. No ano seguinte, Constantino IV assinou um tratado com o Khan búlgaro Asparukh, e o Império Búlgaro assumiu a soberania sobre certo número de tribos eslavas que, anteriormente, pelo menos nominalmente, reconheceram a soberania bizantina.[81] Em 687-688, o imperador Justiniano II liderou uma expedição contra os eslavos e os búlgaros, obtendo ganhos significativos, embora o fato de que ele teve que lutar no seu caminha da Trácia a Macedônia demonstra o grau em que o poder bizantino na região norte dos Bálcãs havia diminuído.[82]
O último imperador herácliano, Justiniano II, tentou quebrar o poder da aristocracia urbana através de uma tributação severa e a nomeação de "estrangeiros" para cargos administrativos. Ele foi expulso do poder em 695, e se abrigou primeiro com os cazares e, em seguida, com os búlgaros. Em 697, a cidade de Cartago caiu frente aos árabes. Em 705, ele retornou a Constantinopla com os exércitos do Khan búlgaro Tervel, retomou o trono, e instituiu um regime de terror contra os inimigos. Com sua queda final e 711, mais uma vez apoiada pela aristocracia urbana, a dinastia herácliana chegou ao fim.[83][84][85]

 Dinastia Isauriana e a ascensão de Basílio I

O Império Bizantino durante a ascensão de Leão III o Isáurico. O território listrado mostra a invasão dos árabes.
Leão III, o Isáurico voltou a combater os árabes em 718, alcançando a vitória com a importante ajuda do khan búlgaro Tervel, que matou 32 mil árabes com seu exército. Ele também se dirigiu à tarefa de reorganizar e consolidar os themas da Ásia Menor. Seu sucessor, Constantino V, alcançou notáveis vitórias no norte da Síria, e minou completamente o poder do Império Búlgaro.
Em 797, a imperatriz Irene se converteu na primeira imperatriz da história do império a ocupar o trono como consorte ou governante.[86] No Natal do ano 800, na ausência de um imperador do sexo masculino sobre o trono de Constantinopla, e por razões de conveniência, o Papa Leão III coroou Carlos Magno como imperador do Ocidente.[24][25][26][27][28][29] Em Constantinopla isto foi visto como sacrilégio. Carlos Magno em 802 enviou embaixadores a Constantinopla propondo casamento com Irene, mas, de acordo com Teófanes o Confessor, o plano foi frustrado por Aeotios, um dos favoritos de Irene.[87]
Papa Leão III coroando Carlos Magno, durante a ausência de um imperador no trono bizantino
Nicéforo I, por não reconhecer Carlos Magno como imperador, causou uma deterioração das relações externas o que provocou uma guerra por Veneza entre 806-810. O conflito chegou ao fim após a morte do imperador e o Império Bizantino perdeu para o Império Carolíngio a posse de Roma, Ravena e da Pentápolis Bizantina. Sob a liderança do imperador Krum, a ameaça búlgara também reapareceu. Inicialmente tomou Serdica (atual Sófia), Mesembria (atual Nessebar) e posteriormente Andrinopla e Arcadiópolis (Lüleburgaz). Em 814, o filho de Krum, Omurtag, arranjou paz com o império bizantino.[30][41]
Aproveitando-se da fraqueza do império, após a revolta de Tomás, o Eslavo no início da década de 820, os árabes capturaram Creta, e atacaram com sucesso a Sicília, sitiando Siracusa. O imperador Teófilo conseguiu algumas vitórias contra os árabes: tomou Tarso (na Cilícia) em 831, Mitilene e Samosata em 837 e destruiu a cidade de Sozopetra. No entanto, os árabes atacaram e destruíram Amorium.
Nos séculos VIII e IX, o império foi dominado pela polêmica e divisão religiosa causada pela política iconoclasta. Os ícones foram banidos em 726 por Leão III, levando a revolta dos iconódulos (apoiantes dos ícones) em todo o império.[88] Após os esforços da imperatriz Irene, o Concílio de Niceia se reuniu em 787, e afirmou que os ícones podem ser venerados, mas não adorados. Em 813, Leão V, o Armênio restaurou a política da iconoclastia, mas em 843, Teodora restaurou a veneração dos ícones com a ajuda do patriarca Metódio.[89] A iconoclastia desempenhou o seu papel na alienação posterior do Oriente e Ocidente, que se agravou durante o chamado Cisma de Fócio, quando o Papa Nicolau I desafiou a elevação de Fócio para o patriarcado.

Dinastia Macedônica e o resurgimento

Por volta de 867, o império tinha restabelecido sua posição tanto no oriente como no ocidente, e a eficiência e sua estrutura militar defensiva permitiu que seus imperadores começassem a planejar as guerras de reconquista, no leste.

Guerras contra os muçulmanos

O Império Bizantino em 867
O processo de reconquista começou com sortes diversas. A reconquista temporária de Creta (843) foi seguida por uma esmagadora derrota bizantina sobre o Bósforo, enquanto os imperadores eram incapazes de impedir a conquista mulçumana em curso na Sicília (827-902). Usando o território da atual Tunísia como sua plataforma de lançamento, os mulçumanos conquistaram Mazara em 827,[90] Palermo em 831,[91] Enna em 859,[92] Messina em 842,[93] Siracusa em 878,[94] Catânia em 900 e, o último reduto bizantino,a fortaleza de Taormina em 902. A Sicília foi totalmente conquistada em 940.[95]
Estes inconvenientes foram posteriormente compensados por uma expedição vitoriosa contra Damieta, no Egito (856), a derrota do emir de Mitilene (863), a confirmação da autoridade imperial sobre a Dalmácia (867) e a ofensiva de Basílio em direção ao Eufrates (870s). Ao contrário da situação de deterioração na Sicília, Basílio lidou com a situação no sul da península Itálica muito bem e a província continuou nas mãos dos bizantinos pelos 200 anos seguintes.
Os sucessos militares do século X foram acoplados com um grande renascimento cultural, o chamado Renascença Macedônica.
Em 904, um desastre aconteceu quando a segunda cidade do império, Tessalónica, foi saqueada por uma frota árabe liderada pelo renegado bizantino Leão de Trípoli. Os militares bizantinos responderam, destruindo uma frota árabe em 908, e saqueando a cidade de Laodiceia na Síria, dois anos depois. Apesar desta vingança, os bizantinos eram ainda incapazes de dar um golpe decisivo contra os muçulmanos, que infligiu uma derrota esmagadora sobre as forças imperiais quando tentou recuperar Creta, em 911.
A situação na fronteira com os árabes permaneceu instável, com os bizantinos, alternando entre ofensivos e defensivos. Os varegues, que atacaram Constantinopla, pela primeira vez em 860, constituíram um novo desafio. Em 941, eles apareceram na costa asiática do Bósforo, mas desta vez foram esmagados, mostrando a melhoria militar bizantina após 907, quando só a diplomacia tinha sido capaz de repelir os invasores. O general que venceu os varegues foi o famoso João Kourkouas, que continuou com as ofensivas obtendo notáveis vitórias na Mesopotâmia (943): isto culminou com a reconquista de Edessa (944), que foi especialmente comemorado com o retorno a Constantinopla do venerado Mandylion.
O imperador-soldado Nicéforo II Focas (963-969) e João I Tzimisces (969-976) também expandiu o império até a Síria, derrotando os emirados do Noroeste do Iraque e reconquistando Creta e Chipre. Sob João, os exércitos do império até ameaçaram Jerusalém, no Sul. O emirado de Aleppo e seus vizinhos tornaram-se vassalos do império no oriente, onde a maior ameaça ao império foi o Califado Fatímida.[96] Após muitas campanhas, a última ameaça árabe para Bizâncio foi derrotada quando Basílio II rapidamente atraiu 40.000 soldados montados para aliviar a província da Síria. Com um excedente de recursos e de vitórias, graças às campanhas na Bulgária e Síria, Basílio II previu uma campanha contra a Sicília para retomá-la dos árabes. Após sua morte, em 1025, a expedição partiu nos anos 1040s e foi recebida com um inicial, mas atrofiado sucesso.

Guerras contra o Império Búlgaro

Basílio II Bulgaroktonos (976–1025)
A luta tradicional contra a Santa Sé continuou, impulsionada pela disputa sobre a supremacia do Império Búlgaro, recém-cristianizado. Isso motivou uma invasão do poderoso tsar Simão I em 894, apaziguada pela diplomacia bizantina que pediu ajuda aos magiares. No entanto, os bizantinos foram derrotados na Batalha de Burgarófico (896), obrigando o império a pagar subsídios anuais para os búlgaros. Mais tarde (912), Simão exigiu que os bizantinos lhe concedessem o título de basileus ("imperador") da Bulgária e também a mão do jovem imperador Constantino VII em casamento com uma de suas filhas. Quando uma revolta em Constantinopla suspendeu seu projeto dinástico, ele invadiu novamente a Trácia e capturou Adrianópolis (atual Edirne).[96]
Uma grande expedição militar bizantina, sob Leão Focas e Romano I Lecapeno, terminou novamente com uma derrota esmagadora na Batalha de Acheloos (917), e no ano seguinte, os búlgaros estavam livres para devastar o norte da Grécia até Corinto. Adrianópolis foi novamente capturada em 923 e um exército búlgaro cercou Constantinopla em 924. A situação dos Bálcãs melhorou somente após a morte de Simão em 927. Em 968, a Bulgária foi invadida pelos Rus' sob Sviatoslav I de Kiev, mas, três anos depois, o imperador João I Tzimisces os derrotou na Batalha de Dorostolon e incorporou o leste da Bulgária ao império.
Mapa do império após as conquistas de Basílio II
A resistência búlgara reviveu sob os Cometopuli ("filhos do conde"), mas o novo imperador Basílio II (r. 975-1025) fez da submissão dos búlgaros seu objetivo principal. Sua primeira expedição contra a Bulgária, no entanto, resultou em uma derrota humilhante nas Portas de Trajano. Pelos anos seguintes, o imperador esteve preocupado com revoltas internas na Anatólia, enquanto os búlgaros expandiam seu reino nos Bálcãs. A guerra estava se prolongou por quase 20 anos. As vitórias bizantinas de Esperqueo e Skopie enfraqueceram decisivamente o exército búlgaro, e em campanhas anuais, Basílio metodicamente reduziu as fortalezas búlgaras. Posteriormente, na Batalha de Kleidion em 1014, os búlgaros foram completamente derrotados. Em 1018, os últimos redutos dos búlgaros tinham se rendidos e a região se tornou parte do Império Bizantino. Essa vitória restaurou a fronteira do Danúbio, algo que não ocorria desde os tempos do imperador Heráclio.[96]

Relações com o Principado de Kiev

Entre 850 e 1100, o império desenvolveu uma relação mista com o novo Estado que surgiu ao Norte além do mar Negro, o Principado de Kiev. Esta relação teria repercussões duradouras na história dos eslavos do leste. Bizâncio rapidamente se tornou parceiro comercial e cultural de Kiev, mas as relações nem sempre foram amistosas. O conflito mais grave entre as duas potências foi a guerra de 968-971 na Bulgária, no entanto várias expedições contra as cidades bizantinas da costa do mar Negro e Constantinopla são registradas. Embora na maioria dos casos as expedições tenham sido repelidas, elas foram concluídas com tratados comerciais que geralmente eram favoráveis aos Rus'.
As relações Rus'-bizantinas se tornaram mais próximas depois do casamento da Ana Porfirogênita, irmã de Basílio II, com Vladimir, o Grande, e posteriormente a cristianização dos Rus': sacerdotes bizantinos, arquitetos e artistas foram convidados a trabalhar em várias catedrais e igrejas dos Rus’, ampliando ainda mais a influência cultural dos bizantinos. Numerosos Rus' serviram ao exército bizantino como mercenários, principalmente como a famosa guarda varegue.

O ápice

O Império Bizantino então se estendia da Armênia no leste, a Calábria, sul da península Itálica, a oeste. Muitos sucessos foram obtidos, que vão desde a conquista da Bulgária, a anexação de partes da Geórgia e Reino da Armênia, ao aniquilamento total de uma força invasora egípcia fora de Antioquia. No entanto, mesmo essas vitórias não foram suficientes; Basílio II considerava a ocupação árabe da Sicília um ultraje. Assim, ele planejou a reconquista da ilha, que havia pertencido ao mundo romano desde a Primeira Guerra Púnica. No entanto, sua morte em 1025 pôs fim ao projeto.
O século XI foi também de grande importância para seus eventos religiosos. Em 1054, as relações entre as tradições ocidentais e orientais dentro da Igreja Cristã chegaram a uma crise terminal. Embora tenha havido uma declaração formal de separação institucional, em 16 de junho, quando três núncios papais entraram em Hagia Sofia durante a Divina Liturgia em uma tarde de sábado, e colocaram uma bula de excomunhão sobre o altar, o chamado Grande Cisma ou Cisma do Oriente foi realmente o ponto culminante de séculos de separação gradual. Foi com este cisma que surgiram a Igreja Ortodoxa Grega com sede em Constantinopla e a Igreja Católica Apostólica Romana com sede em Roma.[97]

Crise e fragmentação

O Império Bizantino logo caiu em um período de dificuldades, causado, em grande medida, pelo enfraquecimento do sistema de themas e da negligência dos militares. Nicéforo II, João I Tzimisces e Basílio II mudaram as divisões militares (τάγματα, tagmata) de uma resposta rápida, primariamente defensiva, de exércitos de cidadãos para exércitos profissionais, com exércitos das campanhas cada vez mais ocupados por mercenários. Mercenários, contudo, eram caros e a ameaça de invasão retrocedeu no século X, assim como a necessidade de manter grandes guarnições e caras fortificações.[98] Basílio II deixou um florescente tesouro após a sua morte, mas esqueceu de planos para sua sucessão. Nenhum dos seus sucessores imediatos tinha algum talento militar ou político particular e a administração imperial caiu cada vez mais nas mãos do serviço civil. Esforços para reanimar a economia bizantina só resultaram em inflação e a moeda de ouro desvalorizou. O exército passou a ser visto tanto como uma despesa desnecessária como uma ameaça política. Portanto, as tropas nativas foram demitidas e substituídas por mercenários estrangeiros em contrato específico.[99]
Ao mesmo tempo, o império foi confrontado por novos inimigos ambiciosos. As províncias bizantinas no sul da Itália enfrentaram os normandos, que chegaram a Itália no início do século XI. Durante um período de conflito entre Constantinopla e Roma, que terminou com a Grande Cisma do Oriente em 1054, os normandos começaram a avançar, lenta mas firmemente, na Itália bizantina.[100] Os bizantinos também perderam sua influência sobre as cidades costeiras da Dalmácia a Pedro Krešimir IV da Croácia em 1064.
Foi na Ásia Menor, no entanto, que o maior desastre aconteceria. Os turcos seljúcidas fizeram suas primeiras explorações do outro lado da fronteira bizantina na Armênia em 1065 e em 1067. A emergência deu peso à aristocracia militar na Anatólia que, em 1068, garantiu a eleição de um dos seus, Romano Diógenes, como imperador. No verão de 1071, Romano realizou uma campanha maciça no leste para atrair os seljúcidas em uma batalha geral contra o exército bizantino. Em Manzikert, Romano, não só sofreu uma derrota surpresa nas mãos do sultão Alp Arslan, mas também foi capturado. Alp Arslan o tratou com respeito, e não impôs condições pesadas aos bizantinos. Em Constantinopla, no entanto, um golpe de Estado ocorreu em favor de Miguel VII Ducas, que logo enfrentou a oposição de Nicéforo Briênio e Nicéforo Botaneiates. Até 1081, os seljúcidas expandiram seu domínio sobre quase todo o planalto da Anatólia e Armênia, a leste da Bitínia, no oeste, e fundaram sua capital em Niceia, a apenas 88 km de Constantinopla.[99]

Dinastia Comnena e as Cruzadas

Aleixo I e a Primeira Cruzada

O império bizantino e o Sultanato de Rum após a Primeira Cruzada
Após Manzikert, uma repercussão parcial (conhecida como a Restauração Comnena) foi possível graças aos esforços da dinastia Comnena.[101] O primeiro imperador da dinastia foi Isaac I (1057-1059) e o segundo foi Aleixo I. No início de seu reinado, Aleixo enfrentou um ataque formidável dos normandos de Roberto Guiscardo e de seus filho Boemundo de Taranto, que capturaram Dirráquio e Corfu, e sitiaram Lárissa na Tessália. A morte de Roberto Guiscardo em 1085 diminuiu temporariamente o problema normando. No ano seguinte, o sultão seljúcida morreu, e o sultanato foi dividido por rivalidades internas. Por seus próprios esforços, Aleixo derrotou os pechenegues; eles foram pegos de surpresa e aniquilados na Batalha de Levounion em 28 de abril de 1091.[41]
Tendo alcançado a estabilidade no Ocidente, Aleixo pode voltar sua atenção para as graves dificuldades econômicas e à desintegração das defesas tradicionais do império. No entanto, ele ainda não tinha pessoal suficiente para recuperar os territórios perdidos na Ásia Menor e para avançar contra os turcos seljúcidas. No Concílio de Piacenza em 1095, os enviados de Aleixo falaram com o Papa Urbano II sobre o sofrimento dos cristãos do Oriente, e ressaltaram que sem a ajuda do Ocidente, eles continuariam a sofrer sob o domínio muçulmano. Urbano viu no pedido de Aleixo uma oportunidade dupla: fazer vínculos de amizade na Europa Ocidental[102] e reforçar o poder papal.[103][104] Em 27 de novembro de 1095, o Papa Urbano II convocou o Concílio de Clermont, e exortou todos os presentes a pegar em armas sob o signo da cruz e iniciar uma peregrinação armada para recuperar Jerusalém dos muçulmanos no Oriente. A resposta da Europa Ocidental foi esmagadora.[41]
Manuscrito medieval descrevendo a Captura de Jerusalém durante a Primeira Cruzada
Aleixo tinha antecipado a ajuda na forma de forças mercenárias do Ocidente, mas estava totalmente despreparado para a imensa e indisciplinada força que logo chegou ao território bizantino. Não foi nenhum conforto para Aleixo saber que quatro dos oito líderes do corpo principal da Cruzada eram normandos, entre eles Boemundo de Taranto. Desde a Cruzada ter passado por Constantinopla, no entanto, o imperador teve algum controle sobre ela. Ele exigiu que seus líderes jurassem restaurar ao império quaisquer cidades ou territórios que pudessem conquistar dos turcos a caminho da Terra Santa. Em troca, deu-lhes guias e uma escolta militar.[105] Aleixo foi capaz de recuperar um número importante de cidades e ilhas, e de fato muito do oeste da Ásia Menor. No entanto, os cruzados acreditaram que seus juramentos foram inválidos quando Aleixo não os ajudou durante o cerco de Antioquia (ele tinha de fato previsto a entrada em Antioquia, mas foi convencido a voltar por Estevão II de Blois, que lhe garantiu que tudo estava perdido e que a expedição tinha falhado).[106] Boemundo, que se estabelecera como príncipe da Antioquia, brevemente entrou em guerra com os bizantinos, mas concordou em tornar-se vassalo ao abrigo do Tratado de Devol em 1118, que marcou o fim da ameaça normanda durante o reinado de Aleixo I.[107][108]
Nos últimos anos de reu reinado as novos combates ocorreram contra os turcos (1110-1117) e as cidades estados italianas, que tinham direitos comerciais assim como as naus venezianas compunham a maior parte da frota bizantina, começaram a sofrer sentimentos antiocidentais.

João II, Manuel I e a Segunda Cruzada

João II Comneno
O filho de Aleixo, João II Comneno o sucedeu em 1118, governando até 1043. João foi um imperador piedoso e dedicado, que estava determinado a reparar os danos que seu império sofreu na Batalha de Manzikert, meio século antes.[109] Famoso por sua piedade e seu ameno e justo reinado, João foi um exemplo excepcional de um governante moral, num momento em que a crueldade era a norma.[110] Por es razão, ele tem sido chamado do Marco Aurélio bizantino.
João II não renovou um acordo comercial de 1082 com Veneza após um problema de abuso de um membro da família real veneziana. Houve retaliação em Corfu e João II exilou os mercadores venezianos de Constantinopla o que provocou novas retaliações e uma frota de 72 navios venezianos saquearam Rodes, Quios, Samos, Lesbos, Andros e Cefalônia capturados no mar Jônico o que fez João renovar o tratado.[111] No vigésimo quinto ano de seu reinado, João fez uma aliança com o Sacro Império Romano-Germânico no Ocidente, decisivamente derrotando os pechenegues na Batalha de Beroia e,[112] pessoalmente, levou inúmeras campanhas contra os turcos na Ásia Menor. As campanhas de João mudaram fundamentalmente o equilíbrio do poder do leste, abrigando os turcos na defensiva e restaurando para os bizantinos muitas cidades, fortalezas e cidades do outro lado da península.[113] Ele também frustrou as ameaças dos húngaros e sérvios nos anos 1120s. Os sérvios foram derrotados e enviados como colonos militares para a Anatólia. João II casou com a princesa húngara Piroska envolvendo-se em lutas dinásticas do Reino da Hungria. Dando áxilo a um pretendente ao trono enfrentou um invasão húngara em 1128, que atacou Belgrado, Braničevo, Niš, Sófia, e penetrou o sul quanto na periferia de Plovdiv.[114] Depois de uma campanha de dois anos os húngaros foram derrotados. Em 1030, aliou-se com o imperador alemão Lotário III contra o rei normando Rogério II da Sicília.[115]
Manuel I Comneno
Na parte final de seu governo, João concentrou suas atividades no Oriente. João retomou as cidades de Laodiceia e Sozopolis, restabelecendo, por conseguinte, as ligações terrestres para a cidade.[116] Ele derrotou os Danismendidas do emirado de Mitilene entre 1030-1035. Posteriormente, João empreendeu uma série de campanha onde ele reconquistou a cidade de Kastamonu e, em seguida, deixou uma guarnição de 2000 homens em Gangra.[117] Em 1139 após a reconquista turca da cidade de Kastamonu, João empreendeu uma nova campanha contra os Danismendidas cercando pelo sul de Trebizonda a cidade de Niksar, contudo, sem conseguir tomá-la.[118] Em 1137, João tomou as cidades de Tarso, Adana, e Mopsuestia do Reino Arménio da Cilícia e em 1138 aprisionou em Constantinopla Leão I e a maioria de sua família.[119] Ele forçou Raimundo de Poitiers, príncipe da Antioquia, a reconhecer sua suserania. Em um esforço de demonstrar o papel do imperador bizantino como líder no mundo cristão, João marchou em direção à Palestina, sendo chefe das forças combinadas dos bizantinos e dos estados cruzados; entretanto, apesar do vigor com que ele pressionou a campanha, as esperanças de João ficaram desapontadas com a traição de seus aliados cruzados.[120] João planejava fazer uma nova expedição no Oriente, juntamente com uma pereguinação a Jerusalém junto de seu exército; Fulque de Jerusalém, temendo uma invasão, pediu ao imperador para trazer apenas um exército de 10.000 homens com ele.[121] Em 1142, João voltou a pressionar os seus créditos em Antioquia, mas ele morreu na primavera de 1143 na sequência de um acidente de caça. Raimundo foi encorajado a invadir a Cilícia, mas foi derrotado e forçado a ir a Constantinopla para implorar misericórdia do imperador.[122]
O herdeiro escolhido de João foi seu quarto filho, Manuel I Comneno, que fez campanhas agressivas contra seus vizinhos tanto no oeste como no leste. Neste momento, Manuel que herdou um império com inimigos em todas as frontes encarava uma tarefa assombrosa.[123]
Chegada da Segunda Cruzada a Constantinopla, por Jean Fouquet, 1455-1460
Em 1144, Raimundo de Poitiers, amedrontado por uma guerra santa iniciada no fronteiriço Condado de Edessa, humilhou-se pedindo proteção ao império e estabelecendo uma lealdade com Bizâncio.[124][125]
Em 1146, Manuel empreendeu uma campanha punitiva ao Sultanato de Rum por este violar constantemente as fronteiras do império na Anatólia e Cilícia. Atacou a capital do reino, Konya destruindo seus arredores e aniquilando a cidade fortificada de Philomelion, retirando de lá a população cristã ainda existente.[126]
Em 1147, abriu passagem para dois exércitos cruzados passarem, sob domínio de Conrado III da Germânia e Luís VII da França, respectivamente. Assim como ocorreu com a Primeira Cruzada, a população no geral, assim como a tia de Manuel, Ana Comnena, se sentiu impressionada com os exércitos cruzados.[127] Em 1148 Manuel persuadiu o imperador Conrado III contra Rogério II da Sicília. Mesmo atrapalhado por um ataque cumano nos Bálcãs, Manuel junto de tropas germânicas de Conrado III e tropas venezianas derrotou as tropas de Rogério II da Sicília que havia tomado Corfu. Em 1149, a ilha foi retomada e foi preparada uma ofensiva contra os normandos.[128] Ele fez um acordo com Conrado III onde ambos atacariam o sul da Itália e dividiriam os territórios do Sul da Itália e Sicília, contudo após a morte de Conrado, houve muitas divergências entre o interesse dos impérios.[129]
Papa Adriano IV, que negociou com Manuel contra o rei normando Guilherme I da Sicília
Em 1154, após a morte de Ricardo e da sua sucessão por Guilherme I da Sicília, o sul da Itália entrou em um período de instabilidade política aproveitado por Manuel para invadi-la. Em 1155, ele enviou para a península Miguel Paleólogo e João Ducas junto com 10 navios e uma grande quantia de ouro.[130][131] Com a ajuda de barões locais que rebelaram-se contra a coroa siciliana de Guilherme I, Miguel logrou rápidos resultados.[129] Muitas fortalezas se renderam ou pela força ou pela sedução ao ouro.[96] Após a destruição da cidade de Bari, as cidades de Trani, Giovinazzo, Andria, Taranto e Brindisi e o exército de Guilherme foi derrotado.[132] Durante as campanhas na Itália Manuel e o Papa Adriano IV realizaram negociações e alianças através da restauração entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica.[133] Miguel ofereceu uma grande quantia ao Papa em troca de provisões as tropas, além de uma garantia de poder sobre três cidades costeiras em troca de assistência na expulsão de Guilherme. Manuel também prometeu pagar 5.000 libras de ouro ao Papa e a Cúria.[134] A aliança foi formada.[135] Uma derrota em Brindisi em 1156 terminou com as campanhas na Itália.
Para enfraquecer o poder veneziano no mar Egeu, Manuel realizou acordos com Pisa e Gênova. Após uma breve guerra com Veneza, os bizantinos expulsaram os venezianos do Egeu. Manuel também se aliou as cidades livres da Itália contra Frederico Barbarossa.
Estados Cruzados da Palestina
Em 1156, Reinaldo de Châtillon, o príncipe de Antioquia, prometeu atacar a província bizantina do Chipre. Ele mandou prender o governador da ilha, João Comneno, e o general Michael Branas. Guilherme de Tiro descreve as atrocidades dos homens de Reinaldo.[136] A ilha foi saqueada, os habitantes pilhados e mutilados e os sobreviventes compraram os caros produtos de Reinaldo, enriquecendo Antioquia por muitos anos.[137][138] Reinaldo enviou alguns reféns mutilados para Constantinopla.[139] No inverno de 1158-1159, Manuel marchou com um numeroso exército para a Cilícia surpreendendo Teodoro II da Armênia, que também havia participado do ataque a Chipre; todas as vilas e cidades se renderam. Reinaldo de Châtillon, percebendo que não conseguiria vencer Manuel apresentou-se ao imperador vestido em um saco com uma corda no pescoço pedindo clemência; segundo Guilherme de Tiro a situação foi tão demorada que os presentes se sentiram "enojados".[140] Manuel perdoou Reinaldo na condição de que a Antioquia se torna-se vassala do império.[141] Quando Manuel se preparava para realizar uma expedição a Edessa, Nur ad-Din libertou 6.000 prisioneiros cristãos, capturados em várias batalhas desde a segunda cruzada, o que fez o imperador abandonar a campanha.[142][143][96] No ano seguinte, Manuel expulsou os turcos da Isauria.[144]
Manuel obrigou os sérvios rebeldes à vassalagem (1150-1152) e lançou ataques constantes ao Reino da Hungria com intenção de anexar seu território até o rio Sava. Manuel colocou Estevão IV no trono da Hungria, um líder que trouxe benefícios ao império. No entanto, o sobrinho de Estêvão IV, Estêvão III, começou uma rebelião que foi resolvida apenas com a perda dos territórios da Croácia e Dalmácia. Após diversos conflitos, Miguel apenas manteve o território conquistado de Sírmia e após a morte de Estevão III, colocou no trono Bela III da Hungria que até o fim de seu reinado teve um governo favorável a Constantinopla.
O Império Bizantino sob Manuel I Comneno em 1180
Na Palestina, ele se aliou com o Reino Cruzado de Jerusalém e enviou uma grande frota para participar de uma invasão combinada contra os fatímidas no Egito. No leste, no entanto, Manuel sofreu uma grande derrota na Batalha de Miriocéfalo, em 1176, contra os turcos. Contudo, as perdas foram rapidamente recuperadas, e no ano seguinte as forças de Manuel infligiram uma derrota a uma força de "turcos encolhidos".[145] O comandante bizantino João Vatatzes, que destruiu os invasores turcos na Batalha de Hyelion e Leimocheir, não só trouxe as tropas da capital, mas também foi capaz de reunir um exército ao longo do caminho, um sinal de que o exército bizantino manteve-se forte e que a defesa do oeste da Ásia Menor foi ainda bem sucedida.[146]
No geral Manuel reforçou sua posição como senhor dos estados cruzados, com sua hegemonia sobre Antioquia e Jerusalém garantido pelo acordo com Reinaldo, o príncipe de Antioquia, e Amalrico, rei de Jerusalém, respectivamente.[147][141] Até 1168, quase toda a costa do Adriático Oriental estava nas mãos de Manuel.[148] Manuel também fez várias alianças com o papa e os reinos cristãos ocidentais, e com sucesso lidando com a passagem da Segunda Cruzada através de seu império.[142]

Renascimento do século XII

João e Manuel prosseguiram em políticas militares ativas, e ambos implantaram recursos consideráveis em cercos e nas defesas da cidade; políticas de fortificação agressiva estiveram no centro das suas políticas militares imperiais.[149] Apesar da derrota em Miriocéfalo, as políticas de Aleixo, João e Manuel resultaram em grandes conquistas territoriais, o aumento da estabilidade da fronteira na Ásia Menor, e garantiu a estabilização das fronteiras europeias do império. De 1081 a 1180, o exército de Comneno garantiu a segurança do império, permitindo o florescimento da civilização bizantina.[150]
Isto permitiu que as províncias ocidentais conseguissem uma recuperação econômica, que continuou até o final do século. Tem sido argumentado que Bizâncio sob o governo Comneno foi mais próspero do que em qualquer momento desde a invasão persa no século VII. Durante o século XII, os níveis da população elevaram-se e grandes novas extensões de terras agrícolas foram colocadas em produção. Evidências arqueológicas da Europa e Ásia Menor mostra um aumento considerável do tamanho dos assentamentos urbanos, juntamente com o aumento notável de novas cidades. O comércio também florescia; venezianos, genoveses e outros abriram as portas do mar Egeu para o comércio, o transporte de mercadorias dos reinos cruzados de Ultramar e do Egito fatímida para o oeste e comércio com o império bizantino via Constantinopla.[151]
Em termos artísticos, houve um ressurgimento de mosaicos, e as escolas regionais de arquitetura começaram a produzir estilos distintos que se basearam em uma série de influências culturais. Durante o século XII, os bizantinos, com modelo em seu humanismo iniciaram um renascimento do interesse em autores clássicos. Em Eustáquio de Tessalónica,o humanismo bizantino encontrou sua expressão mais característica.[152]

Declínio e desintegração

Dinastia dos Ângelos

A morte de Manuel I Comneno, em 24 de setembro de 1180, deixou seu filho de onze anos, Aleixo II Comneno no trono. Aleixo era altamente incompetente na função, mas foi sua mãe, Maria de Antioquia, e seu parentesco franco que fez a sua regência impopular.[153] Eventualmente, Andrônico I Comneno, um neto de Aleixo I, lançou uma revolta contra o seu parente mais jovem e conseguiu derrubá-lo em um violento golpe de Estado. Utilizando sua boa aparência e sua imensa popularidade com o exército, marchou para Constantinopla, em agosto de 1182, e incitou um massacre de latinos. Depois de eliminar seus rivais em potencial, ele coroou-se como co-imperador, em setembro de 1183, eliminando Aleixo II e ainda levando sua esposa Agnes da França, de 12 anos, com ele.[154]
Andrônico assim começou seu reinado, em especial, as medidas tomadas para reformar o governo do império têm sido elogiadas pelos historiadores. De acordo com George Ostrogorsky, Andrônico estava determinado a acabar com a corrupção: sob seu comando, a venda de funções cessou; a seleção foi baseada no mérito, em vez do favoritismo; funcionários foram pagos com salários adequados, de modo a reduzir a tentação de suborno. Nas províncias, as reformas de Andrônico produziram um melhora rápida e acentuada. Os aristocratas ficaram furiosos com ele, e para piorar as coisas, Andrônico parece ter ficado cada vez mais desequilibrado; execuções e violência tornaram-se cada vez mais comuns, e seu reinado transformou-se em um reino de terror.[155] Andrônico parecia quase a procurar o extermínio da aristocracia como um todo. A luta contra a aristocracia se transformou em um massacre em massa, enquanto o imperador recorreu a medidas cada vez mais implacáveis para escorar seu regime.[156]
Iconium (atual Konya) foi vencida pela Terceira Cruzada. Frederico Barbarossa passou por Constantinopla sob o governo de Isaac II Ângelo.
Apesar de sua formação militar, Andrônico não conseguiu lidar com Isaac Comneno, proclamou a independência da ilha de Chipre, Bela III reincorporou os territórios croatas na Hungria (Dalmácia, a Bósnia e Sírmia) e Estêvão Nemanja da Sérvia declarou sua independência de Bizâncio. Por sua vez, os turcos conquistaram uma ampla porção da Ásia Menor, cortando em dois o norte e o sul bizantinos da Anatólia. Além disso, o rei armênio Ruben atacou a Cilícia. Em 1183, os húngaros e sérvios se aliaram para invadir o império, devastando Belgrado, Branicervo, Nis e Sófia. Em seguida, Estêvão Nemanja começou uma expansão sobre as fronteiras bizantinas para o leste e sul. Em 1184 Andrônico realizou um rápido contra ataque contra os húngaros tomando Serdica e Nis. Gênova e Pisa se vingaram do império bizantino pelo massacre dos latinos iniciando um período de pirataria no Egeu, prática interrompida apenas quando Andrônico realizou um acordo em 1185 com Veneza. No entanto, nenhum destes problemas seria comparado com a invasão de Guilherme II com 300 navios e 80.000 homens, chegando na região em 1085.[157] Com sua armada ocupando Corfu, Cefalônia e Zane[desambiguação necessária], conquistou a cidade de Dyrrhachium (atual Durrës) em 24 de junho e Salonica em 24 de agosto. Andrônico mobilizou uma pequena frota de 100 navios para defender a capital mas era indiferente a população. Ele finalmente foi derrubado quando Isaac Ângelos, sobrevivendo a uma tentativa de assassinato imperial, tomou o poder com a ajuda do povo e teve Andrônico morto.[158]
O reinado de Isaac II e, mais ainda, de seu irmão Aleixo III, viu o colapso do que restava da máquina do governo centralizado bizantino e da defesa. Embora, os normandos tenham sido expulsos da Grécia após uma derrota decisiva de 7 de setembro de 1085, em 1186 os valáquios e os búlgaros começaram uma rebelião que levaria à formação do Segundo Império Búlgaro. A política interna dos Ângelos foi caracterizada pelo esbanjamento do tesouro público, e uma má administração fiscal. A autoridade bizantina foi seriamente enfraquecida, e o vácuo crescente no poder central do império encorajou fragmentação. Há evidências de que alguns herdeiros Comnenos tinham criado um estado semi-independente em Trebizonda antes de 1204.[159] De acordo com Alexandre Vasiliev,"A Dinastia dos Angelos, gregos em sua origem, [...] acelerou a ruína do império, já enfraquecido e com desunião interna".[160]

Quarta Cruzada

A entrada dos cruzados em Constantinopla, por Eugène Delacroix (1840), no Museu do Louvre
Em 1198, o Papa Inocêncio III, abordou o assunto de uma nova cruzada por meio de legados e cartas encíclicas.[161] A intenção declarada da cruzada era conquistar o Egito, agora o centro do poder dos muçulmanos no Levante. O exército cruzado que chegou a Veneza no verão de 1202 foi um pouco menor do que tinha sido previsto, e não havia fundos suficientes para pagar os venezianos, cuja frota foi contratada pelos cruzados para levá-los ao Egito. A política da República de Veneza sob o envelhecido e cego, mas ambicioso doge Enrico Dandolo estava potencialmente em desacordo com o Papa e os cruzados, pois a cidade estava intimamente relacionada comercialmente com o Egito. Os cruzados aceitaram a sugestão de que em dação de pagamento ajudariam os venezianos na captura do porto de Zara (atual Zadar, na Dalmácia), cidade vassala da República de Veneza, que havia se rebelado e se colocado sob a proteção do Reino da Hungria em 1186.[162] A cidade caiu em novembro de 1202, após um breve cerco.[163][164] Inocêncio, que foi informado do plano, e que teve seu veto desconsiderado, estava relutante em comprometer a cruzada, e deu a absolvição condicional para os cruzados – não, contudo, para os venezianos.[165]
Após a morte de Teobaldo III, Conde de Champagne, a liderança da cruzada passou a Bonifácio de Montferrat, um amigo do Hohenstaufen Filipe da Suábia. Ambos Bonifácio e Filipe tinham casamento na família imperial bizantina. Na verdade, o cunhado de Filipe, Aleixo Ângelo, filho do deposto e cego imperador Isaac II Ângelo, tinha aparecido na Europa buscando ajuda e fez contato com os cruzados. Aleixo ofereceu a reunificação da Igreja Bizantina com a de Roma, pagar aos cruzados 200.000 marcos de prata, e juntar-se à cruzada com 200.000 marcos de prata e todos os suprimentos que precisassem para chegar no Egito.[166] Inocêncio estava ciente de um plano para desviar a Cruzada para Constantinopla, e proibiu qualquer ataque a cidade, mas a carta papal chegou após a partida das tropas de Zara.
Queda de Constantinopla frente aos cruzados em 1204
Após se apoderarem de Corfu, os cruzados chegaram a cidade no verão de 1204. Após a derrota das tropas terretres da cidade e da tomada da torre de Gálata que defende a cidade por terra, Aleixo III Ângelo fugiu da capital e Aleixo Ângelo foi elevado ao trono como Aleixo IV, juntamente com seu pai cego Isaac. No entanto, Aleixo e Isaac não foram capazes de manter suas promessas e foram depostos por Aleixo V na medida em que os cruzados foram empurrados para fora da cidade. 20.000 homens fazem um novo cerco a cidade. O primeito assalto começou em 9 de abril; os cruzados não tomaram na cidade. No entanto, a cidade sucumbe após novo assalto em 13 de abril. Durante este assalto os venezianos usaram seus navios como fortalezas para escadas que foram erguidas nos muros. Constantinopla foi submetida a pilhagem e massacre por três dias. Muitos ícones inestimáveis, relíquias e outros objetos mais tarde foram mandados para a Europa Ocidental, um grande número para Veneza. De acordo com Choniates, uma prostituta foi posta no trono patriarcal. Quando Inocêncio III ouviu falar da conduta de seus cruzados, ele os castigou, em termos inequívocos. Mas a situação estava fora de seu controle, especialmente depois que sua iniciativa, havia absolvido os cruzados de seus votos para avançar a Terra Santa.[96] Quando a ordem foi restabelecida, os cruzados e venezianos passaram a implementar seu acordo; Balduíno de Flandres foi eleito imperador e o veneziano Tomás Morosini foi escolhido patriarca. As terras distribuídas entre os líderes não incluem todas as ex-possessões bizantinas. O domínio bizantino continuou em Niceia, Trebizonda e no Épiro.[165][164]

Queda

Império no exílio

A fragmentação do Império Bizantino depois de 1204
Depois do saque de Constantinopla de 1204 pelos cruzados latinos, dois estados sucessores bizantinos foram estabelecidos: o Império de Niceia e o Despotado do Épiro. Um terceiro, o Império de Trebizonda foi criado algumas semanas antes do saque por Aleixo I da Trebizonda. Destes três estados sucessores, Épiro e Niceia ficaram com a melhor chance de recuperar Constantinopla. O Império de Niceia lutou para sobreviver nas décadas seguintes e, por meados do século XIII, perdeu muito do sul da Anatólia[167]. O enfraquecimento do Sultanato de Rum após a invasão mongol em 1242-1243 permitiu que muitos Beilhique e Razia criassem seus próprios principados da Anatólia, enfraquecendo a esperança bizantina na Ásia Menor.[168] Com o tempo, um dos beis, Osman I, criou um emirado que iria, séculos depois, conquistar Bizâncio. No entanto, a invasão mongol também deu a Niceia uma trégua temporária contra os ataques seljúcidas, o que lhe permitiu concentrar-se no Império Latino ao norte de suas posições.

Reconquista de Constantinopla

Império Bizantino em 1263
O Império de Niceia, fundando a Dinastia Láscaris, conseguiu recuperar Constantinopla dos latinos em 1261[169] e derrotou o Despotado do Épiro. Isso levou a um renascimento de curta duração das finanças bizantinas sob Miguel VIII Paleólogo no entanto o império foi devastado pela guerra por estar mal-equipado para lidar com os inimigos que agora o cercavam. A fim de manter suas campanhas contra os latinos, Miguel retirou suas tropas da Ásia Menor, cobrando impostos escorchantes sobre o campesinato e causando muito ressentimento.[170][171] Grandes projetos de construção foram concluídos em Constantinopla para reparar os danos da Quarta Cruzada, mas nenhuma destas iniciativas foi de grande conforto para os agricultores da Ásia Menor, que sofreram invasões dos ghazis fanáticos.
Em vez de explorar suas possessões na Ásia Menor, Miguel decidiu expandir o império, conquistando apenas um sucesso de curto prazo. Para evitar outro saque da capital pelos latinos, ele forçou a Igreja se submeter à Roma, novamente uma solução temporária que aumentou o ódio a Miguel entre os camponeses e em Constantinopla.[172] Os esforços de Andrónico II e, mais tarde, de seu neto Andrónico III marcaram as últimas tentativas genuínas de Bizâncio em restaurar a glória do império. No entanto, o uso de mercenários por Andrónico II foi uma péssima ideia, com a Companhia Catalã assolando os campos e aumentando o ressentimento contra Constantinopla.[173] Durante o reinado de Andrónico II, o império perdeu boa parte da Bitínia para os otomanos de Osman I e os búlgaros tomaram entre 1305-1307 sob Teodoro Svetoslav da Bulgária uma parte significativa do nordeste da Trácia.
Durante o reinado de Andrónico III, que assumiu o império após uma desastrosa guerra civil, novos territórios foram perdidos: na Ásia Menor os otomanos tomaram Niceia (1331) e Nicomédia (atual İzmit) (1337), restando ao império poucos territórios costeiros. Após uma desastrosa guerra contra o Império Búlgaro, Constantinopla, no acordo de paz, perdeu mais alguns territórios.

Ascensão dos otomanos e queda de Constantinopla

Mediterrâneo Oriental no ano 1450
As coisas tornaram-se piores para Bizâncio durante a guerra civil que se seguiu à morte de Andrónico III. Os seis longos anos de guerra civil devastaram o império, permitindo que o governante sérvio Estêvão Uroš IV Dušan conquistasse a maior parte dos territórios restantes do império principalmente na Macedônia formando o Império Sérvio, um reino que teve vida curta. Em 1354, um terremoto devastou Gallipoli, permitindo que os otomanos se estabelecessem na Europa.[174] Também houve uma guerra contra os genoveses.
A Queda de Constantinopla em 1453 segundo uma miniatura francesa do século XV
Sob João V Paleólogo, o império assistiu a conquista turca de Andrinopla (atual Edirne) e Filipópolis (atual Plovdiv). Novas guerras civis assolaram o império e quando estas cessaram os turcos haviam derrotado os sérvios os tornado vassalos do império. Depois da Batalha do Kosovo, grande parte dos Bálcãs foi dominado pelos turcos.[175]
Os imperadores recorreram a ajuda do Ocidente, no entanto o papa só considerou o envio de ajuda em troca de uma reunião da Igreja Ortodoxa com a Santa Sé de Roma (separadas desde o cisma de 1054). A Unidade da Igreja (aprovada no Segundo Concílio de Lyon em 1272) foi considerada e, ocasionalmente, realizada por decreto imperial, mas as cidadãos e o clero ortodoxo intensamente ressentiram a autoridade de Roma e o rito latino.[176] Algumas tropas ocidentais chegaram para reforçar a defesa cristã de Constantinopla, mas a maioria dos governantes ocidentais, distraídos com seus próprios assuntos, não fez nada para com os otomanos que estava tomando os territórios remanescentes dos bizantinos.[177] Na década de 1370, uma nova guerra civil depôs João V em favor de seu filho Andrônico IV Paleólogo, mas o Império foi obrigado a ceder Galípoli e Filadélfia para os turcos otomanos. Tenedos foi despopulada, cedida aos genoveses e se tornou um território neutro[178]
O império sentiu-se um pouco desafogado da ameaça bizantina quando em 1402 Tamerlão derrotou os otomanos na Batalha de Ancara,[179] assim como quando houve um interregno no império otomano causado por uma guerra civil entre os herdeiros do falecido sultão Bayezid I. Foi durante a guerra civil otomana que Bizâncio reconquistou a margem europeia do Mar de Mármara e Tessalónica. Também houve expansão das fronteiras do Despotado da Moreia, uma possessão bizantina. No entanto, em 1430 os otomanos reconquistaram Tessalónica.
Tropas conjuntas do rei da Hungria e do papa atacaram os otomanos contudo, em 10 de novembro de 1444, em Varna, foram esmagadas.[164]
Constantinopla estava despovoada e em ruínas.[164] A população da cidade havia colapsado de tal forma que já era pouco mais do que um aglomerado de vilas separadas por campos. Em 2 de abril de 1453, o exército do sultão Mehmed de cerca de 80.000 homens sitiou a cidade.[180] Apesar de a cidade possuir uma defesa desesperada de última hora (7.000 homens, dos quais 2000 eram estrangeiros),[177] Constantinopla caiu apenas depois de dois meses de cerco em 29 de maio de 1453. O último imperador bizantino, Constantino XI Paleólogo, foi visto pela última vez após arremessar suas insígnias imperiais e atirar-se em combate corpo-a-corpo, após os muros da cidade serem tomados.[181]

Consequências

O "Theatrum Orbis Terrarum" ("Teatro do Globo Terrestre") de Abraham Ortelius, publicado em 1570 em Antuérpia, considerado o primeiro atlas moderno, resultado das intensas explorações marítimas
Entre as principais consequências da conquista de Constantinopla destaca-se a migração de intelectuais bizantinos que levaram consigo conhecimentos que influenciaram o movimento cultural conhecido como Renascimento.[27][182]
Com a conquista de Constantinopla, o comércio de especiarias, anteriormente monopolizado por Veneza e Gênova, foi abalado pois além de serem cobradas taxas altíssimas pelos produtos comercializados, ficou muito perigoso para cristãos navegarem para estes lados do Mediterrâneo. Isso foi um dos motivos que levaram os Estados nacionais começassem a procurar por novas rotas para adquirir as especiarias da Índia e da China.[182] Foi depois da queda de Constantinopla que Portugal descobriu o caminho marítimo para a Índia, e a Espanha, com Cristóvão Colombo, chegou à América.[27] Como consequência as repúblicas de Gênova e Veneza entraram em declínio à medida em que os portugueses contornavam a África e chegavam à Índia e os espanhóis descobriam a América.
As diversas transformações econômicas e políticas que se seguiram à queda do Império Romano do Oriente levaram os historiadores a convencionarem o ano de 1453 como o marco do fim da Idade Média[183][182] e do fim do feudalismo na Europa, fazendo do Império Bizantino um grande marco para as descobertas de novas terras, e para o desenvolvimento do capitalismo no mundo.

 Legado de Bizâncio

Mehmed II passou a conquistar o Despotado da Moreia em 1460 e o Império de Trebizonda em 1561, pequenos estados gregos que haviam sobrevivido depois da queda de Constantinopla. O sobrinho do último imperador, Constantino XI Paleólogo, André Paleólogo tinha herdado o título de imperador do extinto Império Bizantino e o usou de 1465 até sua morte em 1503.[30] Até o final do século XV, o Império Otomano tinha estabelecido seu domínio firme sobre a Ásia Menor e partes da península Balcânica. Mehmed II e seus sucessores continuaram a considerar-se herdeiros adequados para o Império Bizantino até o final do Império Otomano no início do século XX. Enquanto isso, os principados do Danúbio abrigaram refugiados ortodoxos, incluindo alguns nobres bizantinos.
Na sua morte, o papel do imperador como patrono da Ortodoxia Oriental foi reivindicado por Ivan III, grão-duque da Moscóvia. Ele havia se casado com a irmã de André, Sofia Paleólogo, cujo neto, Ivan IV, passaria a ser o primeiro czar da Rússia (czar, o que significa césar, é um termo tradicionalmente usado pelos eslavos aos imperadores bizantinos). Seus sucessores apoiaram a ideia de que Moscou era o herdeiro apropriado de Roma e Constantinopla. A ideia do Império Russo como a "Terceira Roma" foi mantido vivo até seu desaparecimento com a Revolução Russa em 1917.[184]

Cultura

Economia

A economia bizantina estava entre as mais avançadas da Europa e do Mediterrâneo durante muitos séculos. A Europa, em particular, foi incapaz de se igualar a economia bizantina até o final da Idade Média. Constantinopla foi o eixo principal em uma rede de comércio que por diversas vezes estendia-se em quase toda a Eurásia e África do Norte, em especial, sendo o principal terminal oeste da famosa Rota da Seda. Alguns estudiosos afirmam que, até a chegada dos árabes no século VII, o império tinha a economia mais poderosa do mundo. As conquistar árabes, no entanto, representariam uma reversão significativa da fortuna que contribuiu para um período de declínio e estagnação. As reformas de Constantino V (765) marcaram o início de um renascimento que perdurou até 1204. A partir do século X até o final do século XII, o império bizantino projetou uma imagem de luxo, e os viajantes ficaram impressionados com a riqueza acumulada na capital. Tudo isso mudou com a chegada da Quarta Cruzada, que foi uma catástrofe econômica.[185] Os Paleólogos tentaram reanimar a economia, mas o Estado bizantino tardio não iria ganhar controle completo, quer dos estrangeiros ou da força econômica doméstica. Gradualmente, ele também perdeu a sua influência sobre as modalidades do comércio e os mecanismo de preço, e seu controle sobre a saída de metais preciosos e, de acordo com alguns estudiosos, até mesmo sobre a cunhagem de moeda.[186]
Uma das bases econômicas do império era o comércio. Têxteis devem ter sido de longo os itens mais importantes da exportação; sedas certamente foram importadas para o Egito, e apareceram também na Bulgária e no Ocidente.[187] O estado controlava rigorosamente tanto o mercado interno como o comércio internacional, e manteve monopólio da emissão de moedas. O governo exercia um controle formal sobre as taxas de juros, e definia os parâmetros para a atividade das guildas e corporações, onde tinha um interesse pessoal. O imperador e seus oficiais intervieram em momentos de crise para garantir o abastecimento da capital, e para manter o baixo preço dos cereais. Finalmente, o governo muitas vezes coletava parte do excedente através de impostos, e colocava novamente em circulação, por meio de redistribuição sob a forma de salários aos funcionários do Estado, ou sob a forma de investimentos em obras públicas.[188]
Outros produtos comercializados eram: escravos, joias, perfumes, âmbar, especiarias (cravo, pimenta-do-reino, mostarda), peles, porcelanas, armas, imagens religiosas, marfim, objetos de ouro, trigo, papiros, pedras preciosas, azeite, azeitonas, vinho e ornamentos.[182][189][190]

Sociedade

A sociedade urbana bizantina era dividida em três grandes camadas: a classe rica, a classe intermediária e a classe pobre. A classe rica era composta por membros da corte, grandes comerciantes, banqueiros, donos de oficinas manufatureiras, alto clero e funcionários destacados que consumiam os produtos de luxos produzidos ou importados. A classe intermediária era composta por artesãos (que trabalhavam em corporações de ofícios, que eram formadas por artesão de mesmo ramo, como carpinteiros, tecelagem ou sapataria), funcionários de médio e baixo escalão e pequenos comerciantes. E a classe pobre era composta por funcionários das manufaturas, servos e escravos.[182][190][191]
No campo havia pequenas propriedades agrícolas formadas por pequenas aldeias e vilas, na medida em que havia também os latifúndios dos mosteiros, altos funcionários (assim como militares)[182][190][191] e os chamados dínatas que são aqueles que recebiam os latifúndios por meio de herança.[6]
Segundo as tradições bizantinas os casamentos eram arranjados pelos pais dos noivos que tinham como intenção alianças familiares, dotes, etc. As meninas podiam casar aos 12 e os meninos aos 14. O homem precisava de bens equivalentes ao dote da mulher. Os casamentos imperiais eram arranjados pelos alto funcionários do palácio que traziam pretendentes de todo o reino para os principes escolherem.[86]

Vestuário bizantino

Trajes de Justiniano I e seu séquito
Os bizantinos da classe alta vestiam túnicas bem decoradas. Tais túnicas eram feitas de seda e fiapos de ouro, e usavam pérolas e pedras preciosas como decorações.[192] Pessoas de classes mais baixas vestiam túnicas simples. Os imperadores e pessoas da corte usavam também um tipo de manta sobre suas túnicas. Posteriormente, o imperador e a imperatriz passaram a usar um longo tecido em volta dos seus pescoços, como um cachecol, e nobres passaram a usar longas e firmes meia-calças.
Pessoas de classes inferiores vestiam túnicas simples e mantos retangulares. Posterior e lentamente, tais foram substituídas por roupas feitas de acordo com as medidas de cada pessoa. A túnica das mulheres desenvolveu-se num vestido que era firmemente atado na parte superior do corpo. Os homens passaram a usar mangas por baixo de suas túnicas e meias.

Ciências, medicina e lei

O frontispício de Vienna Dioscurides, que mostra um grupo de sete médicos famosos
Os escritos da Antiguidade Clássica nunca deixaram de ser cultivados em Bizâncio. Portanto, a ciência bizantina foi em cada período uma ligação estreita com a filosofia antiga (principalmente Platão e Aristóteles)[193] e com a metafísica.[194] Embora em vários momentos os bizantinos fizeram magníficas conquistas na aplicação das ciências (notavelmente na construção de Hagia Sophia), a partir do século VI eruditos bizantinos fizeram poucas novas contribuições para a ciência em termos de desenvolvimento de novas teorias ou no estender de autores clássicos.[195][196] Conhecimentos particulares foram retardados durante os anos sombrios da praga e das conquistas árabes, mas, em seguida, durante o chamado Renascimento Bizantino no final do primeiro milênio os estudiosos bizantinos reafirmaram-se como especialistas em desenvolvimentos científicos dos árabes e persas, especialmente na astronomia e matemática.[197]
No último século do império, gramáticos bizantinos foram os principais responsáveis pela execução, pessoalmente e por escrito, de estudos gramaticais e literários do grego antigo para o início da Renascença italiana.[198] Durante este período, a astronomia e outras ciências matemáticas eram ensinadas em Trebizonda; medicina atraiu o interesse de quase todos os estudiosos.[199]
No império bizantino houve uma nítida preocupação pela conhecimento. A dita Apaideusia, falta de cultura mental, ou conhecimento, era motivo para ridiculazização e zombaria. Durante a vida acadêmica os meninos aprendiam gramática (leitura, escrita e critíca a obras clássicas, especialmente Homero), retórica (correção da pronúncia e estudo de autores), filosofia, arte, aritmética, geometria, música, astronomia, direito, medicina, física e ainda possuiam uma educação religiosa. Não houve menção quanto a educação feminina mas supõe-se que ao menos, as meninas de classes abastadas, recebiam, em parte, a mesma educação dos meninos, enquanto que nas classes aprendiam geralmente apenas a ler e escrever.[200]
No campo do direito, as reformas de Justiniano I tiveram um efeito claro sobre a evolução da jurisprudência e a Ecloga de Leão III influenciou a formação das instituições jurídicas do mundo eslavo.[201]

Literatura bizantina

Os bizantinos tiveram interesse na literatura clássica, especialmente para a poesia lírica e/ou satírica.[193]
Na literatura bizantina, quatro diferentes elementos culturais podem ser reconhecidos: os gregos, os cristãos, os romanos e os orientais. A literatura bizantina é muitas vezes classificada em cinco grupos: historiadores e analistas, enciclopedistas e ensaístas e escritores de poesia secular (a única verdadeira epopeia heróica dos bizantinos é o Digenis Akritis). Os outros dois grupos são: literários eclesiásticos e teológicos e escritores de poesia popular. Dos cerca de três mil volumes da literatura bizantina que sobrevivem, apenas trezentos e trinta consistem de poesia secular, história, ciência e pseudo-ciência.[202] Na literatura religiosa bizantina (sermões, livros litúrgicos e poesia, teologia, tratados devocionais etc.), Romano, o Melodista foi seu representante mais proeminente.[203]
A língua literária clássica teve uma grande influência na literatura bizantina até o século VI, no entanto a partir deste momento, quando o império havia entrado em um período de declínio decorrente de crises econômicas e dos ataques constantes de árabes e depois de búlgaros, a língua clássica declinou. Durante os séculos IX e século X, durante o chamada Renascimento Bizantino da Dinastia Macedônica, ocorreu a recriação da cultura helênico-cristã da antiguidade clássica, na medida em que a língua popular deixou de ser utilizada e a hagiografia (biografia de santos) foi escrita em língua e estilo clássico. Durante o Renascimento do século XII novos gêneros literários foram desenvolvidos com ênfase no romance de ficção e a sátira.[204] No entanto, durante o período entre a Quarta Cruzada (1204) e a Queda de Constantinopla (1453) houve um novo ressurgimento da literatura clássica.
A poesia não litúrgica bizantina foi escrita em métrica e estilo clássicos. Do período entre o século VII e o século X os trímetros jâmbicos tornaram-se predominantes perpetuando uma característica poética até fim do império e serviram para narrativas, epigramas, romances, sátiras e instruções religiosas e morais. No século XI, o verso de 15 sílabas começou a ser utilizado tornando-se a poesia da corte no século XII. Houve poemas que foram imitados do Ocidente.[204]
A poesia litúrgica foi composta desde os primórdios de canções e pequenas estrofes rítmicas, a troparia. No século VI, a troparia foi substituída pela kontakia, composta de uma série de até 22 estrofes, construídos com o mesmo padrão rítmico e terminados com um refrão rítmico. Era uma homilia que contava um evento bíblico ou a história de um santo. No século VII foi substituído por um tipo de poema mais longo, o kanon, que eram hinos de louvor.[204]
Até ao século VII a historiografia foi escrita e estilo clássico, com falas fictícias e trechos descritivos do ambiente. Após este período a estilo clássico foi extinto retornando apenas durante o século IX, onde houve um interesse pelo personagem humano e nas causas dos eventos. Também foram escritas, dentro do ramo da historiografia, crônicas do mundo.[204]

Religião

A sobrevivência do império romano do oriente garantiu um papel ativo do imperador em assuntos da Igreja. O Estado bizantino herdou dos tempos pagãos a rotina financeira de administrar assuntos religiosos, e essa rotina foi aplicada à Igreja Cristã. Segundo o padrão estabelecido por Eusébio de Cesareia, os bizantinos viam o imperador como um representando ou mensageiro de Cristo, responsável em particular para a propagação do cristianismo entre os pagãos, e para o campos externos à religião, como administração e finanças. O papel imperial, no entanto, nos assuntos da Igreja nunca se desenvolveu em um sistema fixo legalmente definido.[205] A busca pela unificação das crenças, costumes e ritos de todo o império e a hierarquia eclesial são dois fatores essenciais que causaram a legitimação do poder do imperador assim como a centralização do Estado.[206]
O cristianismo nunca foi totalmente unido e os cristãos no Império Bizantino foram diversos ao longo da história do império. A igreja oficial do Império Romano do Oriente, que veio a ser conhecida como a Igreja Ortodoxa, nunca representou todos os cristãos do império. O nestorianismo, uma visão promovida por Nestório, que foi um patriarca de Constantinopla do século V, separou a Igreja imperial levando ao que é hoje a Igreja Assíria do Oriente. Outra cisma do século V ocorreu em torno de Eutiques que fundamentou a doutrina monofisista que afirma que Cristo possuía apenas a natureza divina, negando a natureza humana, como era afirmado pela Igreja Católica Romana.[207] Em um cisma maior durante o século VI, igrejas ortodoxas orientais se separaram da Igreja imperial sobre as declarações do Concílio de Calcedônia. Além dessas comunhões, o arianismo e outras seitas cristãs existiam no início do império, embora no momento da queda de Roma no século V o arianismo foi confinado na maior parte dos povos germânicos da Europa Ocidental. Nos estágios finais do império, no entanto, a Ortodoxia Oriental representava a maioria dos cristãos no que restava do império. Os judeus foram uma minoria significativa do império por toda a sua história. Apesar dos períodos de perseguição, eles foram geralmente tolerados, se não sempre abraçados, durante mais períodos. A partir do ano 70, foram sujeitos a um imposto especial, que pode ter existido na Idade Média. Também havia na sociedade bizantina aqueles que se negavam a se desligarem de práticas pagãs. Haviam carnavais ligados ao culto de Dioniso, que nas sociedades cristãs medievais foi equiparado aos demônios que inspiravam o riso e a embriaguez.[208]
Com o declínio de Roma, e dissensões internas nos outros Patriarcados do Oriente, a Igreja de Constantinopla tornou-se entre os séculos VI e XI, o centro mais rico e influente da cristandade.[209] Mesmo quando o império foi reduzido para apenas uma sombra de seu alto anterior, a Igreja, como instituição, nunca exerceu tanta influência dentro e fora das fronteiras. Como George Ostrogorsky aponta:
"O Patriarcado de Constantinopla permaneceu o centro do mundo ortodoxo, com sedes metropolitanas subordinadas e arcebispados no território da Ásia Menor e nos Bálcãs, agora perdeu a Bizâncio, assim como no Cáucaso, Rússia e Lituânia. A igreja continua a ser o elemento mais estável do Império Bizantino."[210]

Arte bizantina

Miniatura do século VI dos Evangelhos de Rábula que mostra a natureza mais abstrata e simbólica da arte bizantina
Arte bizantina é quase inteiramente preocupada com a expressão religiosa e, mais especificamente, com a tradução impessoal de teologia da igreja cuidadosamente controlada em termos artísticos. Formas bizantinas forma espalhadas pelo comércio e conquista da Itália e Sicília, onde eles persistiram em formas modificadas ao longo do século XII, e tornou-se uma influência formativa sobre a arte da Renascença italiana. Por meio da expansão da Igreja Ortodoxa Oriental, as formas bizantinas se espalharam para os centros europeus do leste, nomeadamente o Império Russo.[211] Influências da arquitetura bizantina, em particular nos edifícios religiosos, podem ser encontradas em diversas regiões do Egito e da Arábia para a Rússia e Romênia.
Uma das característica da arte bizantina são os mosaicos, que consistem em inúmeros pedaços de pedra e vidro coloridos, e recobertos por ouro em folha.[190][212] Apresentavam figuras de animais, plantas, dos imperadores ou cenas bíblicas. Outra característica da arte bizantina foram os ícones, que são representações sacras pintadas sobre um painel de madeira.[193]
A expressão artística do período influenciou também a arquitectura das igrejas. Elas eram planeadas sobre uma base circular, octogonal ou quadrada rematada por diversas cúpulas, criando-se edifícios de grandes dimensões, espaçosos e profusamente decorados. A escultura foi representada apenas por poucos baixos-relevos.

Jardins bizantinos

Os jardins bizantinos foram amplamente baseados em ideias romanas enfatizando elaborar desenhos de mosaico, uma característica tipicamente clássica de árvores dispostas ordenadamente, assim como estruturas feitas pelo homem, tais como fontes e pequenos santuários, que gradualmente cresceram para se tornarem mais elaborados conforme o tempo avançava. Os jardins bizantinos desenvolveram um estilo distinto, no entanto, com base Oriental, e em particular nas influências islâmicas do período a partir do Oriente Próximo e África do Norte. Alguns elementos de influência árabe, são um pouco tangíveis, especialmente em matéria de design das fontes referidas, mas também jardins persas tiveram uma influência distinta, destacando um tema comum na cultura bizantina, a do choque de cores.

Música e dança bizantina

Davi tocando a harpa
A música tradicional bizantina está associada ao cântico sagrado medieval das Igrejas que seguiam o rito constantinopolitano. A identificação da "música bizantina" como "canto litúrgico cristão do oriente" é um equivoco devido a razões histórico-culturais. Sua principal causa é o papel principal da Igreja, como portadora do conhecimento cultural oficial do Império Romano do Oriente, um fenômeno que nem sempre foi extremo, mas que foi agravado no período final do império (a partir do século XIV) como grandes eruditos seculares migraram para as crescidas cidades do Ocidente à época da Queda de Constantinopla, trazendo consigo grande parte da aprendizagem que estimulou o desenvolvimento do Renascimento europeu. O encolhimento da cultura oficial grega em torno de um núcleo da Igreja era ainda mais acentuado pela força política, quando a cultura oficial da corte mudou depois da captura de Constantinopla pelo Império Otomano em 29 de maio de 1453.
A música bizantina incluiu uma rica tradição de música instrumental da corte e dança. A música bizantina é composta de textos gregos para festas, cerimônias, ou músicas da Igreja. Os historiadores gregos e estrangeiros concordam que os tons eclesiásticos e, em geral, todo o sistema de música bizantina está intimamente relacionada com o antigo sistema grego.[213] Continua a ser o mais antigo gênero de música existente, do qual a forma de atuação e (com o aumento da precisão a partir do século V) os nomes dos compositores, e às vezes as indicações das circunstâncias de cada obra musical, são conhecidos.
Um exemplo de dança bizantina do manuscrito Saltério de Paris
O desenvolvimento em larga escala de formas hinográficas iniciou-se no século V com o surgimento do kontakion, um sermão longo e metricamente elaborado, que encontra seu ponto alto no trabalho de Romano, o Melodista (século VI). Heirmoi em estilo silábico estão reunidas no Heirmologion, um grosso volume que apareceu pela primeira vez no meio do século X e contém mais de mil modelos de troparia arranjados em um oktoechos (o sistema musical de oito modos).
Um geógrafo persa do século IX (Ibn Khordadbeh) identificou o uso de urghun (órgão), shilyani (provavelmente um tipo de harpa ou lira) salandj e a lyra curvada (lira), um instrumento similar ao rebab árabe. Um exemplo característico são as contas de órgãos pneumáticos, cuja construção foi mais avançada no império oriental antes de seu desenvolvimento no Ocidente após o Renascimento.
As danças aprovadas pela Igreja eram danças de grupo, normalmente procissões ou círculos em que os homens, separados das mulheres, realizavam solenes movimentos decoros no temor a Deus. Havia dança de mulheres na Páscoa, danças noturnas satíricas disfarçadas nas Calendas e danças para bandas itinerantes de jovens na Roussalia. Havia certamente danças em casamentos, tabernas e nos banquetes assim como houve espetáculos de danças encenadas no teatro. Em Constantinopla, eventos importantes foram comemorados com grandes bailes públicos.
Embora haja pouca informação sobre a dança bizantina, sabe-se que muitas vezes ela era entrelaçada. O líder da dança foi chamado de koryphaios (κορυφαίος) ou chorolektes (χορολέκτης) e foi ele quem começou a música e se certificou de que o círculo foi mantido.

Culinária bizantina

A cozinha bizantina foi marcada por uma fusão da gastronomia grega e romana. O desenvolvimento do império bizantino e do comércio trouxe especiarias, açúcar e produtos hortícolas novos para a Grécia. Os cozinheiros experimentaram novas combinações de alimentos, criando dois estilos no processo. Estes foram o do Oriente (Ásia Menor e Egeu Oriental), composto pela cozinha bizantina complementada por itens comerciais, e um estilo mais enxuto baseado principalmente na tradição grega local. Graças a localização de Constantinopla entre as rotas de comércio popular, a cozinha bizantina recebeu influências culturais de várias localidades, tais como da Reino Lombardo, o Império Sassânida e o emergente império árabe.
O consumo de alimentos foi baseado em torno da classe social. O palácio imperial foi uma metrópole de temperos e receitas exóticas; convidados foram brindados com frutas, bolos de mel e doces xaroposos. A alimentação das pessoas comuns foi mais conservadora. A dieta principal era composta de pães, legumes, leguminosas, cereais preparados de formas variadas. Salada era muito popular. Produziam diversos tipos de queijo e faziam a famosa omelete. Eles também apreciavam mariscos e peixes, de água doce e água salgada. Cada família também mantinha um estoque de aves na copeira. Eles também consumiam outros tipos de carne que eles caçavam. Para a caça, eram utilizados cães e falcões, embora, por vezes, posse empregado armadilhas e redes. Animais maiores foram uma alimento mais caro e raro. Os cidadãos abatiam os suínos no inicio do inverno, e forneciam para suas famílias linguiça, carne de porco, sal e banha de porco para o ano. Apenas as classes mais abastadas comiam cordeiro. Eles raramente comiam bovinos por os utilizavam para cultivar os campos. A forma mais comum de preparo dos alimentos era fervendo. O molho garum em todas as suas variedades foi especialmente favorecido como condimento.
A Macedônia foi conhecida pelos seus vinhos, servidos para os bizantinos de alta classe. Durante as Cruzadas e depois, os europeus ocidentais valorizaram caros vinhos gregos. O Cristianismo Ortodoxo estava intimamente associado ao consumo do vinho.

Governo e burocracia

No estado bizantino, o imperador se tornou o governante único e absoluto, e seu poder foi considerado como tendo origem divina. O Senado deixou de ter real autoridade política e legislativa, mas permaneceu como um conselho honorário com membros titulares. Até o final do século VIII, uma administração civil focada na corte foi formada como parte de uma consolidação em grande escala do poder na capital (o aumento e a proeminência da posição do sakellarios está relacionada a esta mudança).[214][215] O mais importante desse período é a criação das themas, onde a administração civil e militar é exercito por uma pessoa, o strategos.[30]
Themata, em 650
Themata em 950
Apesar do uso ocasionalmente depreciativo da palavra "bizantina", a burocracia bizantina tinha uma capacidade especial para se reinventar, de acordo com a situação do império. Funcionários foram dispostos em ordem rigorosa em torno do imperador, e dependiam da vontade imperial para sua classificação. Havia também reais empregos administrativos, mas a autoridade pode ser atribuída a indivíduos ao invés de escritórios.[216] Nos séculos VIII e IX, o serviço civil constituiu o mais claro caminho para o status aristocrático, mas, a partir do século IX, a aristocracia civil foi rivalizada por uma aristocracia da nobreza. Segundos alguns estudos do governo bizantino, a política do século XI foi dominada pela concorrência entre os civis e a aristocracia militar. Durante este período, Aleixo I empreendeu importantes reformas administrativas, incluindo a criação de novas honras e serviços.[217]

Diplomacia bizantina

Após a queda do Império Romano, o principal desafio para o Império Bizantino foi a de manter um conjunto de relações entre si e os seus vizinhos. Quando essas nações começaram a forjar instituições políticas formais, muitas vezes estas foram baseadas nas de Constantinopla. A diplomacia bizantina logo conseguiu atrair os seus vizinhos em uma rede de relações internacionais inter-estatais.[218] Esta rede girava em torno de tratados, que incluiam o acolhimento do novo governante para a família dos reis, e a assimilação bizantina de atitudes sociais, valores e instituições.[219] Considerando que escritores clássicos gostam de fazer as distinções éticas e legais entre a paz e a guerra, os bizantinos consideravam a diplomacia como uma forma de guerra alternativa. Por exemplo, uma ameaça búlgara poderia ser combatida, fornecendo dinheiro para os Rus' de Kiev.[220] A Igreja Ortodoxa também manteve uma função diplomática, e a propagação do cristianismo ortodoxo, foi um objetivo diplomático importante do império.
A diplomacia na época era entendida como tendo uma função de recolha de informações no topo de sua função puramente política. A Secretaria dos Bárbaros de Constantinopla lidava com questões de protocolo e registro de todas as questões que tratavam de "bárbaros" e, portanto, tinha, talvez, uma função de inteligência básica em si.[221] J. B. Bury acredita que o gabinete exercia a supervisão sobre todos os estrangeiros que visitavam Constantinopla, e que eles estavam sob a supervisão do Logothetes tou dromou.[222] Houve um protocolo no escritório – sua missão principal era garantir que enviados estrangeiros fossem adequadamente tratados e recebessem fundos suficientes do Estado para sua manutenção, e fossem mantidos tradutores oficiais – tendo claramente uma função de segurança. Em relação à estratégia, a partir do século VI, oferece conselhos sobre embaixadas estrangeiras: "[enviados] que não são enviados devem ser recebidos com honra e generosidade, para todos possuírem representantes em alta estima. Seus assistentes, no entanto, devem ser mantidos sob vigilância para serem obtidas todas as informações por meio de perguntas do nosso povo".[223]
Os bizantinos recorreram a uma série de práticas diplomáticas. Por exemplo, as embaixadas da capital, muitas vezes costumavam permanecer por anos. Membros de outras casas reais eram rotineiramente convidados a ficar em Constantinopla, não só como potenciais reféns , mas também como peões úteis, caso as condições políticas de onde viessem mudassem. Outra prática fundamental era surpreender os visitantes, por exposições suntuosas.[218] De acordo com Dimitri Obolensky, a preservação da civilização na Europa Oriental foi devido à habilidade e desenvoltura da diplomacia bizantina, que foi uma das grandes contribuições de bizâncio para a história da Europa.[224]

Exército e marinha bizantina

O exército bizantino foi o principal órgão militar das forças armadas bizantinas, servindo junto a marinha bizantina. Um descendente direto do exército romano, o exército bizantino manteve o mesmo nível de disciplina, talento estratégico e organização. Ele estava entre os exércitos mais eficientes da Eurásia Ocidental por boa parte da Idade Média.
A característica principal do exército do Império Romano foram os legionários, soldados de elite que foram extintos do exército bizantino a favor da cavalaria pesada no século VII. Do século VII ao século XII, o exército bizantino estava entre as forças militares mais poderosas e eficazes.
Mapa das principais operações bizantino-muçulmanas e batalhas no Mediterrâneo dos séculos VII ao XI
A marinha bizantina desenvolveu-se diretamente de sua contraparte romana anterior, mas em comparação com seu antecessor desempenhou um papel muito maior na defesa e sobrevivência do Estado. Enquanto as frotas do Império Romano enfrentaram algumas grandes ameaças navais, operando como uma força policial muito inferior em poder e prestígio para as legiões, o mar era vital para a existência de Bizâncio, que muitos historiadores chamaram de "império marítimo".[225][226]
Durante o século VI o restabelecimento de uma frota permanente e a introdução da galera dromon marcam o momento em que a marinha bizantina começou a ganhar sua própria identidade característica. Esse processo seria favorecido com o início das conquistas árabes do século VII. O mediterrâneo tornou-se um campo de batalha entre as forças bizantinas e árabes. Nesta luta, as frotas bizantinas eram críticas, não só para a defesa dos bens longínquos do império em torno da bacia do Mediterrâneo, mas também na repulsa dos ataques marítimos contra a capital imperial de Constantinopla. Através da utilização do recém-criado "fogo grego", a marinha bizantina salvou Constantinopla de vários assédios e numerosos combates navais foram ganhos para os bizantinos.

Língua

O Saltério Mudil, o saltério completo mais antigo na língua copta (Museu Copta, Egito, Cairo Copta)
O idioma original do governo do império, que devia suas origens ao Império Romano, tinha sido o latim e este continuou a ser sua língua oficial, até o século VII, quando foi efetivamente mudado para o grego por Heráclio. Acadêmicos latinos rapidamente caíram em desuso entre as classes instruídas, embora a linguagem continuaria a ser pelo menos uma parte cerimonial da cultura do império, durante algum tempo.[227][228] Além disso, o latim vulgar continuou a ser uma língua minoritária no império entre as populações trácio-romanas o que deu origem a língua proto-romena.[229] Da mesma forma, na costa do Mar Adriático, outro vernáculo neolatino foi desenvolvido, e mais tarde daria origem a língua dalmática. Nas províncias do Mediterrâneo Ocidental, temporariamente adquiridas sob o reinado de Justiniano I, o latim (depois evoluiu para o italiano) continuou a ser usado como uma língua falada e na língua cultural.
Além da corte imperial, da administração e dos militares, o principal idioma utilizado nas províncias orientais romanas, mesmo antes do declínio do império do Ocidente sempre foi o grego, tendo sido falado na região durante séculos antes do latim.[230] Na verdade, no início da vida do Império Romano, o grego se tornou a língua comum da Igreja Cristã, a língua da erudição e das artes, e, em grande medida, a língua franca para o comércio entre as províncias e com outras nações.[231][232][233] A própria língua por um tempo ganhou uma natureza dual com a língua falada, Koiné, existindo ao lado de uma antiga língua literária com o Koiné, eventualmente, evoluiu para o dialeto padrão.[234]
Muitos outros idiomas existiam no império multiétnico, bem como, algumas destas receberam o status oficial limitado em suas províncias em vários momentos. Notadamente, no início da Idade Média, o siríaco e o aramaico tinham se tornado mais amplamente utilizados pelas classes educadas nas províncias do extremo oriente.[235][236] [237] Da mesma forma o copta, o armênio e o georgiano se tornaram significativas entre os educados em suas províncias,[238][239] e, posteriormente, fez o contato com línguas estrangeiras eslavas, valaco e línguas árabes importantes na esfera de influência do império.[240][241] [242]
Afora essas, uma vez que Constantinopla, era um centro comercial privilegiado na região do Mediterrâneo e além, praticamente todos os idiomas conhecidos da Idade Média foram falados no império, em algum momento, até mesmo o chinês.[243][244] À medida que o império entrou em seu declínio final, os cidadãos do império tornaram-se culturalmente homogêneos e à língua grega tornou-se parte integrante de sua identidade e sua religião.[245][246]

Calendário bizantino

Mosaico bizantino da criação de Adão (Catedral de Monreale)
O calendário bizantino, também "Era da Criação de Constantinopla", ou "Era do Mundo" foi o calendário usado pela Igreja Ortodoxa Oriental de 691-1728 no Patriarcado Ecumênico. Foi também o calendário oficial dos bizantinos de 988-1453, e na Rússia de 988-1700.
O calendário é baseado no Calendário juliano, exceto que o ano começa em 1 de setembro e o número de anos usado em uma época Anno Mundi derivam da versão Septuaginta da Bíblia. Foi colocado a data de criação em 5509 antes da Encarnação, e foi caracterizada por uma certa tendência que já tinha sido uma tradição entre os judeus e cristãos ao número dos anos desde a criação do mundo. Seu primeiro ano, a suposta data da criação, foi 1 de setembro de 5 509 a.C. a 31 de agosto de 5 508 a.C.

Legado

Rei Davi nas vestes de um imperador bizantino. Minuatura do Saltério de Paris
Como único estado estável de longo prazo na Europa durante a Idade Média, Bizâncio isolou da Europa Ocidental as forças emergentes do leste. Constantemente sob ataque, ele distanciou da Europa Ocidental os persas, árabes, turcos seljúcidas, e por um tempo, os otomanos. As guerras bizantino-árabes, por exemplo, são reconhecidas por alguns historiadores como sendo um fator chave por trás da ascensão de Carlos Magno, e um estímulo para o feudalismo e a auto-suficiência econômica.
Durante séculos, historiadores ocidentais usaram o termo bizantino e bizantinismo como palavras de decadência, política hipócrita e complexa burocracia, e não havia uma avaliação extremamente negativa da civilização bizantina e seu legado no sudeste da Europa.[247] Bizantinismo em geral foi definido como um corpo de ideias religiosas, políticas e filosóficas que funcionou ao contrário das do Ocidente. Nos séculos XX e XXI, contudo, os historiadores ocidentais tentam entender o império de uma forma mais equilibrada e precisa, incluindo suas influências sobre o Ocidente, e como resultado do caráter complexo da cultura bizantina recebendo mais atenção e um tratamento mais objetivo do que anteriormente.[248]
Se a existência do Antigo Império Romano (incluindo o Império Romano do Ocidente) e do Império Romano do Oriente/Império Bizantino é combinada, todo o império romano existiu por 1.480 anos. O predecessor do Império Romano, a República Romana, durou 482 anos, então alguma forma de Estado romano existiu continuamente durante 1962 anos, ou cerca de 100 gerações. E com a existência de 244 anos do Reino de Roma acrescentados, esse número seria 2206.

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