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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

HISTÓRIA DO JAPÃO Período Asuka

Período Asuka
 
Templo budista de Hōryū. Construído em meados do período Asuka por ordem do Príncipe Shotoku, representa o início da presença do budismo no Japão.
O período Asuka (飛鳥時代 Asuka jidai?) tem início com a introdução do budismo no Japão e termina no ano 552.[16] A introdução do budismo esteve na origem de uma série de conflitos por todo o país. Alguns membros da corte viram com bons olhos a sua difusão, ao considerar que a sua implementação poderia contribuir para a unidade nacional e facilitaria o estabelecimento de uma nova hierarquia religiosa sob a autoridade de uma divindade onipotente (Buda), ao contrário das centenas de kami de xintoístas. O conflito terminou com a vitória de Soga no Umako em 587 e o decreto do budismo como religião oficial por parte do príncipe Shotoku Taishi e da Imperatriz Suiko em 593. No entanto, o budismo não se chegou a sobrepor por completo ao xintoísmo e ambas as religiões coexistiram pacificamente ao longo da história do Japão.[17]
O príncipe Shotoku estabeleceu também um governo central. A corte financiou a construção de vários templos e palácios, inspirando-se em modelos arquitetónicos coreanos e chineses. O príncipe, admirador profundo da cultura destas nações, fomentou o recurso a caracteres chineses (que estão na origem dos Kanji), lançou bases para o desenvolvimento de códigos de conduta e ética de governo fundamentados no budismo (Constituição dos dezassete artigos, 604) e enviou inúmeras missões japonesas à China Imperial durante a dinastia Sui (600-618) com o intuito de estabelecer relações diplomáticas firmes.[18][19]
Em 602, o príncipe Kume liderou uma expedição à Coreia, acompanhado por cerca de 120 e 150 caciques locais (Kuni ni Miyatsuko). Cada um dos elementos foi escoltado por um exército pessoal, cujo tamanho dependia da riqueza de cada feudo. Estas tropas formaram o protótipo de um exército que viria a ser conhecido nos séculos posteriores como samurai.[15]
A arte deste período incorpora os temas de arte budista. Uma das obras mais notórias é o templo budista de Horyu-ji, encomendado pelo príncipe Shotoku no início do século XVII, sendo a mais antiga estrutura de madeira do mundo.[20]

Período Hakuho

Nakatomi no Kamatari, personagem decisiva no período Hakuhō ao contribuir para a derrota do clã Soga e para a criação das Reforma Taika e do Código Omi. Em virtude do seu trabalho recebeu o apelido Fujiwara.
Izanagi (direita) e Izanami (esquerda) criando o submundo. Pintura de Eitaku Kobayashi.
Após a morte do príncipe Shotoku em 621, surgiu dentro da corte um novo clã chamado Soga, que foi gradualmente tomando o controlo político, constituindo uma forte ameaça para o governo imperial.[21] Em 645, face à urgência da situação, o Príncipe Naka no Ōe (626-672) conjuntamente com outros membros, organizou um grupo que assassinou o líder do clã, Soga no Iruka, em plena audiência com a Imperatriz Kogyoku (Incidente de Isshi).[22] A imperatriz abdicou do trono em favor do seu segundo filho, o imperador Kōtoku (596-654), ao mesmo tempo que o clã Soga foi debelado. Em 646, o novo imperador, juntamente com Nakatomi no Kamatari e o príncipe Naka no Ōe, redigiu uma série de leis designadas de "Reformas Taika", com o propósito de fortalecer o poder central, as quais implementaram uma reforma agrária e reestruturaram a corte imperial segundo o modelo chinês da Dinastia Tang. A corte impulsionou ainda o envio de embaixadas e estudantes para a China a fim de assimilar aspectos culturais dessa região, afectando de forma radical a cultura e sociedades japonesas. A este período deu-se o nome de Hakuhō (白鳳文化 Hakuhō bunka?).[21][22]
Após as mortes do Imperador Kotoku (em 654) e da Imperatriz Kogyoku (que retomou o trono com o nome de Imperatriz Saimei, vindo a falecer em 661), o Príncipe Naka no Ōe assumiu o poder sob o nome de Imperador Tenji. Durante o seu reinado foram promulgados o primeiro ritsuryo (uma compilação de leis baseada na filosofia de Confúcio e em leis chinesas) e o Código Omi em 669. Nakatomi no Kamatari, que escreveu o código, foi recompensado pelo imperador Tenji, recebendo o sobrenome de Fujiwara, fundando posteriormente o clã Fujiwara.[23]
No ano 618 a dinastia Tang tomou o poder na China e aliou-se ao reino coreano de Silla com o propósito de atacar o reino de Paekche. Os japoneses enviaram três exércitos expedicionários (em 661, 662 e 663) em auxílio do reino de Paekche. Durante o conflito, o Japão sofreu uma das mais significativas derrotas na sua história antiga, perdendo cerca de 10 mil homens, um número significativo de barcos de grande porte e inúmeros cavalos de guerra. Receando uma invasão por parte da nova aliança entre Silla e a China, o Japão iniciou uma militarização progressiva. Em 670 foi ordenado um recenseamento demográfico tendo em vista o recrutamento de população para o exército Japonês e fortificada toda a costa norte de Kyushu, ao longo da qual se edificaram postos de vigia, e construídas torres de sinalização com fogueiras na costa das ilhas Tsushima e Iki.[24]
Após a morte do Imperador Tenji em 671, os seus dois sucessores disputaram o trono na Guerra Jinshin. Após a vitória do Imperador Tenmu em 684, este decretou que todos os elementos policiais civis e militares dominassem as artes marciais.[24] Em 702, os sucessores do Imperador Tenmu culminaram as reformas militares com o Código Taihō (大宝律令 Taihō-ritsuryō?) conseguindo assim a vantagem de um imenso e estável exército conforme o sistema chinês. Cada heishi (soldado japonês) era atribuído a um Gundan (regimento), durante uma determinada parte do ano, sendo que os restantes soldados dedicavam-se à agricultura. Os soldados estavam individualmente equipados com arcos, uma aljava e um par de espadas.[25]

Estabelecimento do sistema imperial

Durante o século VIII, os governantes do período Yamato ordenaram a sua inclusão nos mitos e lendas japoneses de forma a se legitimar perante a população.[13] Uma das mais importantes dessas lendas refere-se à origem do Japão, atribuída aos kami Izanagi e Izanami. Segundo a lenda, foi a partir destes dois que nasceram os três kami maiores: Amaterasu, deusa do sol e senhora dos céus; Susanoo, deus dos oceanos; e Tsukuyomi, o deus da escuridão e da lua.[26] Determinado dia, Amaterasu e Susanoo discutiram e, embriagado, Susanoo destruiu tudo à sua passagem. Amaterasu ficou tão assustada que se escondeu numa caverna, recusando-se a sair, tendo o mundo ficado privado de luz. Com o propósito de a fazer sair, um kami feminino, Ame-no-Uzume-no-Mikoto, realizou uma dança erótica acompanhada pelo regozijo da miríade dos deuses[27] reunidos em assembleia.[28] No momento em que Amaterasu perguntava o que tinha acontecido, revelaram-lhe a existência de uma kami mais poderosa, Ame-no-Uzume, que tinha pendurado um espelho numa árvore por forma a que Amaterasu ficasse atraída por ele. Lentamente foi-se aproximando do espelho que teriam colocado à sua frente.[27] A surpresa de ver o seu próprio reflexo[29] foi tão grande que Amaterasu ficou deslumbrada e algum tempo depois a luz voltou a iluminar a Terra.[30] Assim, o espelho Yata no Kagami fez parte da Regalia Imperial do Japão.[30]
O segundo elemento das três jóias da coroa japonesa é descrito posteriormente na mesma lenda. Susanoo foi banido pelos distúrbios que havia causado e, enquanto caminhava pelas terras de Izumo, ouviu uma cobra[31][32] de oito cabeças chamada Yamata no Orochi que atormentava os moradores locais. Susanoo assassinou a cobra embriagando-a com saque e de seguida cortando-lhe as cabeças. Na cauda da cobra, Susanoo encontrou uma espada e decidiu oferecer à sua irmã em sinal de paz. Esta espada é pois o segundo ícone das insígnias imperiais.[30]
A terceira e última insígnia é uma magatama (miçanga em forma de curva) que Amaterasu deu ao seu neto Ninigi-no-Mikoto quando este recebeu o cargo de governar o submundo. A jóia, por sua vez, foi entregue ao seu neto, o imperador Jimmu, o primeiro imperador do Japão.[30] Desta forma, subvencionados na crença popular, os governantes de Yamato legitimaram o processo pelo qual o Japão seria governado sob um sistema imperial, fortemente apoiado pela crença no xintoísmo.[30]

Período Nara

Daibutsu-den, dentro do complexo de Tōdai-ji. Este templo budista foi financiado pela corte Imperial durante o período Nara.
O período Nara (奈良時代 Nara-jidai?) teve origem em 710, quando a capital foi transferida para Heijō-kyō - próxima da província de Nara - prolongando-se até finais de 794, quando a capital foi novamente transferida para Heian-kyō, atual Quioto.[5] A nova capital foi inspirada em Changan, capital chinesa durante a dinastia Tang.[33][34] O governo financiou a construção de inúmeros templos na capital e na província, com o intuito de obter apoio religioso, o que também contribuiu para a implementação em definitivo do budismo e do confucionismo. A influência cultural chinesa tornou-se mais evidente, refletindo-se na literatura. São desta época os primeiros registos históricos compilados pela corte imperial - o Kojiki (712) e o Nihonshoki (720). Surge a poesia japonesa, o waka, e em 759 foi compilada a primeira coleção de poesia do Japão, o Man'yōshū.
No entanto, o sistema chinês não foi bem recebido pela sociedade japonesa. Entre a corte imperial era comum haver disputas entre os membros da família imperial, o clã fujiwara e os monges budistas. Fujiwara no Fuhito, filho de Kamatari e burocrata supremo dentro da corte, compilou o Código Yoro em 720, contudo a sua morte no mesmo ano gerou uma fragmentação de poderes entre os seus filhos, o que adiaria a publicação do código para 757. Esta mudança de poderes foi a fonte de conflitos entre o príncipe Nagaya e os quatro filhos de Fuhito (Muchimaro, Fusasaki, Maro e Umakai). Em 729, os quatro filhos do príncipe Fuhito acusaram falsamente Nagaya de corrupção tendo sido condenado à pena de morte, contudo acabou por cometer suicídio. Não obstante, os filhos de Fuhito morreram após um surto de varíola, atribuída a uma maldição lançada pelo príncipe antes de morrer. Isto fez com que o Imperador Shomu se transferisse para várias cidades, declaradas sucessivamente capitais do país entre 740 e 745.[35]
Após a abdicação do trono por parte do imperador Shomu em 749, o clero budista tomou o poder com o apoio da Imperatriz Koken que, apesar de ter abdicado do trono em 758, continuou a exercer controlo sobre a corte, favorecida por um importante monge chamado Dokyo ao qual outorgava poder político. Isso fez com que o clã Fujiwara e o imperador Junnin intentassem um golpe de estado em 764, tentativa esta falhada, provocando a deposição do imperador e a execução de Fujiwara no Nakamaro, líder da conspiração. A imperatriz retomou então o trono com o nome Imperatriz Shotoku, continuando com a permuta de poder para Dokyo, que chegou inclusive a ser nomeado por um oráculo como sucessor a imperador.[36] No entanto, a imperatriz morreu de varíola em 770 e Dokyo fugiu para o exílio, o que deu origem a alterações políticas profundas. Os monges budistas foram excluídos do governo e suspendidos os apoios governamentais à religião. As medidas impostas pelo imperador Konin (770-781) assim como pelo imperador Kanmu (781-806) fizeram com que a corte imperial abandonasse Nara, com o intuito de se afastar dos templos budistas. A corte foi então transferida para Nagaoka-kyō em 784, contudo foi novamente deslocada para a nova capital Heian-kyō ("Capital da Paz e Tranquilidade") em 794.[33][34]
Com o nascimento do estado unificado de Silla, a ameaça de uma invasão da Coreia contra o Japão desvaneceu-se, uma vez que a corte de Nara focou a sua atenção nos habitantes do nordeste de Honshu designados de emishi (蝦夷? "bárbaros"), com quem tiveram numerosas altercações. Em 774, uma grande revolta conhecida como a guerra dos trinta e oito anos eclodiu. Nela, os emishi empregaram um sistema de "guerra de guerrilhas" e o uso de uma espada com lâmina curva, que lhes conferia uma significante vantagem de combate - com um melhor desempenho rotativo, ao contrário da espada reta do exército da corte imperial de Nara, tornando-se assim mais eficiente. Em 796, com ajuda de Sakanoue no Tamuramaro, os emishi conseguiram a vitória sobre a corte imperial.[37] Sakanoue recebeu então o nome de Seii Taishōgun (征夷大将軍? "Grande General Apaziguador dos Bárbaros"),[38] expressão mais tarde empregue para designar o líder dos samurais.[39]
O sistema de recrutamento de camponeses terminou em 792, ao reconhecer que a principal força militar viera dos chefes e dos seus soldados e não dos camponeses que não possuíam a formação adequada e disciplina suficientes para os campos de batalha.[40]

Período Heian

Ilustração de uma cena do Genji Monogatari. Durante o período Heian a aristocracia foi o centro da cultura, política y sociedade japonesa.
O período Heian (平安時代 Heian jidai?) teve início com o estabelecimento da capital em 794 local que hoje é Quioto, e o seu fim está delimitado pela data do estabelecimento do primeiro shogunato na história do país - Shogunato Kamakura.

Consolidação da aristocracia

Neste período, a rede estatal chinesa foi modificada e adaptada às necessidades japonesas, dando origem a uma cultura própria e sofisticada.[33] Com o declínio do sistema burocrático dos códigos Taiko e Taiho, a instituição imperial foi fortalecida durante os primeiros anos do reinado do Imperador Kanmu. Contudo, depois da sua morte em 806, foi progressivamente desprezada a assimilação cultural com a China e em 838 deram-se como finalizadas as relações com a Dinastia Tang. Além disso, a partir da primeira metade do século IX, com o desaparecimento do antigo sistema político, começou um processo de adopção dos altos escalões do governo estabelecendo-se estreitos laços matrimoniais com a família imperial. Líderes do clã posicionaram-se de tal forma proeminente, que se tornaram regentes (Sesshō e Kanpaku) dos imperadores, enquanto que outros membros do clã Fujiwara conseguiram monopolizar altos cargos como o Conselho de Estado (Daijō-kan).[33][34] Os oficiais de gama média e baixa foram distribuídos hereditariamente por outros clãs aristocráticos.[33] Em finais do século X e começos do século XI, os Fujiwara governaram de facto o Japão sendo que apenas uma pequena percentagem de imperadores regeram por conta própria, uma vez que quando assumiam o trono, eram forçados pelos líderes do clã a abdicar do mesmo ainda muito jovens, cedendo assim as decisões administrativas aos regentes e ao Daijō-kan.[33]
O budismo esotérico das escolas de Tendai e Shingon tornou-se bastante popular durante este período, em que aristocratas procuravam a "salvação" através de cerimónias e rituais budistas nessas instituições. Até então mobilizada pela escrita chinesa, cultura japonesa sofreu um significativo aprimoramento, partindo primeiramente da corte imperial. O aperfeiçoamento literário foi expressivo com a criação do Kana, uma escrita silábica, que se ajustava com a fonética japonesa.[33] Novos géneros foram estabelecidos como o romance (monogatari), salientando-se o livro Genji Monogatari de Murasaki Shikibu, escrito por volta do ano 1000, seguindo-se pelos jornais, ensaios e outros documentos pessoais feitos por cortesãos como Makura no Soshi de Sei Shonagon, escrito também por volta do ano 1000.
Em 860 poderiam ser já vistas grande parte das características dos futuros samurais nos campos de batalha[41] - hábeis cavaleiros no uso do arco e flecha, bem como no uso de Katanas (sabre longo japonês)[41][42] Estes militares a cavalo possuíam total confiança do "Trono do Crisântemo" estando encarregues da segurança das cidades assim como nos confrontos contra as revoltas que se sucedessem.[41]
No entanto, o sistema público de terras que se estendia sobre as províncias, estava prestes a entrar em colapso, pelo que em inúmeros locais foram criadas terras privadas (Shoen), tendo sido utilizadas em primeira instância pela aristocracia e pelos grandes templos. Com a suspensão de registos familiares e a alocação de terras de cultivo no século X, os terrenos do estado foram integrados enquanto terrenos privados.[33] Os proprietários destes terrenos elegiam os clãs e camponeses locais como seus administradores, resultando assim na transferência do poder das terras a estes. Contudo, a existência de numerosas propriedades privadas reduziram significativamente os impostos, chegando ao ponto de que a própria família imperial se viu forçada a adquirir terras privadas para assegurar a renda das mesmas.[43]

[editar] Ascensão da classe samurai

Mon do clã Minamoto, um dos protagonistas do período Heian.
Mon do clã Taira, inimigos do clã Minamoto e um dos clãs mais importantes do período Heian.
O processo de descentralização sofrido pelo governo fez com que a administração local apresentasse dificuldades, resultando numa quebra da lei e ordem públicas.[33] Durante o século IX, o Japão sofreu uma grave crise económica e social como resultado de pragas e fomes acompanhadas pela má nutrição em massa, epidemias e aumento da mortalidade. Com isto, numerosos distúrbios, motins e revoltas começaram a surgir em inícios do século X. O governo tomou então a decisão de conceder amplos poderes aos governantes de cada região, sendo que estes passaram a ter permissão de recrutar tropas de combate, que faziam uso do sabre japonês (katana), de arqueiros e cavalaria, alistando ainda agricultores enquanto seus simpatizantes que atuavam contra as crescentes rebeliões conforme sua vontade.[43][44] Isto veio a conceder um enorme poder político a tais governadores. Foi durante este período que se documentou pela primeira vez a palavra "samurai", ou seja "aqueles que servem, isto num contexto puramente militar.[44]
O primeiro grande teste de equilíbrio sobre o sistema ocorreu no ano de 935 quando uma revolta contra o governo central de Quioto liderada pelo samurai Taira no Masakado, descendente do príncipe Takamochi, começou a tomar graves proporções. A princípio, a corte Heian considerou que o incidente que envolvia Masakado seria apenas uma revolta da localidade, até que este veio a auto-proclamar-se de "o novo imperador". Respondendo a tal situação, foi enviado um exército provincial para sufocar a sua revolta, originando na morte do líder por decapitação em 940.[44] A partir deste momento e dependendo da sua origem social, estes líderes de guerreiros começaram a definir uma aristocracia em cada região, sendo-lhes confiado o poder dominado então por um grupo elitista de guerreiros.[45]
Alguns aristocratas que não conseguiram cargos importantes no poder viram-se forçados a emigrar para outras províncias, assumindo a liderança sobre os guerreiros samurai do respectivo local. Um exemplo foram os clã Taira, Minamoto e Fujiwara que exerciam na capital. Estes possuíam guerreiros que os protegiam tal como nos templos budistas onde existiam monges armados (sohei) que guardavam defensivamente as suas próprias propriedades.[43] Minamoto no Yoriyoshi, viu-se envolvido num marcante conflito da época denominado de Guerra Zenkunen ou "guerra dos primeiros nove anos". Este conflito prolongou-se entre 1051 e 1062, tendo sido a primeira guerra que ocorreu no país desde a batalha contra os emishi.[46] A disputa começou quando Abe Yoritoki, descendente dos emishi e membro do clã Abe, não entregou os impostos à corte imperial sendo que Yoriyoshi teria sido enviado para resolver o problema pessoalmente.[46] Yoriyoshi e Yoritoki haviam chegado a uma solução pacificamente, contudo um conflito interno eclodiu no clã Abe e Yoritoki foi morto. Com este facto, foi declarado guerra entre Abe no Sadato, filho de Yoritoki, e Minamoto.[46] No entanto só em 1062 é que Yoriyoshi conseguiu vencer os Abe na batalha de Kuriyagawa tendo transportado a cabeça do rebelde até Quioto como sinal de vitória.[46] Minamoto no Yoshiie, filho de Yoriyoshi, combateu lado a lado com o seu pai durante todo o conflito, ganhando grande reputação pelas suas proezas militares. Isso valeu-lhe o apelido de Hachimantarō ou "o filho primogénito de Hachiman, o deus da guerra".[46]
Enquanto que a crise económica e a instabilidade política iam causando confrontações entre os clãs Fujiwara, Taira e Minamoto tanto dentro como fora da corte na segunda metade do século X, a família imperial restaurou o seu poder político com a ascensão ao trono do Imperador Go-Sanjo (1068 - 1073). Este impediu o clã Fujiwara sobre o controlo de decisões administrativas; regulou os shoen; decidiu implementar reformas económicas sobre os obsoletos ritsuryo; e estabeleceu um sistema monárquico designado de insei (governo enclaustrado), em que o governante nominal de todos os governos e unidades administrativas não possuía um poder prático, senão o de simplesmente articular todos os processos, sendo que apenas os conselheiros detinham o poder real. O imperador, ao momento de abdicar do trono, retirou-se para um templo budista, contudo manteve a posição de regente sobre o seu sucessor, preenchendo o vazio de poder que deixava o clã Fujiwara entre disputas internas e faccionárias. O seu sucessor, o Imperador Shirakawa (1073 - 1087) foi quem aplicou o sistema insei na sua máxima expressão ao governar enquanto imperador aposentado por mais de quarenta anos até 1129. Assim, Shirakawa governava sobre três imperadores que não passavam de títeres no governo.[47] O imperador Toba (1107 - 1123) havia também adoptado o sistema insei tendo administrado o país por mais de três décadas até à sua morte em 1156, mantendo sua influência sobre outros três imperadores.[48] Neste período houve, contudo, contradições entre o imperador reinante e o aposentado, dando lugar à autoridade militar para governar o país sobre a autoridade civil.
Em 1083 eclodiu novamente um conflito armado em que Minamoto estaria envolvido, agora na Guerra Gosannen que teve origem nas diferenças entre os líderes dos antigos dirigentes e aliados dos clãs Minamoto e Kiyowara. Depois de uma feroz batalha por três anos consecutivos, em que a corte se recusou a auxiliar o clã Minamoto, estes conseguiram, contudo, sair vitoriosos. Quando Yoshiie foi a Quioto com a finalidade de conseguir uma recompensa, a corte havia-se recusado, recriminando os impostos em atraso que o mesmo devia, dando assim início a um claro distanciamento entre a corte e Yoshiie. Enquanto isso, os seus rivais, os Taira, desfrutavam cada vez mais de uma boa relação com a corte imperial devido às suas façanhas na região oeste do país.[49] A rivalidade entre os clãs Minamoto e Taira foi-se intensificando e tornou-se cada vez mais evidente. Em 1156, depois da morte do imperador Toba, teve início um conflito entre os dois clãs, quando Minamoto no Yoshitomo se juntou a Taira no Kiyomori contra o seu pai Minamoto no Tameyoshi durante a revolta de Hogen. A batalha foi breve, resultando na execução de Tameyoshi no castigo com o desterro de Tametomo.[50] Esta revolta pôs em causa o poder do sistema insei quando Imperador Sutoku foi vencido pela decisão do Imperador Go-Shirakawa, sentenciando o destino final do clã Fujiwara que foi banido do poder. Assim, o domínio foi então monopolizado exclusivamente pelos clãs Taira e Minamoto.
Em 1159, houve outro confronto conhecido como revolução Heiji, onde Yoshitomo enfrentou Kiyomori. A superioridade do clã Taira foi tão significante que os membros do clã Minamoto fugiram tentando salvarem-se. Os Taira perseguiram-nos e Yoshimoto foi capturado e executado. Dos membros do grupo inicial da família Minamoto, restaram um número insignificante, tendo o clã sido aniquilado quase por completo.[51] Em 1167 Taira no Kiyomori recebeu do imperador o nome de Daijo Daijin (Primeiro Ministro), o qual constituía o mais alto posto que o imperador poderia conceder, tornando-se então o governante do país, sendo o primeiro governador militar da história do Japão.[51] Contudo, a aderência ao poder da parte de Kiyomori, entrou em conflito com o imperador Go-Shirakawa, que tentava desde 1158 exercer poder através do sistema insei, até que em 1177 o imperador planeou um golpe de estado que fracassou, o que resultou consequentemente no seu exílio, suprimindo o poder político deste. Kiyomori nomeou em 1178 como herdeiro ao trono o seu neto ainda criança, quem em 1180 assume o poder com o nome de imperador Antoku. Isto motivou a ira dos opositores do clã Taira iniciando portanto as Guerras Genpei.[51]

[editar] Guerras Genpei

Cena das Guerras Genpei (painel do século XVII).
As Guerras Genpei (源平合戦 Genpei kassen, Genpei gassen?) foram uma série de guerras civis que evolveram os clãs mais influentes da acção política do país, designadamente os clãs Taira e Minamoto. Estas guerras ocorreram entre 1180 e 1185.[52] Em 1180, instalaram-se no país duas revoluções independentes que envolveram duas gerações distintas do clã Minamoto. Uma das revoluções sucedeu-se em Quioto, a qual foi chefiada pelo veterano Minamoto no Yorimasa, a outra sucedeu-se na província de Izu comandada pelo jovem Minamoto no Yoritomo. Ambas as revoltas foram apaziguadas com relativa facilidade. Na província de Izu, Yoritomo foi forçado a fugir de Kanto, enquanto que em Quioto, Yorimasa foi vencido na batalha de Uji onde cometeu o seppuku antes de ser capturado.[53]
Durante dois anos, ambos os lados foram-se envolvendo em pequenos conflitos. Em 1183, os Taira decidiram enfrentar Minamoto no Yoshinaka, primo de Yoritomo. Depois de derrotar os Taira na batalha de Kurikara, Yoshinaka dirigiu-se com o seu exército para o local onde se encontrava Yoritomo. As tropas de Yoshinaka e Yoritomo estavam então envolvidas na batalha de Uji em 1184. Yoshinaka perdeu o confronto e tentou escapar, contudo havia sido capturado em Awazu onde foi decapitado. Com esta vitória, o corpo principal dos Minamoto focaram os seus esforços em derrotar os seus inimigos centrais, os Taira.[54] Yoshitsune dirigiu o seu exército ao encontro do clã em nome do seu irmão mais velho, Yoritomo, que permanecera em Kamakura. Por fim, Minamoto reivindicou a vitória na Batalha de Dan no Ura. Entretanto, Yoritomo ordenou que os seus homens perseguissem o seu irmão Minamoto no Yoshitsune, pois este era considerado como uma forte ameaça e essencialmente um rival. Yoshitsune foi derrotado e morto na batalha de Koromogawa em 1189.[55]

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