Medusa tinha poderes tão extraordinários que mesmo morta podia petrificar quem olhasse para sua cabeça. Uma mecha de seu cabelo afugentava qualquer exército invasor e seu sangue tinha o dom de matar e ressuscitar pessoas. Personagem da mitologia grega, Medusa era uma das três Górgonas, filhas das divindades marinhas Fórcis e Ceto.
Ao contrário de suas irmãs, Esteno e Euríale, Medusa era mortal. Temidas pelos homens e pelos deuses, as três habitavam o extremo Ocidente, junto ao país das Hespérides. Tinham serpentes em vez de cabelos, presas pontiagudas, mãos de bronze e asas de ouro. Perseu foi encarregado por Polidectes de decepar a cabeça da Medusa.
Para isso, o herói muniu-se de objetos mágicos, como sandálias aladas, para pairar acima dos monstros, e o escudo de bronze, cujo reflexo permitiu neutralizar o olhar petrificante. Com a espada dada pelo deus Hermes, Perseu decapitou Medusa e recolheu sua cabeça, que foi posta no escudo de Atena como proteção contra os inimigos.
Medusa
De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro, Perseu, o lendário fundador de Micenas, nunca teria nascido se seu avô tivesse conseguido seu intento. Acrísio, rei de Argos, era pai de uma linda filha, Dânae, mas estava desapontado por não ter um filho. Quando consultou o oráculo sobre a ausência de um herdeiro homem, recebeu a informação que não geraria um filho, mas com o passar do tempo teria um neto, cujo destino era matar o avô.Acrísio tomou medidas extremas para fugir deste destino. Trancou Dânae no topo de uma torre de bronze, e lá permaneceu numa total reclusão até o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro; assim deu à luz a Perseu.
Acrísio ficou furioso, mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado. Fez seu carpinteiro construir uma grande arca, dentro da qual Dânae foi forçada a entrar com seu bebê, sendo levados para o mar. Entretanto, conseguiram sobreviver às ondas, e após uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Sérifo, uma das ilhas das Ciclades. Dânae e Perseu foram encontrados e cuidados por um honesto pescador, Dictis, irmão do menos escrupuloso rei de Sérifo, Polidectes.
Com o passar do tempo, Polidectes apaixonou-se por Dânae, mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua mãe dos indesejados avanços do rei. Um dia, durante um banquete, Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava preparado a oferecer-lhe. Todos os outros prometeram cavalos, mas Perseu ofereceu-se a trazer a cabeça da górgone. Quando Polidectes o fez cumprir sua palavra, Perseu foi forçado a honrar sua oferta.
As górgones eram em número de três, monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes; duas eram imortais mas a terceira, Medusa, era mortal e assim potencialmente vulnerável; a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra. Felizmente, Hermes veio em sua ajuda, e mostrou a Perseu o caminho das Gréias, três velhas irmãs que compartilhavam um olho e um dente entre si. Instruído por Hermes, Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente, recusando-se a devolvê-los até que as Gréias mostrassem o caminho até as Ninfas, que lhe forneceriam os equipamentos que necessitava para lidar com Medusa.
As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridão que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa, botas aladas para facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeça imediatamente após a ter decepado. Hermes sacou uma faca em forma de foice, e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa. Com a ajuda de Atena, que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da górgone, ao invés de olhar diretamente para sua terrível face, conseguiu finalmente despachá-la. Acomodando a cabeça de modo seguro na sua bolsa, retornou rapidamente a Sérifo, auxiliado por suas botas aladas.
Ao sobrevoar a costa da Etiópia, Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha. Esta era Andrômeda, cuja fútil mãe Cassiopéia tinha incorrido na ira de Posídon ao espalhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Nereu. Para puni-la, Posídon enviou um monstro marinho para devastar o reino; apenas poderia ser parado se recebesse a oferenda da filha da rainha, Andrômeda, que foi assim colocada na orla marítima para esperar o terrível destino.
Perseu apaixonou-se imediatamente, matou o monstro marinho e libertou a princesa. Os pais dela, em júbilo, ofereceram Andrômeda como esposa a Perseu, e os dois seguiram na jornada para Sérifo. Polidectes não acreditava que Perseu pudesse retornar, e deve ter sido bastante gratificante para Perseu observar o tirano ficar lentamente petrificado sob o olhar da cabeça da górgone. Perseu deu então a cabeça a Atena, que a fixou como um emblema no centro de seu protetor peitoral.
Perseu, Dânae e Andrômeda seguiram então juntos para Argos, onde esperavam se reconciliar com o velho rei Acrísio. Mas quando Acrísio soube desta vinda, fugiu da presença ameaçadora de seu neto, indo para a Tessália, onde, não conhecendo um ao outro, Acrísio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fúnebres do rei de Larissa. Aqui a previsão do oráculo que Acrísio temia se realizou, pois Perseu atirou um disco, o qual se desviou do curso e atingiu Acrísio enquanto estava entre os espectadores, matando-o instantaneamente.
Perseu com sensibilidade decidiu que não seria muito popular voltar a Argos e reivindicar o trono de Acrísio logo após tê-lo morto; assim, ao invés, fez uma troca de reinos com seu primo Megapentes. Megapentes se dirigiu a Argos enquanto Perseu governou Tirinto, onde é considerado como responsável pelas fortificações de Midéia e Micenas.
Medusa, ser terrível, embora monstro, é considerada pelos gregos uma das divindades primordiais, pertencente a geração pré - olímpica. Só depois é tida como vítima da vingança de uma deusa. Uma das três górgonas, é a única que é mortal. Três irmãs monstruosas que possuíam cabeça com cabelos em forma de serpentes venenosas, presas de javali, mãos de bronze e asas de ouro. Seu olhar transformava em pedra aqueles que a fitavam. Como suas irmãs, Medusa representava as perversões.
Euríale, simbolizava o instinto sexual pervertido, Ésteno a perversão social e Medusa a pulsão evolutiva, a necessidade de crescer e evoluir, estagnada. Medusa também é símbolo da mulher rejeitada, e por sua rejeição incapaz de amar e ser amada, odeia os homens nas figura do deus que a viola e abandona e as mulheres, pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para ser monstro por culpa de um homem e de uma deusa. Medusa é a própria infelicidade`, seus filhos não são humanos, nem deuses, são monstros. Górgona, apavorante, terrível.
O mito de Medusa tem várias versões, mas os pontos principais refletem estas características acima. Como Midas ela não pode facilitar a proximidade, um transformava tudo em ouro com apenas um toque, ela é mais solitária mais trágica, não pode sequer olhar, pois tudo o que olha vira pedra, Medusa tira a vida, o movimento com um simples olhar, também não pode ser vista de frente, não se pode ter idéia de como ela é sem ficar paralisado, morrer.
Diz o mito que outrora Medusa fora uma belíssima donzela, orgulhosa de sua beleza, principalmente dos seus cabelos, que resolveu disputar o amor de Zeus com Minerva.
Esta enraivecida transformou-a em monstro, com cabelos de serpente. Outra versão diz que Zeus a teria seqüestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandonara, não perdoou tal ofensa, e o fim é o mesmo. Medusa é morta por Perseu, que também foi rejeitado e com sua mãe Danae trancado em uma arca e atirado ao mar, de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao rei Polidectes que o criou com sabedoria e bondade.
Quando Perseu ficou homem, Polidectes enviou-o para a trágica missão de destruir Medusa. Para isto receberia o auxílio dos deuses. Usando sandálias aladas pode pairar sobre as górgonas que dormiam. Usando um escudo mágico de metal polido, refletiu a imagem de Medusa como num espelho e decapitou-a com a espada de Hermes.
Do pescoço ensangüentado de Medusa saíram dois seres que foram gerados do conúbio com Poseidon. O gigante Crisaor e o cavalo Pégaso. O sangue que escorreu de Medusa foi recolhido por Perseu. Da veia esquerda saia um poderoso veneno, da veia direita um remédio capaz de ressuscitar os mortos. Ironicamente, trazia dentro de si o remédio da vida, mas sempre usou o veneno da morte.
" Três irmãs, três monstros, a cabeça aureolada de serpentes venenosas, presas de javalis, mãos de bronze asas de ouro: Medusa, Ésteno e Euríale. São símbolos do inimigo e se tem que combater. As deformações monstruosas da psiqué, consoante Chevalier e Gheebrant ( Dictionnaire des Symboles, Paris Robert Laffont, Júpiter, 1982) se devem as forças pervertidas das três pulsões: sociabilidade, sexualidade, espiritualidade" .(Brandão, ed. Vozes 1987).
Tenho observado em pacientes em terapia, alguns processos que remetem ao mito de Medusa. Estes relatam um sofrimento imenso devido a dificuldades em perceber a própria imagem. Quem sou eu?
A grande pergunta para qual toda a humanidade busca respostas. Para estas pessoas, como se tivessem uma imagem invertida refletida no espelho, a pergunta é o que eu não sou. Incapazes de mostrar uma imagem positiva, como os filhos monstros de Medusa, erram pela vida alinhando possibilidades para construir sua monstruosidade.
Estes filhos de Medusa, embora filhos de um deus, herdam da mãe a figura monstruosa a que se viu presa a bela Medusa. A duplicidade da Mãe os acompanha. Pégaso unido ao homem é o Centauro, monstro identificado com os instintos animalescos. Mas tambem é fonte, como seu nome simboliza, alado , é fonte de da imaginação criadora sublimada e sua elevação.
Temos em Pégaso os dois sentidos ,a fonte e as asas. Símbolo da inspiração poética representa a fecundidade e a criatividade espiritual. Pégaso talvez represente o lado belo de Medusa, que ficou escondido, que não podia ser visto, pois como vimos ela representava a pulsão espiritual estagnada. Pégaso é a espiritualidade em movimento. Crisaor é apenas um monstro, pai de outros monstros Gerião de três cabeças e Équidna. Équidina herda da avó o destino trágico. Seu corpo metade mulher, de lindas faces e belos olhos, tem na outra metade uma enorme serpente malhada, cruel . É a bela mulher de gênio violento. Incapaz de amar, devoradora de homens. Uma reedição de Medusa. Continuará a saga ancestral de odiar os homens e gerar monstros.
Com uma imagem distorcida, como dizíamos anteriormente, estes "filhos de Medusa" não podem ver-se a si mesmos como são, e sempre imaginam bem piores até mesmo do que poderiam ser.
Alguns autores como Melanie Klein e Alexander Lowen falam que a imagem de si se origina do olhar da mãe. A forma como a criança é olhada, é vista, o que ela percebe de rejeição ou aprovação é captado no olhar da mãe.
Os tristes filhos de Medusa não podem vê-la, tambem não podem ser vistos por ela. Esta mãe de mãos de bronze não pode acariciar, seu olhar paralisa, seus dentes de javali impedem que beije, mas quando poderia ser atingida pelo filho ela se torna divina, tem asas de ouro, é um alvo móvel. Medusa incorpora para estas personalidades de estrutura depressiva o mito da mãe divina, vista pelo seu filho como a santa mãe, não gera filhos felizes, apenas trágicos. Não pode ser mulher, é santa. A princípio como Jocasta, depositária da paixão do filho, Medusa não o ama, fazendo-o sentir-se torpr e culpado pelo seu amor incestuoso. Como recurso ele a santifica para continuar amando-a e justificando a sua rejeição como forma de protege-lo da sua própria torpeza.
Desprovida como santa de instinto sexual, não pode falar ao seu filho da sexualidade feminina, não pode dizer-lhe o que é uma mulher. Inacessível como santa, torna-se monstro. Monstro que é percebido pelo filho mas que se nega a ser visto como é. Medusa não olha, não acaricia, não orienta. Paralisa. Não é por acaso que o sentimento da depressão é a inércia, a perda da vitalidade. Como se tivessem transformados em pedra pelo olhar da mãe os filhos de Medusa erram pela vida sem espelhos que traduzam sua imagem. São monstros cuja criatividade afogada na pedra de suas almas precisa ser libertada. Precisam encontrar um espelho e que lhes diga quem são ou pelo menos quem não podem ser.
No trabalho terapêutico de pacientes com depressão, tenho observado que há uma enorme dificuldade em perceber a figura materna. Ela é idealizada a partir de perfis culturais que parecem não poder ser questionados. Frases como: "qual a mãe que não ama seus filhos?" ou "toda mãe é uma santa" traduzem a situação que impede a visão do real. São pessoas desprovidas de afeto, mas com uma enorme necessidade de carinho, que no entanto não suportam proximidade, de uma vez que não confiam em ninguém, pois não acreditam que podem ser amados. Sentem se monstros. Alguns mais adiante no processo chegam a perceber nitidamente que não foram amados, mas como se esquivando de perceber a profundidade dessa dor negam afirmando que isto é normal, diante da sua torpeza. Falam de mães ocupadas, falam de mães vaidosas ressentidas da perda da beleza com o nascimento do filho. Mas essas referências são quase superficiais.
Quando conseguem se aproximar da visão real dessa mãe de garras e mãos de bronze os sintomas se multiplicam, aumenta a depressão e com esta a paralisia, a inércia. Podem passar vários dias deitados, sem trabalhar ou realizar um mínimo de esforço. Ver Medusa é petrificar-se. Muitos desenvolvem sintomas de dor de cabeça, medo de doenças fatais como câncer, AIDS (doenças ligadas a amputação, decapitação, ao sangue, a sexualidade e sintomas de castração).
As fantasias de autopunição se multiplicam, relatam possibilidades de acidentes de automóvel ou com armas de fogo. Tem fantasias de traição com amigos ou companheiras. São pessoas trágicas. Todos relatam uma ausência de alegria, mesmo quando estão em ambientes alegres. Uma profunda inveja do prazer do outro os assola. Muitos perseguem a fantasia de resolver a falta com postos de poder e dinheiro. Aumenta a dor. O poder que tanto ansiaram ou o dinheiro que tudo resolveria aumentam a profundidade do abismo. Ter tudo e não sentir-se nada é muito mais terrível. O abismo se abre cada vez mais como as entranhas da mãe monstruosa. Restam- lhes fantasias suicidas. É preferível morrer a sentir-se monstro. Muitos realizam esta fantasia como ultima tentativa de atingir Medusa. Mas ela nada sentirá, seu ódio pelo homem que a violou transmite-se ao filho que gerou. Sua pior inimiga Minerva ( a deusa da inteligência), deixa-lhe como legado o ódio às mulheres.
Não pode dizer ao filho como lidar com elas, como gerar com elas novos filhos, amados ,sadios. Sua descendência, embora não precise ser deverá ser de monstros gerando outros monstros. Fala-se da hereditariedade da depressão. Penso que se houver é muito mais transmitida em gestos e pelo ambiente trágico e desprovido de prazer, em que estas novas crianças nascerão. Os filhos de Medusa não podem ter mulheres amorosas, isto a denunciaria. Raramente, quando encontram estas mulheres não podem confiar nelas e abortam assim a possibilidade de obter o amor que os revitalizaria.
Mas, apesar das dificuldades e das fantasias autopunitivas, Medusa pode ser vista. Através do espelho do terapeuta e deste como espelho, a figura de medusa pode ser vista. Se a relação terapêutica se dá de forma transferencial, amorosa, confiante, o espelho refletirá imagem de Medusa, como ela é. Incapaz de amar, cruel e terrível, górgona, apavorante. Como resultado o filho descobrirá que o monstro é ela, não ele. Da morte dela resulta sua vida, e como Pégaso ele ganha os céus, liberto, simbolizando a vitória da inteligência e sua união com a espiritualidade, a sensibilidade que sempre existiu naquele que se julgava o monstro. Como Pégaso, se não se aferrar ao seu aspecto de humano comum, em revoltas descabidas e em vinganças inúteis poderá compreender a tragédia de Medusa e perdoa-la. Não se transformará no monstro Centauro, identificado com o instintos animalescos e a sexualidade desregrada. Se incorporar Centauro errará pela vida sem pertencer a ninguém. Homem de muitas mulheres, mas sem nenhuma. Será monstro preso a sua mãe monstruosa. Incapaz de amar como ela. Se assumir sua condição de Pégaso, será fonte, de todas as belezas, da mais pura elevação, da criatividade, da fidelidade. Não é por acaso que Pégaso simboliza a Poesia.
As filhas de Medusa também apresentam como ela a impossibilidade de ser amada. São mulheres tristes de trágica figura, mesmo quando belas. Condenadas a serem crianças eternas presas as entranhas da mãe, não podem deixar de ser filhas-monstro, a não ser para poderem ser mães- monstro. Filhas da violação e do abandono (é assim que Medusa transmite a elas sua relação com os homens) são mulheres-meninas, incapazes de perceber o homem a não ser como brinquedo, ou como fonte de sofrimento. Unem-se quase sempre a homens cruéis que possam justificar a idéia da mãe da impossibilidade de ser feliz com um homem. Quando raramente encontram o amor, destroem-no destruindo o homem amado, como faz no mito Équidna, legítima herdeira de Medusa.. Mulheres de amores infelizes, herdam de Medusa as garras, as mãos de bronze, e as asas de ouro. Vítimas de novos abandonos reforçam em cada experiência infeliz a idéia da mãe.
Também possuem o olhar terrível. Das uniões infelizes geram filhos infelizes que carregam presos a si mesmas não por amor, mas pelo terror que podem gerar. Novas medusas. Se pela procura puderem chegar ao espelho, podem ser deusas, podem ser Pégasos, ou até mesmo Poesia uma das Musas; se não seguirão seus destinos de mulheres- crianças gerando filhos que não podem amar e que no máximo lhes servem de brinquedo para suas brincadeiras cruéis de paralisar e aterrorizar pessoas. Seguem a saga de Medusa. Mulher que se torna monstro, pelo descuido de homem, pela crueldade de uma deusa.
Mas e as mulheres Medusa? O que lhes resta?
O próprio mito nos mostra.
Perseu filho de Danae, mãe amorosa, que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terrível que ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto. Trancados em uma arca atirados ao mar são salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranqüila onde são recolhidos por um pescador e levados ao rei Polidectis, que o educa amorosamente como filho. Perseu é filho de mãe amorosa, que tudo perde para seguir seu filho. Que abandonada por um homem, o próprio pai, atirada à morte por ele não transforma isto em ódio a masculinidade. Perseu também. Seu abandono pelo avô e pelo pai que não o salva, é no entanto criado por um pai amoroso. Perseu e Danae o oposto de Medusa. Não permitiram que sua desgraça se transformasse em ressentimento para com a humanidade. Foram alcançados e salvos pelo amor humano. Ao contrário de Medusa, da qual ninguém pode se aproximar. Somente Perseu poderia destruir Medusa, ele pode ser visto exatamente como seu contrario no espelho, ela mulher, ele homem, ela ressentida, ele perdoando, ela sem possibilidade de resgate, ele salvo pelo amor da mãe que o acompanha, pelo cuidado de um deus e pelo amor de uma pai-rei. Tudo o que faltou a Medusa que precisa ser vista, no espelho, para poder ser destruída e libertar Pégaso. Medusa tem que ser compreendida alem do seu aspecto monstro, como mulher-criança, frívola, presa a beleza passageira, desafiando a grande deusa, a inteligência a quem desafia e a quem odeia. Para depois de morta servir a ela, Minerva, mesmo que seja como esfinge no seu escudo. Guiado pela inteligência e sabedoria de Minerva, que corrige o seu erro de ter criado um monstro, o olhar de Medusa agora é útil, tem aplicabilidade, destroi o inimigo. Já não mata os que ama.
Se a transferência não se realiza, se a relação terapêutica não se faz, e disse alguém que a terapia é uma função de amor, os filhos de Medusa verão no terapeuta a imagem dela e fugirão. Tudo estará perdido, o amor não poderá realizar seu resgate, e Medusa permanecerá eternamente viva destruindo e paralisando até que se destrua ou destrua seus filhos.
Medusa
Na mitologia grega, Medusa era a única mortal das três irmãs Górgonas.
As górgonas eram Medusa, Esteno e Euríale. Era filha de Fórcis e Ceto (sendo ambos divindades marinhas). Com o aspecto de uma bela mulher, mas que possuía serpentes no lugar de seus cabelos e transformava em pedra quem olhasse diretamente em seus olhos. Perseu foi o responsável pela sua morte, decapitando-a.
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